Quando eu era estudante de jornalismo na PUC, em Porto Alegre, havia um professor da faculdade que costumava dizer que na profissão de jornalista a única folga garantida é a do desemprego.
Ele afirmava que, no exercício dessa profissão, as férias e feriados são meramente teóricos, já que mesmo estando de folga um jornalista que se preza não abre mão de se reportar acerca de acontecimentos de impacto que ocorram 'debaixo do seu nariz', mesmo que esteja 'curtindo' um veraneio tropical numa ilha paradisíaca do Caribe.
Infelizmente, tivemos um exemplo disso no Sábado de Aleluia, dia 19 deste mês, quando companheiros da mídia esportiva, desfrutando do feriado prolongado em diversos pontos do país, tiveram que dispensar algumas horas de sua folga para se reportar sobre o surpreendente desenlace do grande narrador esportivo, apresentador e empresário Luciano do Vallle, ocorrido em Uberlândia, para onde tinha viajado a fim de narrar o jogo Atlético Mineiro e Corinthians, pela primeira rodada do Brasileirão.
Eu estava em Porto Alegre naquela tarde de sábado sem futebol (Inter e Vitória seria às l8h 30min), quando em dado momento, no shopping em que me encontrava, vi o Datena comentando com o semblante visivelmente abatido acerca do triste acontecimento que tirou de nosso meio o grande ícone do jornalismo esportivo, que classifiquei como o "Pelé" da narração esportiva, no meu comentário escrito momentos depois e veiculado neste Portal.
Homenagens prestadas a quem tanto fez por merecer, volto à tese do "jornalista em tempo integral", falando agora do Brasileirão deste ano que começa de luto em razão da perda, em pleno limiar, de seu maior narrador esportivo de todos os tempos.
Veraneando em meu apartamento de Itapirubá, entre as cidades catarinenses de Laguna e Imbituba, em fevereiro e março deste ano, me portei mais como repórter do que propriamente como um veranista.
Isso aconteceu porque me dispus a medir o estado de espírito do torcedor catarinense, que vive um momento de graça no futebol brasileiro, pelo fato de contar, pela primeira vez na história, com três clubes de seu estado disputando a primeira divisão em 2014.
Em contato com desportistas de Floripa e região, observei uma grande euforia a respeito dessa tripla presença catarinense na elite do futebol brasileiro, tanto por parte de desportistas quanto da mídia catarinense, que está eufórica e mobilizada para a cobertura desse ano maiúsculo, quantitativamente, do futebol da terra de Guga e Falcão.
Com o moral elevado em razão desse fato, houve pessoas que desabafaram dizendo que finalmente se fez-se justiça com o futebol barriga verde, que sempre foi um celeiro de craques, que por longos anos abasteceu outros estados, pagando por isso o preço da humilhação de ter seus clubes, por longos anos, disputando os certames secundários da CBF.
Trata-se de uma verdade que os torcedores gaúchos das décadas de 1950, 1960 e 1970 têm conhecimento pleno, já que, nos grandes elencos da Dupla Gre-Nal daqueles tempos, um elevado percentual de craques eram "importados" do estado vizinho.
Entre eles, vale lembrar os ex-atletas catarinenses Juarez Teixeira, o "Tanque tricolor", natural de Blumenau, que fez história como um dos maiores centroavantes do Grêmio, além do ponta colorado Valdomiro Vaz Franco, nascido em Criciúma, e o meia Paulo Roberto Falcão, também do Inter, o mais famoso deles, oriundo da pequena cidade de Abelardo Luz.
Dois deles, Falcão e Valdomiro, estiveram presentes na recente festa de inauguração do Novo Beira-Rio, sendo muito aplaudidos pela plateia colorada, provando que ainda desfrutam de grande conceito no clube em que tanto brilharam, inclusive entre os torcedores mais jovens, que não vivenciaram suas exitosas passagens pelo Internacional.
Dá para entender, portanto, a euforia do torcedor e da mídia catarinense, motivada pela presença do Figueirense e da Chapecoense, egressos da Séria B, e do Criciúma, que garantiu sua permanência na série A, pelo critério 'número de vitórias'.
Isso não é pouco para um estado que, mesmo sendo a menina dos olhos do Brasil, do ponto de vista turístico, ainda não alcançou o status de grande centro no cenário futebolístico, haja vista possuir apenas clubes de nível médio, como o Figueirense o Avaí e o Criciúma.
Com essa conquista inédita na sua história, o futebol de Santa Catarina começou o Brasileirão deste ano igualado numericamente com o Rio de Janeiro e em situação de superioridade em relação ao Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, que são considerados centros de maior relevância no contexto de nosso futebol.
Vale observar que os catarinenses só não ficaram com mais clubes do que os cariocas, no campeonato nacional deste ano, porque o Fluminense, um dos rebaixados na disputa de campo, acabou escapando da 'degola' no 'tapetão', sendo substituído nessa queda pela Portuguesa, que perdeu pontos pela inclusão burra de um jogador suspenso num jogo contra o Grêmio.
O assunto agora é bola rolando, cujos resultados dos jogos realizados na ressaca do feriadão não foram nada animadores para o futebol brasileiro representado por dois mineiros e um gaúcho nas oitavas de final da Copa Libertadores da América.
Começou tropeçando com o empate do Cruzeiro em 1 a 1 com o Cerro Porteño, que não teria sido um mau resultado se tivesse acontecido fora de casa, dando à Raposa e não ao clube paraguaio a vantagem do saldo qualificado no mata-mata de 180 minutos.
Continuou rum nos dois jogos de ontem em que o Atlético Mineiro perdeu pelo escore mínimo para o Nacional de Medelin e o Grêmio foi derrotado pelo mesmo placar pelo San Lorenzo da Argentina.
Menos ruim que esses resultados negativos pelo escore mínimo ocorreram nas casas dos adversários, deixando em aberto a possibilidade de o Galo Mineiro e o Tricolor gaúcho reverterem a situação adversa, jogando em casa sob o calor de suas torcidas.
Mesmo assim não vai ser tarefa das mais fáceis, já que tanto o Grêmio como o Atlético precisarão vencer com dois gols de diferença ou repetir em casa o placar com que foram derrotados fora, tentando a sorte na decisão por pênaltis.
Para o Grêmio, o jogo de ontem à noite representava algo mais do que ser o primeiro confronto das oitavas de final da Libertadores. Era o grande teste para se ter um ideia se o futebol horroroso apresentado pelo time de Enderson Moreira nos dois Grenais decisivos do Gaúchão, era uma queda repentina de qualidade da equipe ou um acidente de percurso motivado pelo desinteresse no que estava sendo disputado.
Como não sou comentarista de resultados, devo dizer que o Grêmio que atuou ontem no estádio El Nuevo Gasómetro foi infinitamente superior ao que se viu em Caxias e no Beira-Rio, onde foi batido com facilidade pelo rival colorado.
Mesmo desfalcado de seu melhor jogador da atualidade, o zagueirão Rodholfo, e do lateral Wendell, o tricolor gaúcho teve um bom desempenha tática na partida, contendo as investidas do adversários com uma excelente marcação por setor e criando boas jogadas de ataque, como de costume desperdiçadas na hora do arremate final.
A derrota gremista por 1 a 0 não foi um retrato fiel daquilo que se viu na partida, já que não houve uma suposta superioridade do time argentino, que a justificasse. O Empate em 0 a 0 teria sido mais consentâneo com o que aconteceu no decorrer do confronto, onde o somatório de passes errados (cerca de 80) foi o que predominou numericamente ao logo da partida.
O Grêmio reúne todas as condições para desfazer. no jogo de quarta-feira na Arena, a desvantagem trazida de Buenos Aires, mas não nos iludamos que isso possa ser conseguido com facilidade.
É bom não esquecer que, sem ter marcado fora, o Grêmio entra em campo sem a vantagem do saldo qualificado, não podendo por isso sofrer gol em casa, porque se isso acontecer terá que forçosamente golear o San Lorenzo, para eliminar o clube argentino e chegar às quartas de final da Libertadores.
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Foto: UOL
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