Em 1º de setembro de 2014, quando anunciou a demissão de Ricardo Gareca, o então presidente do Palmeiras Paulo Nobre declarou que a passagem pelo treinador argentino "daria supercerto" no clube paulista caso fosse de "longo prazo". A demissão, no entanto, ocorreu apenas cerca de três meses após a chegada do profissional devido à má fase do time no Brasileirão.
Em conversa com o UOL Esporte, o ex-mandatário alviverde voltou a defender a sua tese de quase cinco anos atrás e elogiou o treinador que levou o Peru à final da Copa América de 2019 após 44 anos. Somado a isso, Nobre disse que torcerá pelos peruanos na partida de amanhã contra o Brasil, às 17h, no estádio do Maracanã.
"Eu não vou mentir, sou brasileiro, obviamente tenho muito orgulho de ser brasileiro, mas essa seleção não me representa e eu sou Gareca até debaixo d´agua nesta final. Não torço contra o Brasil, pelo amor de Deus, mas eu estou torcendo pelo Gareca porque acho que ele merece. O Brasil é o franco favorito, não só pelos 5 a 0 [pela primeira fase do torneio continental], mas por estar jogando em casa e por ser uma seleção que, por mais que não me represente, tem grandes jogadores."
"Jamais iria torcer contra o Brasil, como não torci contra em 2018 [na Rússia], mas te digo que acabou o jogo entre Brasil e Bélgica [pelas quartas de final da última Copa], eu fui seguir o meu dia normal, não me abalou em absolutamente nada. Então, neste domingo, eu vou torcer muito, mas muito, muito pro Ricardo Gareca, que é uma pessoa que merece por mais difícil que seja. Eu tenho a consciência disso", acrescentou.
Apesar da torcida pelo argentino, Nobre fez questão de declarar que tem respeito por Tite e também recordou a passagem do treinador da seleção brasileira no Palmeiras, em 2006. À época, o comandante gaúcho foi demitido dentro do avião, quando a delegação voltava a São Paulo, depois da derrota por 3 a 2 para o Santa Cruz, em Recife. Para piorar, o técnico ainda foi hostilizado por torcedores no desembarque no aeroporto.
"Particularmente, eu acho que o Palmeiras tem uma dívida moral com o Tite pelo o que aconteceu na época do [Salvador Hugo] Palaia [ex-diretor de futebol do time]. Foi uma coisa vergonhosa, e o Palmeiras não pode, em hipótese alguma, passar por este tipo de situação. O comando do futebol tem o direito [de trocar de treinador], mas existe maneiras e maneiras de se fazer isso. Fiquei envergonhado com a maneira que o Tite foi demitido."
Choro por demissão de Gareca
Passados quase cinco anos, Nobre comentou que ainda tem contato com o Gareca, tanto que o parabenizou por ter classificado o Peru à Copa da Rússia de 2018, findando um jejum de mais de três décadas - a última participação dos sul-americanos em um Mundial havia sido na Espanha, em 1982.
Devido à ótima relação entre as partes, o ex-mandatário recordou que se emocionou quando chamou o argentino para anunciar a sua saída do Palmeiras.
"Ele foi, sem dúvida nenhuma, um dos melhores técnicos com quem eu já trabalhei. É um cara extremamente bem-sucedido, com convicções muito peculiares do trabalho que ele tem. Ele é um ser humano muito bacana. Infelizmente, acabou não dando certo aquela passagem pelo Palmeiras. Eu chorei muito, mas chorei de correr lágrimas. Ele falou para mim: ´não, não presidente, não chore, você me deu uma oportunidade, teve mais paciência do que teriam tido comigo na própria Argentina´".
Ricardo Gareca foi contratado pelo Palmeiras no fim de maio de 2014. Comandou o time até setembro do mesmo ano. Foram 13 jogos no comando: quatro vitórias, um empate e oito derrotas, gerando aproveitamento de 33,3%.
Roberto Carlos argentino
De acordo com Paulo Nobre, a relação com Gareca era tamanha que apelidou o agora treinador da seleção peruano de Roberto Carlos devido à semelhança do cabelo do argentino com o famoso cantor brasileiro.
"Eu sou péssimo para decorar nomes e ele tem uma coisa ligado com cabelo. Careca, careca, careca (lembrava cabelo), sabe como eu chamei ele a primeira vez? Cabelo, fala cabelo! Não é Gareca, não era com cabelo? Não era com Careca que eu associava, puta que pariu. Isso foi engraçado."
"Outra coisa é que eu não chamo ele de Ricardo, eu chamo ele de Roberto, porque lembra quando ele chegou no Palmeiras ele era o sósia do Roberto Carlos, aquele cabelo cumprido. Um dia eu brinquei com ele, Robertoooo, ele falou: ´Ricardo´. Eu falei, não, Ricardo na Argentina, aqui no Brasil você é o Roberto Carlos. Cara, ele morre de rir", brincou.
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