Restando pouco mais de um mês para o final da temporada no futebol brasileiro, Jorge Sampaoli não sabe se fica no Santos para 2020. Embora tenha contrato até o final de 2021, esteja absolutamente encantado com a cidade, seja muito querido pela torcida e tenha profunda admiração pelo clube eu sua história tão rica, o técnico argentino não decidiu se permanecerá na Vila Belmiro no próximo ano.
Mas com tantos prós e ainda mais os bons resultados conquistados ao longo do ano – elementos que, em tese, o fariam seguir seu trabalho –, o que faz Sampaoli cogitar sua saída? Se o incômodo do técnico não está relacionado a questões como essas, por que o ex-comandante da seleção chilena pensa em sair? O que afasta Sampaoli do Santos é o mesmo fator que afastou outros profissionais do clube nos últimos dois anos: a instabilidade do presidente José Carlos Peres.
Sampaoli é o grande nome da gestão José Carlos Peres no Santos desde seu início, em janeiro de 2018. O argentino é, também, quem mais claro deixou sua insatisfação com o mandatário. Desde que assumiu o comando alvinegro, Peres viu uma verdadeira dança das cadeiras no clube e se isolou na direção santista em determinado momento. Controverso e confuso, Peres não conseguiu ganhar a confiança de diversos profissionais que passaram pela Vila Belmiro e não ficaram muito tempo em suas funções.
Em 23 meses de gestão, o presidente viu só na função de “homem forte do futebol” quatro nomes passar e deixar o clube rapidamente: Gustavo Vieira de Oliveira foi o primeiro, logo no início da gestão. Com críticas públicas ao profissional, que é filho do ex-jogador Sócrates, Peres demitiu Gustavo com menos de dois meses de trabalho. Pouco tempo, sai William Machado que optou por priorizar um projeto pessoal a seguir trabalhando no Santos com menos de seis meses de clube. O mesmo aconteceu com Ricardo Gomes que saiu até antes: menos de dois meses depois de chegar ao Peixe.
Ainda em 2018, Cuca assumiu o comando técnico do Peixe. Depois de alguns meses e algumas farpas trocadas publicamente, o treinador se irritou depois que o presidente revelou ao público o profissional tinha um problema no coração e não seguiria no clube em 2019. “É verdade, mas não era para falar agora”, disse Cuca após uma partida na reta final do Brasileirão daquele ano.
Veio Sampaoli e os problemas do primeiro ano de gestão não foram corrigidos. Peres seguiu expondo problemas para a imprensa. Desapontou o treinador prometendo situações que não poderia cumprir e atrasando pagamentos ao elenco. Chegou Paulo Autuori com a missão de apaziguar a relação e melhorar o planejamento do clube. O próprio Autuori, porém, se viu obrigado a criticar o trabalho do presidente.
Peres se enrolou e perdeu credibilidade ao lidar com a renovação de alguns jogadores. O negócio mais complicado tornou-se a renovação do vínculo de Gustavo Henrique: Peres anunciou algumas vezes que a renovação seria assinada em breve, depois dizia ser algo distante, depois jogou a responsabilidade para o jogador e seu empresário. E a novela segue sem um final. O mesmo aconteceu com Diego Pituca – que acabou renovando – e com alguns jovens da base.
Peres não tem a confiança de Sampaoli – e de muitas outras pessoas do clube. E essa é a palavra que hoje afasta o argentino do Santos: confiança. O treinador já sabe que não há dinheiro para grandes investimentos na próxima temporada. Peres já deixou a situação financeira clara. Autuori também. O técnico alega que o Peixe é muito grande e pede um time forte para disputar títulos na próxima temporada. Talvez o treinador se refira a manter o elenco atual e, de repente, encontrar boas oportunidades de mercado para reforçar a equipe. O argentino consegue confiar que Peres não irá vender metade de seu time? Se vender, Peres buscará reforços a altura? No futebol, sem confiança as relações, dentro e fora de campo, não evoluem.
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