Foi difícil reunir coragem para olhar para a cara de derrotada dupla Felipão e Parreira. Sempre cornetei ambos: Felipão pelas proezas conseguidas como ser demitido do Chelsea com direito a celebração pelos jogadores, ter tido um capítulo pífio na sua história no grande Usbequistão, rebaixar o Palmeiras montando um elenco terrivelmente peladeiro, ter perdido uma final para a Grécia com Portugal jogando em casa... Já Parreira tem o título de 1994 a seu favor, mas quando olhamos de perto lembramos que, por ele, Romário, que foi héroi, jamais jogaria aquele mundial.
Assusta-me a coletiva de ambos, dizendo que foi um acaso ou um "apagão". A Alemanha sofreu (muito!) para se classificar diante da Argélia. Foi para a prorrogação. Conseguiu a vitória. Já pensou se, aos 93, num chutão pra frente, a bola sobra a Argélia elimina a Alemanha? Sim, isso é acaso.
Não é acaso tomar 7 gols em uma semifinal. É um time mal preparado, mal montado, mal convocado. Ontem, ao subir as escadas e pegar a Brazuca, o time de Felipão contava com um trio de atacantes formado por Fred (rebaixado com o Fluminense), Bernard (reserva no futebol ucraniano) e Hulk (estrela do futebol russo). Estava meio claro que não ia dar.
Na época da convocação, houve senso comum que isso era o que o Brasil tinha de melhor. Felipão, pior com as palavras do que dentro de campo, ainda teve a capacidade de creditar a derrota à pouca experiência. Será que ele não lembra que foi ele próprio quem convocou aqueles 23?
Hulk, Jô e Bernard foram as maiores aberrações, seguidos de perto por Dante e Ramires. Fora o desconhecimento tático evidente do treinador, que desde o primeiro dia percebia que faltava alguém para pensar o jogo, não roubar e passar. Hernanes continuava sentado. Paulinho foi barrado porque Fernandinho jogou bem um trecho de jogo que entrou - foi desastroso nos outros 2 que jogou, dando inclusive dois gols para a Alemanha. Mas no Brasil é assim, as coisas são feitas no improviso.
O mundo derreteu-se por um Atlético de Madri com um eficiente Diego Costa, um seguro Courtois... Havia ali um típico camisa 10 brasileiro - não titular, mas superior a praticamente todos os nossos meio-campistas nessa Copa: Diego. Kaká conseguiu mais sequência no Milan, Robinho correspondeu quando convocado nos últimos amistosos. Philippe Coutinho fez excelente temporada no Liverpool, onde joga em alto nível desde 2007 o volante Lucas Leiva. O zagueiro Alex, depois de boas passagens no Chelsea e no PSG, chegou ao Milan (mais um grande em seu CV). Willian, rebaixado a um ponta reserva, não pode aproveitar seu entrosamento com Oscar.
Será que a Seleção que jogou é "essa aí" mesmo, como disse Felipão, argumentando que não tinha mais quem chamar? A pergunta que deixo: qual geração é mais fraca? A de jogadores ou a de técnicos? Não tenho dúvida alguma da resposta. Se na Copa a Seleção é a pátria de chuteiras, melhor mudar aquela frase que fica no meio dela.
Rafael Gonçalves é jornalista, locutor, escritor de fundo de gaveta, chef de churrasqueira, cantor de chuveiro e ex-goleiro. Mestre em Comunicação e Inovação, amante de futebol das bolas redonda e oval, baseball e quatro rodas acelerando. Roqueiro apaixonado por Michael Jackson e Frank Sinatra. Sigam no www.twitter.com/faelgo.
Foto: Placar
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