Maior campeão da categoria, com 12 títulos, o ex-piloto falou com exclusividade ao Portal Terceiro Tempo

Maior campeão da categoria, com 12 títulos, o ex-piloto falou com exclusividade ao Portal Terceiro Tempo

A pouco menos de um mês para a etapa de abertura da 40ª temporada da Stock Car, Ingo Hoffmann, o maior campeão da categoria,  com 12 títulos, 76 vitórias e 60 poles, falou com exclusividade ao Portal Terceiro Tempo, enaltecendo o grid já forte grid forte que foi potencializado com as chegadas de Nelsinho Piquet e Lucas Di Grassi, o alto nível de competitividade, o título de Daniel Serra em 2017, mas também fez críticas à pontuação dobrada na etapa final, além de ter avaliado outros assuntos, como o atual carro da Stock, os autódromos nacionais e a ausência de pilotos brasileiros no grid da F1.

Ele também falou sobre o Instituto Ingo Hoffmann, criado em 2005 para auxiliar crianças em tratamento contra o câncer, em Campinas, junto ao Centro Infantil Boldrini, e os trabalhos que tem feito como instrutor de pilotagem, após um longo período em que atuou junto à BMW e Mitsubishi.

Bella Macchina/Marcos Micheletti: O grid da Stock Car, já muito qualificado, contará em 2018 com as entradas de dois campeões da F-E, Nelsinho Piquet (Full Time) e Lucas Di Grassi (Hero Motorsport). Como você avalia os pilotos da categoria?

Ingo Hoffmann: Bom, o grid está realmente fantástico. A cada ano que passa tem pilotos de mais renome, como o Di Grassi como você bem falou, o Piquet (Nelsinho), já tínhamos o Rubinho (Barrichello) há algum tempo, esses a nível internacional como o Zonta, pessoal que já esteve atuando lá fora. E, independente de serem grandes nomes, o nível técnico desse pessoal é altíssimo, então a categoria está muito competitiva e isso é bacana de ver. Nesses dias eu estava pensando justamente nisso, que está acontecendo graças ao trabalho que o nosso grupo iniciou lá atrás, principalmente com o controle do Carlos Col em fazer com que a categoria chegasse nesse pé de competitividade e reconhecimento internacional que ela tem hoje.

Nelsinho Piquet é uma das novidades do grid da Stock Car em 2018. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

BM: Em recente entrevista ao Bella Macchina, o Bruno Senna, atual campeão do WEC (pela LMP2), falou sobre a Stock, em que esteve por três oportunidades, uma vez como convidado na Corrida do Milhão e outras duas formando dupla com Antonio Pizzonia. Ele gosta da categoria, ficou bem impressionado com o que viu, o nível dos pilotos e a competitividade, mas disse que ainda se sente mais seguro em um carro de chassi de fibra de carbono, como o que compete. É claro que os custos pesam, mas como você analisa esse aspecto?

IH: O grande problema é realmente o custo. Sim, de fato os carros estão um pouco `ultrapassados´. Com certeza um chassi de fibra de carbono é mais seguro, mas como você bem disse o custo que está envolvido nisso, em uma categoria no Brasil não consegue absorver esse custo ainda. O pouquíssimo contato que eu tenho com as equipes, uma delas é a Full Time, que é vizinha de onde eu moro, eu estou com uma certa frequência com o `Mau Mau´ (Mauricio Ferreira), a categoria sabe que os carros estão tecnologicamente meio defasados. Mas uma coisa é querer e outra é poder. O que nós podemos ter no momento no automobilismo brasileiro é o que temos atualmente. Agora, se vamos poder ter carros mais up to day, atualizados, só o futuro vai dizer, e com grande envolvimento das equipes.

Bruno Senna, campeão da LMP2 no WEC, esteve no Bella Macchina em dezembro de 2017. O piloto, que já disputou três provas pela Stock, falou sobre os carros da categoria. Foto: Túlio Nassif/Portal TT

BM: Depois de sete anos você voltou a disputar uma corrida na Stock, a de duplas, em 2015, em parceria com o Rubens Barrichello, em Goiânia. Que pontos você destacaria em relação às mudanças nesse intervalo?

IH: Melhorou muito, com certeza, e o que eu mais senti em 2015 foi justamente a incrível capacidade de frenagem que os carros adquiriram no sentido de frear próximo da curva mas usando o freio motor, o que na minha época não era possível porque senão o motor explodiria. E o paddle shift (borboletas para troca de marchas atrás do volante), porque o pessoal que guia hoje não tem ideia do que era no passado. Há até dois anos atrás eu ministrava cursos de direção pilotagem e essa turma nova não sabe o que é um punta-tacco (que é frear com a ponta do pé e usar o calcanhar para manter o motor na rotação certa). Hoje está muito mais fácil nesse sentido a pilotagem. Tanto que em 2015 eu tive preocupação com o preparo físico mas eu terminei a corrida "sobrando´. O pessoal que corre hoje não tem ideia do que era no passado.

Ingo Hoffmann em sua parceria com Rubens Barrichello (ao fundo) no treino para a Corrida de Duplas da Stock em Goiânia, em 21 de março de 2015. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

BM: O regulamento da Stock tem um ponto questionável, que é a pontuação dobrada na última etapa, que pode fazer um piloto que liderou todo o campeonato, perder por conta de um problema na prova final. Qual sua opinião sobre isso?

IH: Esse negócio da pontuação dobrada é um absurdo. O Daniel (Serra) dominou o campeonato de tudo que é forma, de tudo que é jeito, imagina um pneu furado? Pneu furado está fora do controle. De repente um motor quebrado, um câmbio quebrado, a equipe pode não ter trabalhado direito, mas um pneu está fora do controle. Perder um campeonato por causa de uma regra estúpida é inadmissível. Para mim, em um campeonato, ganha o melhor. Não tem essa de querer fazer o `show´para a última corrida, não é justo não.

BM: Depois de oito anos formando dupla com o Cacá Bueno na Red Bull (equipe capitaneada por Andreas Mattheis), o Daniel Serra conseguiu ser campeão pela primeira vez, em 2017, sem estar ao lado do Cacá, um piloto fortíssimo, pentacampeão. Correr ao lado de um piloto como o Cacá é equivalente a ter a companhia de um Schumacher ou um Alonso na F1?

IH: É muito complicado, sim. Quando ele (Daniel) entrou na equipe Red Bull, já ganhando salário, a opção era correr junto com o Cacá (Bueno). Eu tenho certeza absoluta que o contrato do Cacá dava a ele toda a preferência, em todos os sentidos, mecânica, carro, etc. Então o Daniel sempre esteve na `sombra´do Cacá por causa dessa preferência, como você comparou com o Schumacher, que sempre teve as melhores opções na F1. E o bacana disso tudo é que no primeiro ano em que o Daniel saiu para correr sem estar na sombra do Cacá ele despontou de um jeito incrível, `matou a pau´, como a gente costuma dizer. Fiquei muito feliz, torci muito por ele, muito mesmo. Eu sou muito amigo do Chico Serra (pai de Daniel). Apesar de eu e o Chico termos tido grandes disputas no passado, nós continuamos grandes amigos. Então minha torcida foi a favor do Daniel, eu fiquei muito feliz por todos os aspectos, principalmente porque no instante em que ele estava em uma equipe com condições iguais de status de pilotos ele dominou, foi fantástica a atuação do Serrinha.

Daniel Serra, campeão da Stock em 2017, e seu pai Chico Serra em 8 de novembro de 2017, no Auditório Elis Regina, em São paulo, dia da premiação do "Capacete de Ouro". Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

BM: Brincando de ter uma `bola de cristal´, você apontaria um favorito para a temporada de 2018 da Stock?

IH: Acho muito difícil apontar um favorito em função do altíssimo nível técnico dos pilotos e da categoria. Mas eu vou continuar apostando no Serrinha, que está numa fase fantástica, a equipe dele é muito boa mas tem muitos outros pilotos que podem brigar de igual para igual com ele. A categoria é muito competitiva, imprevisível até de você dizer que fulano é favorito. E independente do nível técnico dos pilotos, a categoria, em função de estar com esses carros `antigos´, sem menosprezar, as equipes conseguem extrair 100% do que o carro tem para oferecer, então o equilíbrio técnico é muito grande, por isso em um décimo de segundo tem seis, sete carros.

BM: Alguns pilotos, como o Thiago Camilo e o Átila Abreu ainda não foram campeões na Stock, estiveram próximos, `bateram na trave´. E nos últimos quatro anos tivemos quatro campeões inéditos, que ganharam pela primeira vez. Quem pode ser o próximo campeão inédito da categoria?

IH: Você falou dois, o Thiago e o Átila. O Thiago está `batendo na trave´ há muito tempo, um piloto fantástico. O Átila amadureceu muito como piloto. Estive dois anos com ele na AMG (hoje TMG), nos dois primeiros anos depois de eu deixar de pilotar. e ele teve uma evolução muito grande, é muito aguerrido, está sempre nos pontos. Mas a equipe tem que estar bem, acertando milimetricamente no carro, na estratégia, não é só o piloto estar bem dentro do carro.

BM: Perdemos praças esportivas como Jacarepaguá, mas ganhamos outras, como o Velo Città (Mogi Guaçu) e Curvelo (Minas Gerais). Sobre a situação dos autódromos brasileiros, qual sua opinião?

IH: Bom, em primeiro lugar seria preciso melhorar o número de autódromos, porque estão diminuindo cada vez mais. Curitiba fica sempre em ameaça, e é muito boa a pista, bem administrada. Depois do Velo Città, em termos de capricho, ela vem logo a seguir. É uma pena um campeonato tão nivelado tecnicamente como o da Stock não ter muitas opções de autódromos. Guaporé (interior do Rio Grande do Sul), por exemplo, é muito legal, mas a cidade é muito pequena, acho que a categoria poderia pensar em correr lá. Ou voltar a correr em circuitos de rua, como já aconteceu, em Salvador e Ribeirão Preto. Em termos de autódromo, sejamos realistas, ninguém vai construir um novo Velo Città no Brasil, não vejo nenhum programa nesse sentido. Então, a solução seria correr em circuitos de rua, mas aí envolve promotor, interesses diversos, enfim.

Ingo Hoffmann em 12 de novembro de 2014, no Velo Città, à época trabalhando junto à Mitsubishi. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

BM: Sobre a nova gestão da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), presidida por Waldner Bernardo. Você tem uma opinião ou sugestões a fazer?

IH: Eu não posso nem avaliar nem dar sugestões porque eu estou totalmente afastado. No ano passado eu participei como convidado de uma etapa da Porsche Cup, e em 2015 da Corrida de Duplas com o Rubinho (Barrichello). Nem nos autódromos eu tenho ido mais. Fui na etapa final da Stock do ano passado contratado por uma empresa para ficar no HC (Hospitality Center) deles fazendo relações públicas com os convidados deles. 

BM: Depois de vários anos trabalhando com a BMW e a Mitsubishi, o que você está fazendo hoje? Gostaria de trabalhar na Stock?

IH: Eu tenho feito um trabalho com a empresa TSO. Eu estou literalmente desempregado. Depois de trabalhar, paralelamente à minha carreira de piloto com a BMW, onde fiquei 13, 14 anos ministrando driver training, depois fiquei quatro anos ministrando programas com a Mitsubishi e no ano passado o contrato foi cancelado em função da crise enfrentada pelo País, e agora, às vezes eu faço um trabalho de freelancer, como tenho feito com a Volkswagen Amarok, mas posso fazer com qualquer outra marca, faço de freelancer. Isso me dá muito prazer, mas é uma pena que no Brasil o pessoal não olhe com mais dedicação esse tipo de programa, que na TSO tem sido bem interessante. Eu acho um absurdo que o brasileiro, de maneira geral ,não tenha o hábito de cultivar os grandes campeões do esporte de forma geral. Em qualquer lugar do mundo, pelo currículo, pela história que eu tenho na categoria, eu estaria trabalhando como relações públicas, como promotor ou em equipe, isso é triste de certa forma, eu não fico magoado, mas chateado que o brasileiro não enxerga isso. Dependendo do tipo de atividade eu trabalharia, mesmo com patrocinadores envolvidos, relações públicas, com eventos paralelos à pista em si. E os custos já estão altos e eu não vejo uma equipe querendo contratar alguém como eu, mas na promoção sim, como aconteceu comigo no final do ano passado, que eu fui contratado por uma empresa como relações públicas, e foi super agradável, eu entendo do assunto, as pessoas vieram conversar comigo, mas os promotores não enxergam isso.

BM: O Matheus Leist, que foi um dos premiados da Seletiva de Kart Petrobras em 2014, esteve com você no Velo Città, onde contou com suas instruções para guiar o carro utilizado pela Mitsubishi na Lancer Cup na ocasião. E hoje ele é titular da Fórmula Indy, na AJ Foyt, ao lado do Tony Kanaan. Como foi aquela experiência com o Matheus?

IH: Esse programa que nós fizemos com esses meninos, assim podemos chamar, foi uma iniciativa da própria Seletiva Petrobras, que deu esse curso para eles como prêmio e foi uma coisa bem direcionada para jovens que querem seguir uma carreira no automobilismo. E agora o Matheus está lá na Indy e eu fico muito feliz por ele.

O gaúcho Matheus Leist sendo orientado por Ingo Hoffmann em 12 de novembro de 2014, no Velo Città, em Mogi Guaçu. Leist, hoje na Indy, havia sido um dos premiados da Seletiva de Kart Petrobras. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

BM: Falando um pouco sobre Fórmula 1, cuja temporada começa no dia 25 de março na Austrália (Melbourne), a Mercedes, com Lewis Hamilton, é franca favorita ou você acha que a Ferrari pode se aproximar ainda mais, depois da boa primeira metade de temporada de 2017?

IH: Eu espero que a Ferrari encoste mais e fique no mesmo nível da Mercedes, porque tudo indica que o Hamilton vai nadar folgado, porque tira um pouco do brilho da categoria, porque ficou tão previsível o que vai acontecer que parece chato, o Hamilton vai largar na frente e é um roteiro pronto. Mas para a F1 voltar a ter o brilho de anos atrás vai ser difícil, porque hoje conta muito a grana, até com os pilotos, que o que vale não é o talento, mas o bolso do papai...

BM: Em 2018 não teremos nenhum brasileiro na F1. Desde 1970, quando Emerson Fittipaldi estreou na categoria, pelo menos um brasileiro esteve lá. Como você vê esse fato?

IH: O grande milagre foi termos tido tantos pilotos brasileiros, agora é a realidade. Acho que demoraremos para ter um novo piloto brasileiro na F1 e um novo campeão talvez só os meus netos possam ver. 

BM: Desde 2005 você está à frente do Instituto Ingo Hoffmann, que dá suporte à crianças que estão em tratamento contra o câncer, junto de seus familiares, no Centro Infantil Boldrini, em Campinas. Como está o Instituto hoje?

IH: As coisas estão complicadas. A arrecadação despencou no ano de 2017 por causa dessa crise absurda que o Brasil passou, pela questão política, e logicamente a situação do Instituto em termos de arrecadação piorou drasticamente. Nós tomamos algumas decisões de cortarmos alguns custos, que já não são altos para o atendimento de todas as famílias, mas está bem complicado. Estamos trabalhando bastante para conseguirmos novos recursos para continuarmos nossos atendimentos como fazemos nos últimos anos. Para conhecer e colaborar com as ações do Instituto Ingo Hoffmann, clique aqui.

Vista aérea do Instituto Ingo Hoffmann, em Campinas. Foto: Divulgação

 

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