Em assuntos que transcendem o futebol, sempre espero o pior dos jogadores. Pois com Tite o meu sentimento é oposto. Foto: CBF

Em assuntos que transcendem o futebol, sempre espero o pior dos jogadores. Pois com Tite o meu sentimento é oposto. Foto: CBF

Posso dizer que integro a parte da imprensa esportiva que não tem exatamente certeza que a seleção brasileira está na sendo comandada pelo melhor técnico que temos à disposição. Como escrevi no mês passado neste mesmo espaço, na coluna “Tite ainda é técnico de ponta? Só saberemos quando ele voltar a treinar clubes” (clique aqui e leia), vejo o treinador da seleção brasileira como uma incógnita. 

De seus 31 anos de carreira, o profissional esteve na crista da onda em apenas três ou quatro deles. E treinando o mesmo time, o Corinthians. E na seleção fica muito difícil mensurar o seu atual nível, já que ele pode contar com os melhores jogadores e participa de partidas de dois em dois, de três em três e às vezes até de seis em seis meses. 

Bem, mas se eu tenho tais ressalvas ao profissional Tite, o mesmo não posso dizer do lado pessoal do técnico da seleção brasileira. E a primeira vez que fiquei impressionado com coragem do hoje treinador do escrete canarinho foi em 2006, quando ele comandava o Palmeiras. No Aeroporto de Cumbica, a torcida alviverde esperava a delegação para protestar após um resultado negativo. Foi dada a Adenor a opção de sair "pelos fundos” do aeroporto. Mas ele, me lembro bem, disse que estava realizando seu trabalho com respeito e dedicação e que, por isso, não precisava fugir de ninguém. E, de peito aberto, deixou Cumbica encarando os valentões palmeirenses. 

Tenho também uma passagem com o treinador. Em 2011, aqui mesmo no Portal Terceiro Tempo, Marcos Júnior Micheletti, Ednilson Valia e eu tocávamos um programinha de áudio chamado “A Hora do Timão”. Sim, eu aposto que você nunca ouviu falar dele, já que a atração não chegou a fazer o sucesso que esperávamos. Mas um dia Tite, mesmo sabendo que o programa tinha baixíssima audiência, topou falar com a gente. E o bate-papo durou mais do que uma hora!

E me chamou a atenção quando fiz uma pergunta ao então treinador do Corinthians. Honestamente, começando a minha carreira, com apenas 22 anos, estava bem nervoso e, gaguejando como nunca, perguntei a Tite se Chicão tinha a possibilidade de voltar a ser capitão do Timão após o seu afastamento da equipe na campanha do penta brasileiro. Antes de responder, o técnico perguntou o meu nome. Eu poderia muito bem ter falado Thiago, muito mais fácil do que Tufano, que é meu sobrenome e é como me chamam desde que eu tinha uns 12 anos, já que nos meus tempos de colégio sempre tinham uns três ou quatro Thiagos (ou Tiagos) por turma. Mas, de sopetão, respondi que ele podia me chamar de Tufano mesmo. 

Pensei que ele não fosse entender, ou que não fosse se lembrar do difícil e incomum sobrenome que eu tinha informado. Mas eu acredito que Tite deva ter anotado em uma caderneta e, a cada pergunta que eu fazia durante esse bate-papo de aproximadamente uma hora, ele respondia com um “olha, Tufano, o negócio é o seguinte…”. 

Pode parecer coisa pouca, mas tal passagem foi extremamente marcante na minha vida profissional e pessoal. Ele não tinha obrigação alguma de chamar pelo nome um "foca" que participava de um programa de pouquíssima repercussão na internet. Mas ele teve esse cuidado. E isso diz muito sobre quem é o Tite e sobre como ele trata as pessoas ao seu redor, sejam elas importantes ou não.

Enfim, por essas e por tantas outras - nada a ver com política, gente! -, neste imbróglio todo envolvendo a seleção, a Copa América, a Conmebol, a CBF, os jogadores e o próprio treinador, eu não tenho dúvidas de que estarei sempre ao lado de Tite. 

Já disse em algumas colunas que, nos assuntos que transcendem o futebol, sempre espero o pior dos nossos jogadores. Pois com Tite o meu sentimento é totalmente oposto. Sempre espero o melhor do técnico gaúcho. E o que eu espero agora é que, depois do jogo contra o Paraguai, ele entregue o boné e vá para um lugar em que seja reconhecido como merece. 

 

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