Dinheiro do povo gaúcho vai pagar custos da Copa

Dinheiro do povo gaúcho vai pagar custos da Copa

O Brasil perdeu dia 20 deste mês seu maior ícone de conquistas internacionais simbolizado na figura de Hilderado Luís Bellini, que partiu para o plano de cima, deixando como legado uma brilhante carreira futebolística, na qual se incluem os mais expressivos títulos do nosso futebol.

Foi com a Taça Jules Rimet levantada com as duas mãos sobre a cabeça, que o extraordinário zagueiro simbolizou, em Estocolmo, capital da Suécia, no ano de 1958, a primeira conquista mundial da seleção canarinho.

Integrando um elenco citado na música da Copa como "Esquadrão de ouro", ao lado de glórias do nosso futebol como Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Zito, Didi e outros, Belini se tornou bi-campeão mundial na jornada vitoriosa do Chile, inscrevendo seu nome entre os pioneiros que elevaram o nome do futebol brasileiro ao mais alto degrau da fama.

Se não foi um super craque sob o ponto de vista meramente técnico, Belini pode ser considerado um primor de atleta, em função do somatório de virtudes que lhes eram peculiares, tais como o vigor físico, a disposição de luta e a extraordinária disciplina tática, fatores que o tornaram merecedor de ostentar a braçadeira de primeiro capitão da gloriosa seleção brasileira de futebol.

Iniciou a carreira no pequeno Itapirense, de Itapira, onde nasceu a 7 de junho de 1930, transferindo-se depois para o Sanjoanense, de São João da Boa Vista, de onde partiu para a fama, ingressando no Vasco da Gama em 1952.

Em 1962, foi vendido ao São Paulo, ocupando o espaço deixado na zaga são-paulina pelo zagueiro Mauro, onde permaneceu durante seis anos, até ser contratado pelo Atlético Paranaense, em 1968, clube em que encerrou a carreira de atleta profissional em 1969.

Além das conquistas mundiais de 1958 e 1962, figuram entre seus títulos mais importantes os de campeão das Copas Roca (1957 e 1960), Oswaldo Cruz (1958, 1961 e 1962), Bernardo O'Higgins (1959) e Atlântica (1960).

Como jogador do Vasco da Gama, conquistou os títulos de campeão carioca de 1952, 1956 e 1958, do Torneio Rio-São Paulo, em 1958, bem como diversos troféus nacionais e internacionais.

Sucedendo a esse merecido tributo dedicado ao eterno capitão canarinho, vamos a abordagem de um assunto que configura mais um dos tantos desperdícios do dinheiro público, que têm caracterizado os últimos trinta anos de governos e desgovernos dessa nação onde se paga imposto de Dinamarca e se tem prestação de serviços de Namíbia.

Se alguém, no Rio Grande do Sul, achou que poderia evitar jogar dinheiro no lixo, deixando de ir ao Beira-Rio assistir aos jogos desinteressantes entre seleções medíocres que ocorrerão no estádio colorado durante a Copa, enganou-se redondamente.

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul se encarregou de fazer isso, traindo o povo que representa, ao aprovar terça-feira um projeto de lei que impõe ao Estado arcar a maior parte do custo das estruturas temporárias que serão montadas no estádio Beira-Rio para a Copa do Mundo, que começa no dia 12 de junho.

Dos R$ 30 milhões que serão gastos nessas estruturas, R$ 25 milhões (mais de 80%) sairão dos cofres Estado através de isenção fiscal. Outros R$ 5 milhões serão custeados pela Prefeitura de Porto Alegre.

O mais lamentável é que tanto o governador gaúcho Tarso Genro tiveram quanto o prefeito de Porto Alegre José Fortunati tiveram o descaramento de afirmar, tentando justificar o injustificável, que Porto Alegre corria sério risco de ser excluída da Copa se o projeto de sangria aos cofres públicos não fosse aprovado pela Assembleia Legislativa.

Foram 31 votos a favor e 19 contra, nesse jogo sujo do outrora conceituado parlamento gaúcho, onde o que menos contou foram os reais interesses do povo, que não são nem por hipótese ir ao estádio Beira-Rio ver peladas internacionais entre arremedos de times impropriamente chamados de seleção, mas sim ver o dinheiro dos extorsivos impostos que se paga ser aplicado em obras públicas ligadas aos setores de educação, transportes, saúde, saneamento básico e tantas outras que muito deixam a desejar.

O Internacional, clube proprietário do Beira-Rio, e a Fifa, organizadora da Copa e detentora dos direitos de comercialização dos ingressos e das cotas de patrocínio do evento, ficarão totalmente isentos de quaisquer ônus nesse sentido, o que é no mínimo um deboche, notadamente para os torcedores do Grêmio que estarão contribuindo compulsoriamente para o rival fazer média, como proprietário do estádio anfitrião dos jogos, e a FIFA ganhar dinheiro sem investir um só centavo no empreendimento altamente lucrativo.

É importante ressaltar que, por trás desse assalto oficializado ao erário do Pampa, funcionou a todo vapor o dedo impositivo da presidente Dilma, que veio a Porto Alegre, recentemente, para fazer uma espécie de inauguração prematura do estádio do clube de seu coração, que, por coincidência é vermelho como a bandeira do seu partido.

O terceiro assunto da coluna de hoje diz respeito a declarações - a meu juízo pouco felizes - feitas pelo cartola gaúcho, Dr. Hélio Dourado, acerca do projeto Arena do Grêmio.

Numa atitude um tanto quanto personalista, o antigo dirigente gremista criticou com veemência a construção do novo estádio do Grêmio, classificando-a como um equívoco capaz de arruinar o clube.

Segundo ele, a obra construída na área de um antigo aterro sanitário, que só possui terra firma a partir de 32 metros de profundidade, pode dar problemas seríssimos. "E acho que vai dar", ressalta o ex-dirigente de forma estranha, parecendo torcer para que isso aconteça.

Esquece o construtor do Olímpico Monumental que algo semelhante se dizia em relação ao estádio Beira-Rio, pelo fato de ter sido construído em um aterro à margem do rio Guaíba, e malgrado essas manifestações de pessimismo até hoje o agora remodelado estádio colorado nunca apresentou em sua estrutura sequer uma simples rachadura.

Diz ainda Dourado, nesse desabafo com jeito de "dor de cotovelo", que outras propriedades patrimoniais do grêmio foram abandonadas por conta da construção da Arena, citando o campo de Eldorado do Sul, "que tem o meu nome" - enfatiza o ex-presidente, denotando com sua crítica um claro sintoma de orgulho ferido.

Com todo respeito que me merece o presidente Hélio Dourado, por sua história de grandes realizações no Grêmio, suas declarações a respeito da construção do novo estádio gremista parecem coisa de ex-governante que torce por uma má gestão de seu sucessor, a fim de que o seu período de governo seja lembrado com saudosismo.

Essa atitude de Hélio Dourado é de certo modo compreensível, já que o Olímpico Monumental, que será demolido é o grande ícone de sua longa e profícua trajetória como grande comandante gremista.

Mas é inaceitável da forma como foi colocada, fazendo terra arrasada acerca de algo que veio para somar e não para diminuir a grandeza patrimonial do Grêmio aos olhos de sua torcida e da opinião pública em geral.

O Grêmio não fez um mau negócio nessa parceria com a OAS, pois vinte anos, tempo que levará para se tornar dono absoluto do estádio, passam rápido, e não se constrói uma obra dessa magnitude da noite para o dia, e menos ainda com o dinheiro alheio.

Dourado deveria lembrar que essa parceria gremista guarda alguma similitude com aquela que a Ford havia feito com o governo gaúcho para a construção de uma montadora da fábrica de automóveis em Guaíba, na grande Porto Alegre, e o então governador gaúcho Olívio Dutra, desfez,de forma burra e sectarista, alegando tratar-se de um acordo lesivo aos interesses do estado.

Como sabemos, a Ford transferiu o projeto da montadora para a Bahia e até hoje os baianos agradecem a burrada do ex-governador petista, enquanto os gaúchos choram esse prejuízo causado ao desenvolvimento industrial do estado, que poderia estar hoje robustecido pela presença em seu território de uma das mais importantes montadoras de veículos do mundo.

O ex-presidente Hélio, Dourado deveria perceber, finalmente, que,do ponto de vista psicológico, o Grêmio, sem a Arena, ficaria humilhado diante do arquirrival Internacional, que remodelou o Beira-Rio, distanciando-o ainda mais do Olímpico, que sempre foi considerado um estádio secundário em relação ao seu similar colorado, haja vista a escolha de que se tornou alvo, para sedias os jogos da Copa em Porto Alegre.

De bola rolando na quarta-feira, cumpre destacar a derrota do Atlético Paranaense na Libertadores, por 3 a 1 para o Vélez Sarsfield, que não chega a ser desesperadora porque o Furacão permanece na segunda coloração de seu grupo, três pontos à frente do fraco The Strongest.

Nos desgastados e desgastantes certames regionais, a surpresa dos jogos de ontem foi a eliminação do São Paulo do Paulistão, perdendo por 5 a 4 na decisão por pênaltis para o surpreendente Penapolense, que passa para a semi final do certame, depois de derrubar dois gigantes da capital paulista, já que havia aprontado também para cima do Corinthians.

No campeonato gaúcho, Grêmio e Internacional vencem os adversários do interior, Brasil de Pelotas e Caxias, respectivamente e partem para decisão do estadual através do clássico Gre-Nal.

Fora da Libertadores, o Inter vai com tudo para tentar sua primeira conquista de 2014, enquanto o Grêmio, embora confirmando a presença do time principal nessa disputa, não poderá ir com muita sede ao pote, sob pena de sofrer desgastes e até lesões de jogadores importantes, com prejuízos incalculáveis na disputa do torneio continental. Esse elemento circunstancial dá ao Inter um leve favoritismo nesse confronto de 180 minutos que decidirá o campeão gaúcho de 2014.

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Foto: BOL

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