Titular de Tite: Marquinhos ganhou respeito por bom futebol e discrição na seleção. Foto: Lucas Figueiredo/CBF/Via UOL

Titular de Tite: Marquinhos ganhou respeito por bom futebol e discrição na seleção. Foto: Lucas Figueiredo/CBF/Via UOL

Ao fim da última Copa do Mundo, nenhum outro jogador teve mais motivo para desabafar do que Marquinhos. Um dos pilares na caminhada até a Rússia, ele viu Thiago Silva assumir o seu lugar pouco antes da competição, acompanhou o irmão Luan Aoas se indignar e celebrar a França "sem experiente para encher o saco" e, em nenhum momento, se manifestou. Ao seu estilo, preferiu não aumentar a controvérsia: entrou mudo e saiu calado.

Agora, o zagueiro de 24 anos do PSG tem tudo para se tornar absoluto na defesa da seleção brasileira e ver premiada a paciência que a maioria diria ser de um monge diante do que passou.

Ao lado de Neymar, Casemiro e Philippe Coutinho, forma a espinha dorsal que começou como titular em todos os jogos nesse novo ciclo. Mais do que isso, é o único que esteve em campo em todos os minutos até aqui.

Não deverá ser diferente quando o time subir do vestiário para enfrentar o Uruguai, nesta sexta-feira (16), às 18h (de Brasília), no Emirates Stadium, em Londres.

Em alta, Marquinhos está entre os que mais atuaram sob o comando de Tite, com 20 partidas. É uma das lideranças do vestiário, mas que não reina por falar mais alto ou carregar uma suposta presença física e, sim, por sua simplicidade.

Figura adorada por todos, foge ao perfil boleiro, mesmo vindo de um berço de atletas, caso do ex-lateral-esquerdo e primo Moreno, ex-Corinthians e Udinese, e do irmão Luan, que jogou até os 18 anos. Com menos de dois meses no PSG, dispensava intérprete para dar entrevista, sozinho, em francês. E é capaz de se apresentar, mesmo sem ser exigido, às 8h da manhã à seleção.

Perguntado nesta semana se teme voltar a passar pela frustração do último Mundial, ele escolheu não entrar em dividida.

"É um trabalho mental. Em cada convocação, coloco na minha cabeça que tenho de fazer o meu melhor, em cada segundo em campo, para estar merecendo a vaga e a confiança do professor. A gente sabe que na seleção ninguém tem cadeira cativa, todos têm que batalhar e correr atrás. É isso que eu coloco na minha cabeça", afirmou.

O comportamento dele não é nada que surpreenda a comissão técnica, e muito menos a família.

Acima de tudo, discrição

O apego às raízes, pela disciplina e, especialmente, pela discrição não impediu Marquinhos, por exemplo, de realizar um sonho de consumo e comprar uma Ferrari. Mas é na forma de utilizá-la que ele se distancia dos demais.

"A história da Ferrari é uma história engraçada porque ele tem uma Ferrari, mas raramente a tira da garagem. Mais esporadicamente, mesmo, para dar uma voltinha porque é muito raro. Às vezes, ele prefere sair até de Uber do que com a Ferrari porque quer discrição", conta a mãe, Alina Aoás, ao UOL Esporte.

"Mas a graça dele é quando chega um amigo, um sobrinho de seis anos que é fissurado por automóveis… A graça do Marquinhos é quando o menino vem a Paris, porque ele quer olhar o motor da Ferrari, dar uma voltinha. Então, vemos a partir disso que até mesmo a Ferrari como sonho só é legal se as pessoas que você gosta estiverem por perto. Que graça tem ela sozinha?", indaga.

O exemplo é dado para ilustrar como o atleta foi ensinado desde cedo a valorizar quem esteve ao seu lado desde sempre.

"Quando surgiu a situação do Marquinhos vir para Europa, pela primeira vez para a Roma, ele nunca havia estado sozinho. A Europa é um sonho que engana um pouco, ela vem acompanhada por uma série de ganhos financeiros, sucesso, fama, de onde muitas vezes você deixa para trás tudo o que carregou até aquele momento, amigos, namoradas, pais, irmãos. Quando o jogador sonha em vir, ele tem o contexto de um sonho que inclui os familiares dele. Ninguém sonha em ganhar dinheiro sozinho", afirma Alina.

"Você se imagina numa Ferrari cheia de amigos, não vazia. Você se imagina numa mansão, quando você é criança, adolescente, com os seus amigos de infância, sua namorada. Não imagina tomando banho de piscina sozinho. Então, a gente começou desde sempre a trazer a família para perto dele. Inicialmente, meu marido e o irmão vieram com ele", prossegue.

O exemplo que a seleção precisa

Na última segunda-feira (12), Marquinhos desembarcou na concentração da seleção ao lado do garoto Augusto Galvan, promessa do Real Madrid e revelada no São Paulo que está completando os treinos. Não tinha ao seu lado nenhum dos familiares que costumam acompanhá-lo. No último Mundial, eram 20 parentes e, segundo a mãe, se dependesse dele, esse número dobraria.

O estafe que trabalha em sua função no dia a dia é todo ele formado por pessoas próximas.

"O contexto de trabalho do Marquinhos é todo ele de família. O escritório dele é todo com primos, irmão, cunhados, genro. Ele vem de uma família gigante, eu sou de uma família de sete irmãos, 26 primos, de uma avó dele matriarca, que acolhia a todos no fim de semana. Uma família de professoras, eu e minhas irmãs somos todas professoras. Eu sou professora, pedagoga, assistente social, psicóloga, um pouco de tudo", explica Alina.

"A gente aprendeu muito não só na família, mas no futebol a importância de estar trabalhando valores desde cedo. Pelo fato do futebol ser um meio muito competitivo, onde traz uma série de transtornos na vida das crianças, os pais competem muito, então, isso é complicado", continua.

"Tem uma frase que sempre costumava usar com ele: não troque um amigo por uma bola e a bola por um amigo, a bola é bola e amigo é amigo", completa.

O assessor pessoal do destaque do PSG é hoje, inclusive, um amigo de longa data, Henri, a quem conhece praticamente desde o berço. Ele não se furta a investir neles e envolvê-los em sua estrutura de carreira.

"Nós, brasileiros, somos sedentos de exemplos do bem e positivos", finaliza Alina.

Avesso a controvérsias, com perfil de "bom moço" e sempre dando a cara a bater mesmo nas derrotas, Marquinhos é candidato mais do que preparado para preencher esse posto na seleção.

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