Ana Cora Lima e Bruno Doro
Do UOL, no Rio de Janeiro
Traumas servem para que você supere seus medos. Não que a judoca Rafaela Silva tenha algum. Mas nesta segunda-feira, na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, ela deixou para trás um pesadelo que a acompanhava há quatro anos.
A brasileira que nasceu na Cidade de Deus, a comunidade carente retratada pelo cineasta Fernando Meireles, está na semifinal dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Ainda não é uma medalha, mas a vitória que a levou até lá foi simbólica: ela derrotou Hedvig Karakas, a mesma húngara que a tirou dos Jogos de Londres, em 2012, episódio que levou a depressão e quase a tirou do esporte.
Após derrotar a vice-líder do ranking mundial, a sul-coreana Jandi Kim, nas oitavas de final, Rafaela enfrentou Karakas com as arquibancadas vibrando. Sua família estava lá. A irmã, Raquel, que faz parte da seleção, acompanhou tudo calada, ao lado da técnica Rosicléia Campos - nesta segunda, quem estava no tatame era o outro comandante da equipe verde-amarela, Mario Tsutsui. "Não consigo nem raciocinar. Estou tensa. Vou chorar nas finais, certeza", avisou a irmã.
Rafaela venceu com um wazari. Seu pai, Luiz Carlos, saiu assim que o combate acabou. Foi fumar. "Não gosto de assistir, mas a Raquel insistiu muito. Estou aqui". "Ela está muito confiante. Nem olhou para nós quando passou aqui ao lado", completou Raquel. Essa confiança é algo que a judoca não teve tempo de exibir em 2012. Na Inglaterra, Rafaela foi eliminada por aplicar uma técnica ilegal. Ao dar um golpe, ela segurou na calça da adversária. Aquele golpe, que seria aprovado meses antes, a desqualificou.
A derrota gerou uma onda de protestos racistas em mídias sociais contra a brasileira, que respondeu. A polêmica a fez entrar em depressão e ameaçar deixar o esporte. Após aceitar trabalhar com uma psicóloga, a judoca se recuperou e, no ano seguinte, foi campeã mundial no Rio de Janeiro.
Nas oitavas de final, a brasileira venceu a sua segunda disputa do dia contra a sul-coreana Jandi Kim, segunda do ranking mundial. A luta não foi tão rápida como o primeiro combate do dia. Com muita pegada e penalidades para as duas atletas, Rafaela Silva ficou em vantagem aplicando um wazari na adversária faltando um minuto para acabar o combate.
Mais cedo, Rafaela Silva venceu a alemã Miryam Roper em sua estreia no judô na Rio-2016. A brasileira conquistou a vitória com menos de um minuto de luta. O primeiro wazari veio com 14 segundos de luta. O segundo, quando primeiro minuto terminava. A alemã é freguesa de Rafaela. A brasileira ganhou todas as nove lutas que disputou. Miryam Roper tem 34 anos e é dona de dois bronzes em Campeonatos Mundiais, em 2013 e 2014.
É o terceiro dia de competições no judô da Rio-2016. O esporte, apesar de ser uma das maiores chances de medalhas do Brasil, ainda não levou brasileiros ao pódio. Felipe Kitadai, Charles Chibana, Sarah Menezes e Érika Miranda deixaram a competição nos dois primeiros dias sem conseguir medalhas. Alex Pombo, que lutou nesta segunda-feira, também já foi eliminado.
Foto: UOL
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