Felipão, quando de sua passagem pela seleção. Foto: CBF

Felipão, quando de sua passagem pela seleção. Foto: CBF

Revi neste domingo no Sportv os vergonhosos 7 a 1 que a Alemanha impuseram à Seleção Brasileira de Felipão, Murtosa, Parreira, Fred. David Luís, Dante, e, Deus que nos proteja, Marco Polo Del Nero, o “presidente” de plantão na CBF. Revi, não, vi, pois que no dia do massacre desliguei a televisão antes de seu desfecho humilhante para os de amarelo.

As imagens mostram com riquezas de detalhes que o vexame começou logo na entrada em campo das duas seleções. Na verdade, começou bem antes. Mas disso trataremos de pois. Por enquanto, vamos nos ater aos instantes que antecederam ao jogo.

É ali, quando as duas seleções estavam perfiladas para a entrada em campo, que as diferenças de comportamento se evidenciam e são determinantes para o que se vê depois. Os jogadores brasileiros, cada um deles com a mão colocada sobre o ombro do companheiro da frente, estão tensos, fisionomias carregadas, inseguros para o que terão de enfrentar minutos depois. Ao lado deles, a imagem mostra os alemães relaxados, tranquilos. Percebe-se até que notam a tensão dos adversários. Conversam entre eles, trocam confidências, olham para os brasileiros, riem. Estão relaxados.

No momento dos hinos, os brasileiros mostram a fragilidade emocional que exibiram em todas as partidas do mundial. Cantam o “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas” a plenos pulmões. Alguns se esforçam para não chorar. São impulsionados pelo clima instalado em um Mineirão fumegante, dentro e fora de campo, pois que o país vivia o caos político que permanece até agora, seis anos depois.

Assim que a bola começou a rolar, o Brasil partiu para cima dos rivais sem nenhum controle emocional. Desestruturado taticamente, desnorteado, fragilizado. A correria inicial propiciou a criação de algumas dificuldades para os alemães. Não demorou, porém, para que os adversários tomassem conta do jogo. O massacre era uma questão de tempo. O meio-de-campo era um espaço fértil para os de camisa rubro-negra. Eles entravam na área do Brasil com a maior facilidade. David Luís queria ser tudo ao mesmo tempo: zagueiro, volante, meia, atacante. Às vezes fazia tudo isto ao mesmo tempo, ao dar chutões para o ataque.

Como se não acreditassem que tinham pela frente um rival bem armado taticamente e muito melhor preparado emocionalmente, os brasileiros continuaram atacando como um bando de índios nos filmes do velho oeste norte-americano. Thomas Müller, aos 11 minutos, deu início à saraivada de golpes fatais, cujo resultado todos sabemos e faz mal para a saúde ficar relembrando.

Na entrevista coletiva, Luiz Felipe Scolari assumiu para si a responsabilidade pela derrota histórica. E nem vale a pena reproduzir agora as suas palavras, em plena pandemia do Covid-19.

Muita gente boa atribuiu o vexame à desorgonização do futebol brasileiro. E quem há de discordar? O futebol do Brasil sempre foi desorgonizado. Historicamente só houve uma trégua na maneira de se organizar com métodos e bom senso a nossa equipe para os mundiais. E foi em 1958, na Suécia, quando o empresário Paulo Machado de Carvalho, então dono da TV Record, fez uma planificação para que a equipe que tinha Didi, Garricha e Pelé, entre outros gênios da bola, conquistasse o primeiro título mundial de futebol do país.

Depois, nem em 1970 a organização arrancou suspiros de satisfação. Pois quem tem idade para ter visto ou conhece um pouco a história sabe que a seleção que conquistou o tri no México mudou de técnico três meses antes do início da copa. Saiu João Saldanha, o João sem medo, e entrou Zagallo, o velho lobo.

A falta de planejamento imperou na preparação para a Copa de 2014. Mano Menezes perdeu o cargo um ano e um mês antes do início da competição. Felipão, com Parreira como coordenador, asumiu e se iludiu com o futebol que a seleção mostrou na conquista da Copa das Confederações, realizada no país em 2013.

O título da competição, que a maioria das seleções que a disputa não leva a sério, deu ao experiente treinador a convicção de que havia encontrado o caminho para ganhar o mundial.

Até o massacre contra os alemães, vale a pena recordar, o futebol exibido em campo por Neymar e cia não foi nada alentador. O Brasil passou, no sufoco, por Chile e Colômbia.

O cenário estava pronto para a catástrofe anunciada. Os ingredientes estavam lá: preparação caótica, equilíbrio emocional de jogadores, comissão técnica e dirigentes em frangalhos, falta de um esquema tático capaz de dificultar o domínio técnico e tático dos adversários - a escalação de mais um volante, Paulinho, por exemplo, desde o início da partida -, e a ausência do lesionado Neymar, cuja presença no gramado poderia preocupar um pouco os alemães.

Mas, mesmo sendo alertado antes de que deveria escalar um jogador com maior poder de marcação no meio-de-campo, Felipão optou por Bernard, um pontinha que, segundo o técnico “tinha alegria nas pernas”.

Luiz Felipe Scolari tem, portanto, muita responsabilidade pela maior humilhação que a Seleção Brasileira sofreu na história. Ele tem méritos como treinador, campeão mundial em 2002. Mas vai carregar com ele o carimbo de ter comandado a Seleção Brasileira que foi goelada impiedosamente em casa por 7 a 1.

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