Hoje destaque um confronto interiorano da série “clássicos de todos os tempos”, agora citando os dois maiores times do interior de São Paulo. Para realizar tão árduo trabalho, manterei a base dos principais jogadores, aqueles que mais de identificaram com a camisa que vestiram, mas modificando a formação do jeito mais atual possível, optando por escalar três jogadores no meio de campo e mais três no ataque. E geralmente terá um ponta fixo e um lateral ofensivo do outro lado.
Um detalhe que ainda preservarei é a obrigatoriedade de ter três recordistas na equipe titular. Quem tem mais anos de clube, maior número de partidas disputadas e o goleador principal, além de outros fatos marcantes.
No meu caso, continuarei a questão de não repetir o jogador, para que se possa ter uma idéia de um campeonato. Determinado futebolista foi muito importante em mais de um time, mas levarei em conta onde se destacou melhor.
Ponte Preta e Guarani disputam um confronto conhecido como Derby Campineiro. Trata-se de um clássico muito tradicional de Campinas, atingindo o seu auge na segunda metade da década de 70, quando a cidade foi considerada a capital do futebol brasileiro.
A Associação Atlética Ponte Preta, fundada em Campinas no dia 11 de agosto de 1900, completou 117 anos em 2017. Briga pelo direito de ser o clube de futebol mais antigo em atividade no Brasil, já que o Sport Club Rio Grande (fundado em 19 de julho de 1900) teve por um período seus serviços parados. É o time mais popular da sua cidade, se destacando pelas origens humildes, tendo o orgulho de seu estádio, o Moisés Lucarelli, sendo construído pelos próprios torcedores. Seu apelido, um dos mais populares do país, é Macaca. Apesar de ter dez títulos campineiros, seu maior momento foi entre 1969 a 1981, quando montou fabulosas equipes, sendo algumas delas vice-campeãs estaduais.
No gol optei por Carlos, sem sombra de dúvidas um dos principais goleiros brasileiros durante mais de dez anos, que esteve presente em três Copas do Mundo (titular em 1986 quando pertencia ao Corinthians), que mesmo tendo fama de pé-frio pela falta de títulos, era considerado em sua época um dos melhores da posição, muito preciso e frio, sendo um dos grandes destaques das campanhas memoráveis de 1977, 1979 e 1981, quando a Ponte Preta foi vice-campeã paulista. Na sua reserva está um justíssimo nome, que é o de Ciasca, com grandes atuações na década de 50, inclusive defendendo um pênalti do corinthiano Cláudio Christóvam de Pinho no Campeonato Paulista do IV Centenário da Cidade de São Paulo em 1954, ainda mais o Cláudio sendo um especialista em tal fundamento.
Pela lateral-direita está a lenda Bruninho, jogador com mais anos pelo time, nas heróicas décadas de 40 e 50, mesmo sendo pequeno de altura, era um terror para os ponteiros esquerdos adversários, polivalente e goleador. Jair Picerni é o reserva, sendo muito conhecido pela carreira de treinador, mas que teve também uma passagem marcante como lateral-direito, um dos principais destaques da defesa da equipe de 1977.
Na zaga estão dois jogadores que tiveram passagens marcantes em outros times, sendo campeões e também com passagens em Copas, que são o Oscar e o Juninho, excelentes zagueiros que foram revelados pelo clube, orgulho para a torcida e tão presentes nas marcantes campanhas do esquadrão pontepretano. O primeiro reserva é Samuel, clássico zagueiro que fez parte de outro timaço, o do final da década de 60 e que depois foi para o São Paulo brilhar com a sua categoria. Para completar está Nenê, que formou inesquecíveis zagas ao lado de Oscar e Juninho nos três famosos vices (1977, 1979 e 1981).
Pelo lado esquerdo está o sempre presente Odirley, qualificado jogador que brilhou muito nas mesmas campanhas de Nenê, inclusive sendo eleito o melhor da posição do futebol brasileiro em 1978. Da mesma forma que Picerni, Nelsinho Baptista é mais conhecido na função de técnico, mas também teve uma marcante passagem como jogador da Ponte e de outros times, sendo um dos principais no grande time de Dicá e Manfrini antes da mais famosa equipe, improvisando-o para o lado esquerdo, já que jogava mais pela direita.
Como volante, apesar de o reserva ser muito lembrado, não dá pra deixar de fora um jogador como Pitico, outro símbolo dos heróicos anos da Ponte, que tinha muita disposição em campo, sem precisar beijar o escudo pra demonstrar amor pelo time, pois suas atuações estavam muito acima de qualquer teatro, sendo inclusive o terceiro jogador com mais atuações pelo time. Seu reserva é o Wanderley Paiva, que após uma marcante passagem pelo Atlético Mineiro, emprestou suas qualidades de volante-amador para a Ponte Preta, tendo marcantes atuações nos dois vices para o Corinthians, em 1977 e 1979.
A dupla de meias para compor o meio de campo ao lado de Pitico é formada por dois jogadores que marcaram de forma dourada os mais de 100 anos do clube. Marco Aurélio era um meia-direita que também ajudava na marcação, armava com brilhantismo as ações ofensivas e tinha um belo toque de bola, o que fez dele um dos símbolos da fase de ouro, entre 1977 e 1981. Claro que para compor o outro lado da meia ninguém melhor que o maestro Dicá, craque de inúmeras qualidades, armador excepcional, exímio cobrador de faltas, que participou das maiores fases da história da Ponte, desde a afirmação no final da década de 60, indo depois brilhar no Santos e especialmente na Portuguesa de Desportos, retornando à Campinas em 1976 para dar ritmo ao talentosíssimo elenco, brilhando ao lado de seus companheiros nos três vices, merecendo o título e até mesmo ser convocado pela Seleção Brasileira, sendo considerado o maior jogador pontepretano de todos os tempos e recordista de gols e partidas. Manfrini é um bom reserva de Marco Aurélio, pois era um dos maiores craques da equipe do final da década de 60, tendo depois uma excelente passagem pelo Fluminense, com muitos considerando que merecia ir para o Mundial de 1974. Renato Cajá, que tem a honra de ser o reserva de Dicá, é o símbolo dos últimos anos da Macaca, destaque maior do século XXI, estando agora em sua quarta passagem pelo clube, mas não estando presente na marcante campanha da Sul-Americana de 2013, quando o time foi vice-campeão (estava jogando no Vitória da Bahia).
E pra finalizar vem o ataque Lúcio, Cilas e Chicão, com um driblador ponteiro direito de 1975 a 1980, o goleador Cilas da primeira metade da década de 40 e o marcante centroavante Chicão dos Anos 80. Na reserva improvisei o ponta-esquerda Tuta pelo lado direito, escalei o polêmico Rui Rei e finalizo com o Washington Coração Valente.
Pra comandar a Ponte Preta de todos os tempos destaco o Zé Duarte, sem dúvida o grande comandante das maiores campanhas.
PONTE PRETA (1900 A 2017) Titular: Carlos, Bruninho, Oscar, Juninho e Odirley; Pitico, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio, Cilas e Chicão. Técnico – Zé Duarte. Reserva: Ciasca, Jair Picerni, Samuel, Nenê e Nelson; Wanderley, Manfrini e Renato Cajá; Tuta, Rui Rei e Washington. Mais anos: Bruninho - 18 (1942 a 1960)
Mais partidas: Dicá – 581 (1966 a 1971 e 1976 a 1984)
Mais gols: Dicá - 154
O Guarani Futebol Clube, fundado em Campinas em 02 de abril de 1911, completou 106 anos em 2017. Sua mascote é o Bugre, em homenagem ao índio da Ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, talvez o mais ilustre de todos os campineiros. É o time com mais títulos campineiros, mas da mesma forma que a grande rival, se destacou mais pelos feitos à nível estadual e também nacional, como a Lei de Acesso em 1949, o vice-paulista de 1988, a segunda colocação no Campeonato Brasileiro de 1986 e 1987 e sem dúvida pela conquista do Brasileirão de 1978, primeiro e único time do interior a conseguir tal feito. Na década de 90, apesar de não ser finalista, também teve ótimos momentos. Da mesma forma que a Ponte, tem um belo estádio, o Brinco de Ouro.
No gol do Guarani fiz questão de escalar o Neneca, que depois de marcantes passagens pelo Londrina, América Mineiro e Náutico, veio ao Bugre pra ser o goleiro do título brasileiro de 1978, se destacando muito por sua agilidade e colocação. Sérgio Neri é o reserva ideal, que fez parte daquela que é considerada por muitos a segunda maior fase da história do clube, entre 1986 e 1988, se destacando muito por sua facilidade pra defender penalidades.
De 1973 a 1980 Mauro Cabeção foi o lateral-direito do Guarani, sendo um dos pilares da defesa campeã brasileira de 1978, sem dúvida merecedor da titularidade bugrina de todos os tempos. Na reserva escalo o Marquinhos Capixaba, que como o apelido bem indica, é do Espírito Santos (de Cachoeiro do Itapemirim, onde também nasceu o cantor Roberto Carlos), compondo a defesa do time vice-campeão paulista de 1988.
A dupla de zaga está representada pelo forte zagueiro Júlio César, um dos melhores dos Anos 80 e 90, sendo titular da Copa do Mundo de 1986 e Amaral, clássico defensor que também participou de uma Copa (1978), tendo depois uma boa passagem pelo Corinthians e considerado por muitos, em seu auge, o melhor na posição do país.Os reservas da zaga são o Édson e o Ricardo Rocha, com o primeiro sendo campeão brasileiro de 1978 e o segundo considerado um dos melhores quarto-zagueiros brasileiros do seu tempo, tendo destacadas atuações por outros times, do país e do exterior, que já desfilava pelo Bugre toda a sua capacidade entre 1985 e 1988.
Pelo setor esquerdo da defesa aparece o moderno Miranda, que esteve presente em praticamente toda a década de 70, eleito o melhor da posição do Brasil em 1979. Para a reserva está Zé Mário, mais outro destaque do time vice-campeão brasileiro de 1986.
Para a posição de volante aparece o Tosin, que brilhou no Bugre de 1985 a 1989, sempre presente nos honrosos vices do time em 1986, 1987 e 1988, algo com o mesmo valor que as segundas colocações da Ponte no Paulistão (1977, 1979 e 1981). Escalei o cerebral Djalminha como um falso volante em sua reserva. O fabuloso Zé Carlos, campeão brasileiro de 1978, não incluí porque estará no meu Cruzeiro de todos os tempos.
Renato e Zenon, campeões brasileiros de 1978, representam com esplendor a dupla de meias, com o primeiro sendo um ponta de lança ao estilo que seria depois o Kaká e o segundo um meia-armador na linha do Dicá, cerebral e emérito batedor de faltas que anotou de pênalti o gol da vitória no primeiro jogo da final. Como meia-direita reserva improvisei o ponteiro direito Dorival, que brilhou com a camisa do time, entre idas e vindas nos Anos 50. Para completar o meio de campo optei pelo atacante Piolin, talvez o maior ídolo da torcida nos Anos 40 e 50, atacante de muita raça e que participou da inauguração do Brinco de Ouro em 1953.
Montei uma linha atacante infernal para o Guarani, apenas com jogadores de área. O primeiro é o Zuza, maior goleador da história do Bugre, que vinha de um recorde no Corinthians que permanece até hoje (fez 6 gols em uma única partida). Muitos consideram Careca o maior centroavante bugrino de todas as épocas, pois foi peça fundamental no título brasileiro de 1978 com apenas dezessete anos e autor do gol do título na última partida, além de muitas grandes atuações que fizeram com que fosse convocado pela Seleção Brasileira, quase disputando a Copa do Mundo de 1982, o que não aconteceu por causa de uma contusão na última hora. Completando o ataque está Nenê, o jogador mais antigo de todos que estão na lista, ídolo maior da época amadora, segundo maior goleador do time e talvez o recordista de temporadas. A reserva, diferente da titular, só citei ponteiros. O primeiro é o ponta-direita Capitão do título do Brasileirão, rápido e habilidoso, daqueles que ia à linha de fundo. A segunda opção é o famoso João Paulo, que tanto brilhou nos vices de 1986/87/88 com sua forma ousada de jogar, sempre indo pra cima dos adversários com seus dribles. E pra finalizar aparece o outro ponteiro de 1978, o Bozó, da mesma linha de jogadas de Capitão. Claro que para uma imaginária partida as escalações dos ataques poderiam ser alterados.
Obviamente que para a função de treinador tem que ser Carlos Alberto Silva, com tantas passagens por outros times e pela Seleção Brasileira (Olimpíada, por sinal, em 1988), mas foi no Guarani (o primeiro que comandou) que teve mais passagens (3 vezes), especialmente a primeira, quando foi campeão brasileiro de 1978.
GUARANI (1911 A 2017) Titular: Neneca, Mauro, Júlio César, Amaral e Miranda; Tosin, Renato e Zenon; Zuza, Careca e Nenê. Técnico - Carlos Alberto Silva.
Reserva: Sérgio Néri, Marquinhos Capixaba, Édson, Ricardo Rocha e Zé Mário; Djalminha, Dorival e Piolim; Capitão, João Paulo e Bozó.
Mais anos: Nenê - 9 (1925 a 1934)
Mais partidas: Zenon - 85 (1976 a 1980)
Mais gols: Zuza- 149 (1941 a 1948)
Imagem: Reprodução
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