A visão de Sinem se aplica à política que o clube vem adotando no Itaquerão

A visão de Sinem se aplica à política que o clube vem adotando no Itaquerão

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

A ideia de que o Corinthians atinge todas as classes sociais, e não apenas a base da pirâmide, é um dos pilares do departamento de marketing do clube, que em pouco mais de seis meses de trabalho duplicou a base de sócio-torcedores que encontrou ao assumir. Em entrevista ao UOL Esporte, Izael Sinem, responsável pela área, fala sobre a escassez de patrocinadores no mercado e explica por que discorda da maneira como se pensam os estádios no Brasil.

"Aqui se criou uma cultura de que a arena tem de ser barata e a TV é cara. No mundo inteiro você dá acesso à massificação do esporte pela TV ou a mídia em geral. Quem vai na arena são aqueles que podem pagar, porque vão ver o show ao vivo. Pagar ingresso para qualquer esporte no mundo é caro", diz o dirigente, que assumiu o cargo no Corinthians no início desse ano.

A visão de Sinem se aplica à política que o clube vem adotando no Itaquerão. Hoje, só 11 mil dos mais de 45 mil lugares do estádio são vendidos a preços populares, e 7 mil deles são exclusivos das organizadas. Há, na torcida, quem pressione por um barateamento do tíquete com base no histórico de que o Corinthians é o "time do povo". O velho slogan, na visão do dirigente, não pode ser mal interpretado.

"O Corinthians é o time do povo, do povo brasileiro. O Corinthians não é o time do povão, da classe C e D, só", diz Izael, que explica melhor o raciocínio. "O Corinthians é o maior retrato da pirâmide brasileira. Se perguntar hoje qual é o clube que tem mais torcedores da classe A, é o Corinthians. Qual é o maior clube da classe média do Brasil? É o Corinthians. Maior nas classes D e E, na base da pirâmide? É o Corinthians. Por quê? Porque ele representa o extrato da população brasileira", completa.

Acompanhado de Alexandre Ferreira, gerente de marketing, e Carlos Martins, responsável por licenciamento, Izael falou durante uma hora sobre temas variados, e opinou sobre o mercado em que está inserido e o futuro do Corinthians. A veja a íntegra da conversa abaixo:

UOL Esporte: Vocês assumiram no começo do ano. O que mudou desde então?
Izael Sinem: Acho que o momento para a entrevista é oportuno porque tem mais de seis meses de trabalho. Eu comecei efetivamente no fim de janeiro. Aí veio a contratação do Alexandre, depois o Carlos. Foi o grande diferencial. Na gestão anterior o departamento era uma coisa bem verticalizada e posso dizer que até um pouco viciado, do ponto de vista de que as mesmas coisas eram encaradas sob o mesmo prisma. Com a vinda deles isso deu uma nova dinâmica. Houve valorização de outras áreas do clube, porque o marketing não trabalha só para o futebol. É óbvio que o futebol é a pedra angular do clube, mas existem outros esportes, outras demandas, que na avaliação da diretoria têm funcionado bem. Então estou muito satisfeito com esses seis meses de trabalho. E tem alguns números que mostram crescimento. A gente mais que dobrou a base do Fiel Torcedor.

Alexandre Ferreira: Houve uma queda no começo do ano, isso foi revertido. Dobrou do momento que a nova diretoria assumiu até agora, é bom dizer. No passado o Corinthians já teve esse patamar.

Nota da Redação: Em fevereiro, o programa chegou a 20 mil sócios, afetado pelo mau futebol, as punições de 2013 e uma mudança nos preços praticados. No ano passado, eram 60 mil afiliados adimplentes.

UOL Esporte: Qual é a base de sócios hoje?

Alexandre Ferreira: Gira em torno de 54 mil, esse é o número que estamos trabalhando.

Izael Sinem: Acho que é importante colocar não só essa satisfação, mas também a própria prioridade do departamento, que é viabilizar recursos para o clube como um todo. Além de ter muita coisa encaminhada, o Corinthians hoje é o único dos grandes de SP que tem patrocínio. E não só patrocínio máster, mas patrocínio na manga, no ombro, no número da camisa, internos. Isso ficou muito bem administrado também. Hoje a gente tem uma postura mais ativa em relação a patrocínio. Normalmente o clube de futebol está lá, aí vem alguém que conhece alguém, que indica alguém. Hoje não, o Corinthians está capacitado a visitar potenciais patrocinadores ou os atuais e estabelecer uma conversa com antecedência e planejamento. A gente tinha boleiros antigamente. A formação da maioria das pessoas que estavam aqui era de boleiro. Tanto o Alexandre como o Carlos vem da comunicação. Nesse aspecto acho que estamos muito bem servidos.

UOL Esporte: Em entrevista à Máquina do Esporte, um executivo da Carsystem reclamou que nunca havia sido procurado por um clube para negociar, isso justamente depois de ter fechado com o Corinthians. Hoje o clube consegue evitar esse cenário?
Izael Sinem: Hoje o Corinthians é muito demandado. Eu trabalhei na Nestlé, saí de lá faz um ano e meio. Estou com o Corinthians há oito meses. São marcas muito demandadas, muito queridas, muito valorizadas. Você praticamente não precisa vender. Agora, existem formas de tratar isso e potencializar essa demanda. Isso se faz tendo noção de valores, se planejando, organizando e dando prioridade àqueles que já são parceiros sem abrir mão de valor de mercado. Você acaba tendo uma postura mais ativa que reativa.

UOL Esporte: Por que só o Corinthians tem patrocínio máster entre os grandes de São Paulo? A TV tem peso nisso?
Izael Sinem: Não acho que seja a TV. É um conjunto de fatores. É a gestão, a forma como a gente trata isso. E a própria força da marca Corinthians. Tem mais de 30 milhões de fieis torcedores. Eu tenho outra atividade, mas se vou a reuniões pelo Corinthians ou para a minha atividade privada, o fato de poder falar em uma camisa do Corinthians, ou um ingresso, é impressionante o que mobiliza e o que valoriza. Com os outros clubes você não vê isso. A relação entre o torcedor corintiano e o seu clube é muito grande, é muito forte. Se você souber trabalhar isso... E a gente está aprendendo, mas acho que tem acertado mais do que errado. Essa massa é que brilha para os patrocinadores. Existe uma nação que abraça essa marca. Abraçar essa marca não significa estar distante das outras.

Alexandre Ferreira: Outro dia a gente estava brincando no clube por causa da nova pesquisa do Ibope. Se você levar em conta só os torcedores mesmo, e não simpatizantes, talvez o Corinthians fique em primeiro.

Carlos Martins: Seria interessante perguntar em que posição está o seu time e qual é o próximo jogo? O torcedor comum não saberia responder, o corintiano sabe.

Izael Sinem: E digo mais, se tem um clube que se beneficiou de TV nesse país é o Flamengo. A Globo sempre transmitiu para todo o Brasil os jogos do Flamengo. Eu não vejo como televisão. Jogar para cota de televisão é ridículo. É a mesma coisa que ficar perguntando quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Então trata de tratar melhor seu torcedor, aumentar isso para ter mais espaço na TV. Mas você não tem espaço e não consegue fazer isso.

Foto: UOL

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