Meu sobrenome é Sabará e esse nome está ligado a muitas coisas, desde uma cidade mineira próxima à Belo Horizonte, rua e avenida da cidade de São Paulo, hospital e jogadores de futebol. No meu caso, a origem vem mesmo do municÃpio de Sabará e passarei um pouco de todas as histórias do sobrenome que tanto tenho orgulho.
Sabará surgiu no final do século XVII. Sua importância está desde o tempo da famosa Inconfidência Mineira de Tiradentes, quando um dos delatores do movimento foi morto, além dos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II terem se hospedado na cidade. Atualmente é considerada uma cidade histórica e extremamente católica, sendo bem conhecida por causa das suas romarias. É também cognominada como a terra da jabuticaba. Tive a oportunidade de conhecê-la no ano de 2010.
Na cidade de São Paulo o nome Sabará tem alguns interessantes destaques. Na Zona Sul da capital, próxima ao Autódromo de Interlagos, localiza-se a Avenida Nossa Senhora do Sabará, uma das mais importantes da metrópole. No bairro de Higienópolis tem uma rua com esse nome e na Avenida Angélica localiza-se o Hospital Pronto Socorro Infantil Sabará.
O membro mais importante da minha famÃlia provavelmente tenha sido o meu avô materno João Sabará. Nascido no dia 31 de março de 1898 em uma cidade paulista próxima ao Estado de Minas Gerais, sempre teve orgulho do seu sobrenome, muitas vezes sendo chamado de Sr. Sabará. Durante mais de 35 anos trabalhou como maquinista de trem pela Central do Brasil. Infelizmente em 1955 teve um acidente fatal na sua profissão, falecendo no dia 01° de agosto.
Tive um tio que se chamava João Sabará Filho, falecido no ano de 1984. Sua ligação com o futebol vem desde os tempos que morava na cidade de Cachoeira Paulista e através das ondas do radio ouvia as partidas do Sport Club Corinthians Paulista. Quando a famÃlia se mudou para São Paulo em 1945, passou a acompanhar o seu time de coração ao vivo no estádio do Pacaembu. Ficou marcado pelo grande time corintiano dos anos 50, através de Cláudio, Luizinho, Carbone, Mário, Idário, Roberto Belangero e Gilmar. Residia numa casa na rua Cesário Alvim, bairro do Belenzinho, atrás de uma igreja. Eram outros tempos do futebol, pois costumava ir junto com amigos palmeirenses ao derby paulista. Minha mãe, Léa Nilsa Sabará, corintiana, costuma ouvi-lo chegar do jogo entusiasmado com as vitórias corintianas e cantando a famosa música de Alfredo Borba: "Gol de Baltazar, gol de Baltazar, salta o Cabecinha, 1 a 0 no placar?. Sua paixão pelo time influenciou outro tio, chamado Carlos Celso Sabará.
Futebolistas conhecidos como Sabará foram muitos. O mais famoso deles foi Onofre Anacleto. Nascido em Atibaia (SP), passou a infância e adolescência na cidade de Campinas. Quando jogava na várzea como atacante, além de se destacar pela sua fibra, dribles, velocidade, facilidade nos cruzamentos e eficiência nos chutes a gol, chamava a atenção quando a sua pele brilhava pelo suor, com os torcedores comparando-o com a fruta Sabará, que também era comum por lá, com o apelido marcando-o por toda a sua carreira. Tornou-se profissional pela Ponte Preta no inÃcio dos anos 50, atuando no ataque nas duas pontas e pela meia-direita, mas a qualidade do seu jogo chamou a atenção de um grande clube do futebol carioca. O Vasco da Gama o contratou em 1952 e, por jogar na ponta-direita e ser negro, fazia lembrar o ex-jogador gaúcho Tesourinha, que retornava ao Rio Grande do Sul, antigo Ãdolo do Internacional e que estava indo jogar no rival Grêmio, quebrando o incômodo racismo que existia no clube. Sabará, no seu primeiro ano de Vasco, sagrou-se campeão carioca. Foi vencedor também nos estaduais de 1956 e 1958 e o Rio-São Paulo no último ano. Viveu o auge da sua carreira no perÃodo de 1955 a 1960, quando foi muitas vezes convocado para as Seleções Carioca e Brasileira. Em 1956, quando excursionava com o selecionado brasileiro na Inglaterra, foi protagonista de um escândalo num luxuoso hotel de Londres, quando foi lanchar estando de calção e toalha no pescoço, gerando mais crÃticas aqui no Brasil a jogadores negros, que tinham fama de não estarem preparados para grandes eventos, devido aos fracassos anteriores da Seleção Brasileira. Considerado um dos grandes pontas-direitas da sua época, só não foi mais longe por ser contemporâneo de muitos excelentes jogadores na sua posição, como Garrincha, Canário, Telê Santana, Joel e Calazans pelo Rio de Janeiro, além de Julinho, Cláudio, Maurinho e Dorval, ponteiros direitos do futebol paulista. Jogou também no time Deportivo Itália, da Venezuela.
Muitos outros jogadores conhecidos como Sabará apareceram no futebol brasileiro. Outro, que marcou muito o meu inÃcio como torcedor, foi o meia-direita Sabará do Tiradentes do PiauÃ, que se chama José Sérgio Nunes Padilha. Quando era juvenil do Fortaleza (CE), ganhou o apelido porque o seu técnico achava ele muito parecido com um antigo jogador que tinha esse nome. A primeira vez que fui assistir a um jogo de futebol aconteceu pelo Campeonato Brasileiro de 1983, no estádio da Portuguesa de Desportos, primeira e única vez que estive no Canindé. E não foi uma partida qualquer, com o Corinthians aplicando uma histórica goleada de 10 a 1 no Tiradentes, o maior placar da história do Brasileirão e com direito a um golaço de bicicleta do lateral-esquerdo Wladimir. E Sabará, meu quase xará, foi o autor do gol da equipe piauiense, de pênalti. Alguns dias antes, surpreendentemente, venceram os corintianos pelo placar de 2 a 1 em Teresina, com Sabará também marcando gol, com outra penalidade cobrada. Realmente foi um ano marcante para ele, pois além dos confrontos com o Corinthians, também está vivo na sua memória um jogo que perdeu apenas por 2 a 0 para o Flamengo no Maracanã, que seria o campeão daquela competição com o timaço de Zico. Também foi marcante pra mim, pois além de ser o meu inÃcio de muitas futuras partidas, posso afirmar que o primeiro gol que vi em um estádio de futebol foi de um jogador conhecido como Sabará.
Imagem: @CowboySL