O futebol está presente em tudo na vida do brasileiro. Até nas eleições. Vimos nos últimos dias um festival de ataques, contra-ataques, faltas desleais, chapéus, etc

O futebol está presente em tudo na vida do brasileiro. Até nas eleições. Vimos nos últimos dias um festival de ataques, contra-ataques, faltas desleais, chapéus, etc

O futebol está presente em tudo na vida do brasileiro. Até nas eleições. Vimos nos últimos dias um festival de ataques, contra-ataques, faltas desleais, chapéus, etc. Também tivemos muita firula, bolas nas costas e gente chutando a bola de bico pro mato porque era jogo de campeonato. Alguns candidatos não jogaram para o time e sim para torcida. Outros foram mandados para escanteio.

Ouvi dizer que Marina da Silva não foi para o segundo turno porque não tinha (ou não sabia fazer o) meio de campo. E olha que nem sabíamos que o Felipão era o técnico dela.

Nosso cotidiano está cheio de expressões que vêm do futebol. O quase pode ser substituído por bater na trave. Já o em cima da hora passou a ser sinônimo de aos 45 do segundo tempo. Voltando à política, bola fora, desde os últimos dias, tem cara de Levyr Fidelix. O candidato – nanico de partido e de tamanho – mandou tanta bola fora, que mais parecia atacante da Portuguesa ou do Juventus. Aliás, depois dele, Levyr, o cu jamais será o mesmo. Talvez passemos até a reescrever antigas expressões atualizando-as para “aparelho de excretor de bêbado não tem dono”, “tirar o aparelho excretor da reta”, ele mora no “aparelho excretor do Judas”, “passarinho que come pedra sabe o aparelho excretor que tem” ou isso daqui está parecendo o “aparelho excretor da Mãe Joana”.

E, como a língua é dinâmica, sempre surgem neologismos futebolísticos. Minha amiga, a corinthianíssima Dra. Fabiane, fonoaudióloga do SBT, me contou que seu pai, seo Nicolau, costumava usar a expressão “... e depois não quer que fale, hein, Zenon?”

Sentada no colo do pai, vendo o jogo do timão, Dra. Fabiane, ainda uma garotinha, costumava ouvir seo Nicolau reclamar de qualquer jogada errada de Zenon, recém-chegado ao timão. Zenon, catarinense bom de bola, que saíra da cidade de Tubarão para vir ser campeão brasileiro pelo Guarani, em 1978, quando contratado pelo Corinthians, demorou a engrenar na equipe. E seo Nicolau não perdoava. Tanto que passou a usar a frase para tudo. Os filhos foram mal na escola? “... e depois não quer que fale, hein, Zenon?” Chegou depois da hora combinada? “... e depois não quer que fale, hein, Zenon?”

Hoje seo Nicolau não está mais entre nós. Mas dá para imaginar a cena no Céu, com seo Nicolau encontrando São Pedro e perguntando por que cargas d’água o santo resolveu não enviar mais cargas d’água aqui para São Paulo. “... e depois não quer que fale, hein, Zenon?”

Se vivo estivesse, seo Nicolau provavelmente usaria sua frase futebolística ao saber que Collor fora reeleito senador nas Alagoas e Tiririca reeleito deputado federal em São Paulo.

Agora teremos um segundo turno. E novamente a linguagem do futebol estará presente. Primeiro porque, talvez diferente do primeiro turno em que tivemos um campeonato de pontos corridos, agora deveremos ter um torneio mata-mata. Veremos uma série de faltas, rasteiras, passadas de pé, empurrões, impedimentos e acusações de gols contra. A disputa leva muito jeito de ser do tipo daqueles jogos de várzea, sem camisa x com camisa ou nós x o resto.

E tão nos surpreendamos se o tal jogo da morte, como está sendo chamado, for decidido num detalhe, num pênalti duvidoso, para qualquer um dos times, originado pelo imbróglio do momento: mão na bola ou bola na mão? Sim, isso é possível porque é bem sabido que a classe política costuma pôr a mão onde não deve.

O que talvez não dê para usar seja a frase, muito comum no futebol, que vença o melhor. Correríamos o risco de não ter um vencedor. Mas o que se espera é que, seja qual for o resultado, não tenhamos que lembrar novamente do saudoso seo Nicolau e dizer: “... e depois não quer que fale, hein, Zenon?”

E-mail da coluna: magajr04@hotmail.com

Imagem: Túlio Nassif/Portal TT

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