Em geral, quem põe a boca no trombone costuma conseguir o que deseja, embora não possamos desconsiderar algumas atrizes, modelos e apresentadoras que também se dão bem pondo a boca no clarinete.

Em geral, quem põe a boca no trombone costuma conseguir o que deseja, embora não possamos desconsiderar algumas atrizes, modelos e apresentadoras que também se dão bem pondo a boca no clarinete.

Pôr a boca no trombone é sinônimo de denunciar e/ou protestar. Em geral, quem põe a boca no trombone costuma conseguir o que deseja, embora não possamos desconsiderar algumas atrizes, modelos e apresentadoras que também se dão bem pondo a boca no clarinete.
Mas nós, brasileiros, não somos acostumados em pôr a boca no trombone. Se telefonássemos ? ou enviássemos e-mail ? para reclamar com os políticos em quem votamos na mesma intensidade com que se telefona telefone e se acessa a internet para votar no BBB tudo poderia ser diferente.
Assistimos tudo passivamente. Reclamamos, sim, mas o fazemos durante o chopp com os amigos, no almoço em família ou sozinhos diante da TV e do computador. Em muitos casos, fazemos o mesmo que a CBF e as autoridades (in)competentes em relação à tragédia ocorrida com o menino boliviano: nada, a não ser sentar e esperar baixar a poeira.
Por isso acontecem os mandos e desmandos a que somos submetidos diariamente seja no âmbito desportivo, político, econômico ou social.
Não exigimos que um juiz julgue questões importantes para a sociedade com a mesma rapidez que emite uma liminar para que um torcedor exerça o seu direito de assistir a um jogo. Não reclamamos da descarada proteção que é dada a um rapaz que parece ser, apenas no nome, uma divindade escandinava. Nos conformamos com a falta de coleta de lixo, com a ausência de policiamento nas ruas e com o aumento de preços da mesma forma de aceitamos o monopólio global sobre as transmissões esportivas, as Lucianas Gimenez e o enorme número de "aleluias? e "sai, capeta!? que infestam nossas rádios e tevês.
Pior é que a culpa não é das autoridades porque elas cumprem exemplarmente o seu histórico papel, ou seja, o de vilão da história. Elas, as autoridades, seguem à risca o seu roteiro: são desprovidas de caráter, criam factoides, usam das mais baixas artimanhas, roubam, lucram e justificam seus atos com as mais impensáveis e ridículas desculpas. Nossas autoridades ao corentes: agem de má-fé o tempo todo sem vacilar.
Nós, o povo, é que falhamos em nosso papel de mocinho. Quando se trata de pôr a boca no trombone, parece que nos faltava fôlego para tirar-lhe o som através dos pistons ou da vara. Estamos sempre esperando que uma cavalaria venha nos salvar. Estamos sempre esperando uma medida drástica que mude tudo de hoje para amanhã.
É como o sujeito que vai ao médico pedir orientação para fazer um regime de emagrecimento e pergunta "quanto tempo vou levar para emagrecer?? E a resposta do médico vem com outra pergunta: "Quanto tempo levou para engordar??
Guardadas as proporções, nossa situação me lembra uma das poucas histórias que me foi contada pelo meu pai durante nosso esquisitíssimo relacionamento. Nos românticos tempos em que havia futebol de várzea aqui em São Paulo, era comum que fábricas e empresas montassem seus times. Na Mooca havia, por exemplo, o time da Máquinas Piratininga, que tinha o Andó como técnico convidado, muito conhecido na várzea paulistana. Era dele a missão de orientar semanalmente aquela máquina, ao menos no nome, de joga bola. Escalar era fácil, pois o time possuía um único reserva, que ? obrigatoriamente ? deveria entrar no segundo tempo e cuja principal qualidade era a de ser filho de um dos gerentes.
Eis que chegou o final de semana em que Andó não estaria disponível por causa de um compromisso particular. Mas ele resolveu facilmente a questão indicando o cunhado para substituí-lo.
? Ser técnico do Máquinas é fácil ? dizia ele. ? Basta botar o time em campo e, no segundo tempo, tirar o ponta-esquerda para pôr o reserva.
? Mas, Andó, e se o ponta-esquerda estiver jogando bem, acabando com o jogo?         
? Azar dele. Tira ele e bota o reserva.
? Mas...
? Não tem mas. Tira ele e bota o filho do gerente e ponto final.
Para o cunhado tanto faria como tanto fazia. Não estava ganhando nada para executar o trabalho. Mesmo assim, cabia fazer uma última pergunta:
? Andó, só mais uma coisa: por que tem ser o ponta-esquerda o cara ser substituído?
? Porque aquele imbecil é o único que não reclama. Se você tirar qualquer outro, vai arrumar dor de cabeça pra mais de mês.
Então, ou aprendemos a pôr a boca no trombone ou corremos o sério risco de nos tornarmos eternos pontas-esquerdas a serem substituídos por um bostinha qualquer.
Magalhães Jr. ? o Maga
Imagem: @CowboySL

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