MAURÍCIO SABARÁ: Biriba, desde pequeno sua vida é dedicada ao tênis de mesa. Seu pai, o Sr. Hermínio Rodrigues da Costa, fundou o Esporte Clube Beira Mar em cima da sua padaria. Ele já praticava o esporte? O que te passou em seus primeiros treinos? Quantos anos você tinha?
URIBACI RODRIGUES DA COSTA (BIRIBA): Meu pai praticava ping-pong quando era jovem, depois quando tinha 40 anos resolveu fundar um clube de ping pong. Meu primeiro contato com o esporte quando estava sozinho joguei a bolinha nas nuvens. Eu tinha 6 anos de idade . Com 7 jogava entre os adultos na 3ª turma.
MS: Em seu tempo a expressão tênis de mesa já existia, ou se dizia que era mais ping pong?
BIRIBA: São duas coisas diferentes. Ping Pong é uma invenção brasileira, aquele que eu jogava, mais ou menos como o futebol de salão (futsal). Hoje praticamente não existe mais. Eu nunca mais vi. Dizem que jogam em alguns lugares. Agora os termos tênis de mesa e ping pong são usados mundialmente, no entretanto ping pong sempre tem uma conotação mais familiar, recreativa enquanto tênis de mesa é o esporte de alto rendimento. No entretanto são jogados como tênis de mesa e não como ping pong como conhecemos. Mundialmente tênis de mesa e ping pong é uma coisa só, mas usados como explicado acima...
MS: 1958 foi um ano mágico para o esporte brasileiro, quando o Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo no futebol. Mas na mesma temporada ocorreu aquele que talvez foi o maior momento da sua carreira, quando os japoneses Toshiaki Tanaka e Ichiro Ogimura vieram ao nosso país para exibições no Parque do Ibirapuera, conhecendo-o, um menino de apenas 13 anos, que se tornaria o mais precoce atleta brasileiro a alçar um topo alto no esporte. Conte como foram essas performances.
BIRIBA: No primeiro jogo com Tanaka perdi por 2x1. No segundo venci por 2x0 sendo os sets de 21x10 e 21x 10. No jargão esportivo dois capotes. Foi quando meu nome extrapolou o meio mesatenistico e tornou-se um nome nacional e internacional (Japão e China). Um dos três brasileiros mais conhecidos nesses dois países. Venci 4 vezes Tanaka (campeão mundial de adultos de então) e perdi 3. Com Ogimura vice mundial ganhei 1 e perdi 4. Ambos foram bi-campeões mundiais alternadamente.
MS: O que mudou pra você no tênis de mesa após esses famosos confrontos? Participou de mais competições?
BIRIBA: Tornei-me uma figura pública requisitada para muitos eventos sociais e esportivos. Participei de 3 sulamericanos e 3 mundiais. Sendo que no mundial da China, bati o campeão mundial chinês Yung-Kuo- Tuan em sua própria casa com 15 anos de idade. Recebi um telegrama do presidente da Republica do Brasil Janio da Silva Quadros (presidente de então).
MS: Quando se fala do primeiro grande nome do tênis de mesa no Brasil, seu nome sempre é o primeiro a ser comentado. Mas muitos desconhecem de dois grandes mesatenistas, que foram o Jaques Roth e o Betinho, parceiros seus. O que tem a dizer sobre eles?
BIRIBA: Meus ídolos e mestres. Aprendi muito com eles. Se cheguei a resultados significativos devo muito a eles que tinham um nível muito elevado. Grandes campeões. Jackes foi companheiro de duplas por muito tempo e Betinho maior ídolo na ocasião companheiro de equipe. Formamos a seleção paulista e brasileira por muito tempo e por serem 10 anos mais velho, eram os espelhos que eu me baseava.
MS: Quem eram seus principais adversários na época à nível nacional e internacional?
BIRIBA: A nível nacional Betinho, Jackes, Hirasaki, Ivan Severo, ete. O Brasil tinha uma safra boa de jogadores. Internacional asiáticos e europeus.
MS: Comente sobre a sua forma de jogar? O estilo caneta era o único da época ou já se jogava no estilo clássico de segurar a raquete?
BIRIBA: Caneta era o predominante. Principalmente porque muitos jogadores tinham como origem o ping-pong e lá todos jogavam caneteiro. E quem dominava o cenário mundial eram os chineses e japonese e eram quase que todos caneteiros. Quando a China abandonou o estilo caneteiro em 1989, e passou a jogar clássico influenciou o resto do mundo que passaram a jogar em sua maioria como clássicos.
MS: No início dos anos 60 você era considerado um dos principais esportistas do Brasil ao lado de Pelé (futebol), Wlamir Marques (basquete) e Maria Ester Bueno (tênis)? Quem eram os outros talentos do esporte nacional?
BIRIBA: Citaria Bruno Hermany (caça submarina), Eder Jofre (Boxe, Abilio Couto (recordista da travessia do canal da Mancha), José Teles da Conceição e Adhemar Ferreira da Silva (atletismo), Amauri Passos (basket) , Claudio Rosa (ciclismo) e tantos outros extraordinários atletas.
MS: Houve algum título que você guarda com maior recordação?
BIRIBA: O primeiro título sulamericano com 13 anos nas quatro modalidades (fato único no mundo do tênis de mesa). Campeão de adultos de um continente com 13 anos.
MS: Além do clube do seu pai, quais foram os outros que você atuou? Sei que teve passagens significativas pelos clubes de maior rivalidade em São Paulo, o Corinthians e o Palmeiras. Poderia comentar sobre esses períodos?
BIRIBA: Palmeira e Corinthians foram os dois grandes clubes que joguei em meu auge. Wadi Helu era o presidente do Corinthiasn e Delphino Fachina do Palmeiras. Sinto muito orgulho de ter jogado nesses dois grandes clubes. Depois quando voltei, depois de 8 anos parados, passei por vários clubes. Dentre outros citaria Guarulhos (10 anos), Itaim Keiko (15 anos), Hebraica, C.A. Ipiranga e outros.
MS: Quais eram as grandes forças do tênis de mesa no seu tempo?
BIRIBA: Palmeiras e Corinthians.
MS: Na metade da década de 60 você foi convidado para dar apresentações de tênis de mesa antes das partidas dos Harlem Globetrotters. Por ser algo profissional, a Federação Brasileira de Tênis de Mesa não aceitou, punindo-o. Esse foi o motivo que fez com que abandonasse o esporte aos 21 anos, quando muitos mesatenistas estão em seu auge?
BIRIBA: Um dos motivos. Falta de apoio e como não sou de origem social bem aquinhoada, tive que ir trabalhar para me sustentar, pois o esporte até então era totalmente amadora. Exigia muita dedicação e não tínhamos retorno algum. Só fama, títulos e troféus. Mas isso não é suficiente para pagar as contas. Desculpe as palavras de desabafo.
MS: Depois de muitos anos afastado, resolve retornar ao esporte. Ao voltar sente dificuldades devido às novas técnicas e raquetes do tênis de mesa. Como fez para retornar ao velho desempenho e poder bater de frente com seus adversários?
BIRIBA: Sempre digo que quem voltou foi o Ubiraci e não o Biriba. Este ficou lá atrás com 21 anos. Foi por motivos de saúde, que eu pus primeiro que títulos e fama. Voltei por lazer mesmo e por amar o esporte. Por acaso consegui bons resultados. Acho que honrei o nome de Biriba
MS: Competindo com os veteranos, voltou a ser novamente um campeão, sendo difícil de ser derrotado. O bom e velho Biriba com a categoria da juventude?
BIRIBA: Nunca pensei nisso. Sempre joguei porque gosto. Mas nos veteranos os resultados vieram. Fiquei 14 anos invictos no Brasil. Mas vi que estava pesando muito. Tinha que trabalhar e outros afazeres. Eu estava me divertindo os outros não. Queriam me derrotar a qualquer preço. Então resolvi só treinar para manter a saúde.
MS: Nos anos 80 e 90 o Brasil obteve as primeiras medalhas em Jogos Pan-Americanos e a modalidade passou a ser disputada nos Jogos Olímpicos de Seul (Coréia do Sul) em 1988. O que tem a dizer sobre os dois grandes talentos brasileiros, o saudoso Cláudio Kano e Hugo Hoyama?
BIRIBA: Grandes campeões e fiquei feliz por darem continuidade ao desenvolvimento do esporte que eu e os praticantes de então plantamos. Exemplos de grandes campeões.
MS: Quem foi o grande mesatenista na sua opinião?
BIRIBA: Brasileiros tivemos vários (Ivan, Biriba, Betinho, Ricardo, Claudio, Hugo, Calderano e outros) Mundial (Chuang-Tse-Tung, Waldner, Liu- Guo-Lian, Jiang Jin Liang e outros).Hi
MS: Resuma as regras do esporte.
BIRIBA: Fico devendo , pois demandaria muito espaço. Tenis de mesa tem que ser jogado com raquete de borracha. Sets de 11 pontos, 2 saques de cada lado. No saques a bolinha bate primeiro no seu lado e assim por diante.
MS: O que achou do desempenho de Hugo Calderano nas Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016? Vê um grande futuro para o tênis de mesa brasileiro?
BIRIBA: Extraordinário. Faltou pouco para a tão sonhada medalha. Sua atuação e a cobertura do SPORT TV 3, deram grande visibilidade ao tênis de mesa e me parece que caiu no gosto popular. É um bom momento que só falta ser incrementado na prática. Mais praticantes, mais público e mais mídia o tênis de mesa ainda nos dará muitas alegrias.
Foto: Arquivo pessoal do colunista
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