Gilmar Rinaldi foi treinado por Cilinho no São Paulo na década de 1980

Gilmar Rinaldi foi treinado por Cilinho no São Paulo na década de 1980

Adriano Wilkson e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

Otacílio Pires de Camargo, conhecido como Cilinho, era considerado um dos melhores treinadores do país na década de 1980, época em que comandava o São Paulo e ajudou a reformular o elenco tricolor, valorizando as categorias de base. Ele era o treinador da geração são-paulina que ficou conhecida como os "Menudos do Morumbi". Um dos atletas que trabalhou com Cilinho foi Gilmar Rinaldi, hoje coordenador técnico da seleção brasileira.

O ex-treinador guarda péssimas lembranças do então goleiro. Juntos, os dois foram campeões paulistas de 1985 e 1987. Cilinho recordou um episódio em que Gilmar teria entrado em conflito com o goleiro chileno Rojas, que havia sido recentemente contratado. "Gilmar não é confiável. Ele trabalhou comigo, foi meu goleiro. Quando contratamos o Rojas lá no Chile, o Gilmar tentou interferir, tentou atrapalhar, tentou fazer a cabeça de companheiros, ficava no banco e fazia figa, foi lamentável", relatou o antigo treinador, hoje com 75 anos.

De acordo com o ex-técnico, as provocações de Gilmar não surtiram efeito porque o goleiro chileno soube contorná-las. "O Rojas teve muita personalidade, teve grandes atuações e eu sempre fiz justiça no meu trabalho, sempre escolhi o melhor [para entrar em campo]", disse.

Gilmar Rinaldi foi procurado pela reportagem para comentar as declarações de seu ex-técnico, mas não quis dar entrevista.

Cilinho sempre foi reconhecido por saber trabalhar bem com as categorias de base dos clubes e trazer de lá bons valores para o time de cima. Ele sempre defendeu que o treinador da equipe principal deve estar em contato constante com os técnicos dos times de júniores.

Uma das passagens mais marcantes do período em que esteve no Morumbi ajuda a exemplificar essa característica. Aconteceu em 1985, quando o clube contratou o meio-campista Falcão, já renomado na época, chamado na Europa de "O Rei de Roma". Mesmo assim, Cilinho fez o jogador esquentar banco. Falcão foi reserva de Márcio Araújo, um dos pupilos do comandante.

O ex-treinador disse que o comportamento de Falcão foi muito respeitoso. "Ele é de um excelente caráter, um jogador de muita personalidade. Nosso diálogo sempre foi da maior qualidade, diálogo de gente grande. Eu passei a admirá-lo por causa disso. Ele nunca forçou nada."

Sua preferência por jogadores mais jovens, criados na base, deu resultado, e o São Paulo foi campeão paulista de 1987. Depois de implantar essa mentalidade no Morumbi, ele teve uma rápida passagem pelo arquirrival Corinthians, no começo da década de 1990. Em 2007, foi contratado novamente pela diretoria alvinegra, mas diz que não recebeu o respaldo para fazer as mudanças que pretendia.

"Lá o bicho pegou porque segundo o presidente Andrés [Sanchez] não havia a possibilidade de atender a minha solicitação, minha intenção era que a base tivesse tudo próprio, campo próprio, campo maior, campo oficial, residência para os pais de jogadores que vem de fora, alimentação, nutricionistas, assistentes sociais e o Andrés alegou que não tinha condições financeiras de fazer."

Seleção

Cilinho também palpitou sobre o atual momento do futebol brasileiro, a partir do fracasso na última Copa do Mundo e da derrota do Brasil para a Alemanha. "Se o técnico da Alemanha tivesse armado o time para o contra-ataque no intervalo, estaríamos amargando uns dez gols", disse.

Acostumado a lidar com vaidades de jovens jogadores, Cilinho advoga um cuidado especial ao zagueiro David Luiz.

"Se eu estivesse na comissão técnica, já teria batido na porta do presidente da CBF para evitar o assédio ao David Luiz. Premiaram ele antes da hora como o melhor jogador do campeonato. Agora, ele já é empolgado por natureza, é muito jovem, e entrou de centroavante em um jogo [contra a Holanda]. Por que isso? Porque não tem planejamento."

FOTO: UOL

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