Brasileiros coroaram Pelé como o rei absoluto e jamais duvidaram desse reinado, exceto pelos rebeldes súditos de Garrincha e Zico

Brasileiros coroaram Pelé como o rei absoluto e jamais duvidaram desse reinado, exceto pelos rebeldes súditos de Garrincha e Zico

Brasileiros coroaram Pelé como o rei absoluto e jamais duvidaram desse reinado, exceto pelos rebeldes súditos de Garrincha e Zico, que aqui e acolá ensaiam derrotar o mito em enquetes furtivas. No plano continental, Pelé também tem a oposição dos argentinos.

O futebol hermano nunca deixou de apontar um rival para o rei brasileiro, desde os cracaços Di Stefano e Sívori, passando por Maradona até chegar em Lionel Messi. No caso de Maradona, a rivalidade prossegue na divinização do seu eterno camisa 10.

Mas, enquanto os brasileiros não admitem destronar Pelé para nenhum outro da pátria de chuteiras, os argentinos não são assim preocupados com a heresia contra o deus Diego, que tem até religião própria no país, com direito a igrejas e fieis em comunhão.

O responsável principal pelo ato herege dos vizinhos é Messi, o gênio que saiu do país ainda menino e foi reinar na Espanha, assim como fizera Di Stefano no final dos anos 1950. E parece que o quesito Copa do Mundo não atrapalha a ousadia messiânica.

O deus surgido na manjedoura do Argentinos Juniors é colocado em dúvida diante do pequeno messias consagrado no Barcelona. Pelo menos é o que mostra o jornal Clarin, um dos principais diários de Buenos Aires, no momento em que Messi chega ao Brasil.

Se Maradona ganhou um copa pela Argentina, Messi ganhou um Olimpíada. Se Maradona não foi eleito melhor do mundo, Messi já foi quatro vezes, um recordista. Se Maradona não ganhou troféu europeu, Messi já levantou três e um mundial.

Depois de duas copas sem sucesso (Maradona também perdeu 1990 e 1994), Lionel Messi chega para a Copa 2014 como um dos ídolos das poucas seleções favoritas. Na condição dele, só Cristiano Ronaldo, Neymar, Balotelli, Suarez, Özil e Gerrard.

O diário Clarín levantou os números de Maradona e de Messi às vésperas da Copa do Mundo e constatou uma superioridade do craque do Barcelona. Antes de começar a Copa de 1986, no México, Diego tinha 43 partidas e 19 gols pela seleção alviceleste.

Com o amistoso contra a Eslovênia e o gol marcado, Messi chega à Copa do Brasil com 86 jogos e 38 gols pela Argentina, assumindo a vice-artilharia histórica atrás apenas do matador Gabriel Batistuta, que marcou 56 vezes com sua força de um Thor latino.

Maradona se mantém em vantagem sobre Messi quando a referência única e absoluta é Copa do Mundo, na avaliação daqueles que medem a qualidade do futebol no espaço bissexto dos torneios mundiais da FIFA. No geral, a essência messiânica supera deus.

Em 55 anos de vida e mais de 40 observando com assiduidade viciante o mais belo e nobre esporte do planeta, afirmo que jamais vi – desde o rei Pelé – nada igual à genialidade de Messi. Ninguém deu espetáculo semanal por tanto tempo ininterrupto.

O conjunto da obra individual do menino de Rosário nos gramados do mundo é uma galeria de arte muito maior que a exposição sazonal do rapaz de Lanús em campos portenhos e napolitanos. A magia do futebol não pode ser medida a cada quatro anos.

Creio que seja por isso que os próprios argentinos desafiam a fé no seu deus e erguem aos céus a crença no messianismo que herda a mesma camisa 10. Messi não tem a obrigação de ganhar a Copa 2014, sua marca já está consagrada para todo o sempre.

Se não conquistar o tri da Argentina, estará no mesmo panteão de gênios como Zico, Cruijff, George Best, Di Stefano, Eusébio, Puskas, Zizinho, Francescoli, Mazzola, Falcão, Van Basten, Rivera, Leônidas e Pedro Rocha. Nenhum venceu a Copa. E daí? (AM)

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Foto: Arquivo pessoal colonista

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