Por André Rosemberg
A luz dos holofotes já se vê de longe. Para todos anuncia: hoje tem jogo do Timão. Noite de gala, quarta-feira, como tem que ser.
Vem gente de todo o lado, 10, 20, 30 mil. Vem de carro, de trem - vem a pé. No busão lotado, meio corpo para fora da janela, um torcedor incita a procissão: "Vai, Corinthians".
O carro, com o porta-malas aberto, toca o hino sem parar. Na calçada, o ambulante se esgoela para vender seus badulaques. E a multidão segue seu passo. Devagar, obstinada, como se descesse a Major Natanael, lá do Metrô ClÃnicas: "Ô, ô, ô, todo-poderoso Timão".
A batucada não atravessa o ritmo. Tem surdo, caixa e tamborim. Se a fome aperta, manda um churrasquinho. O gosto é do freguês: de gato ou grego, no capricho. Até a cerveja foi liberada: "Aqui tem um bando de louco, louco por ti, Corinthians".
A Gaviões estendeu a faixa, a Estopim, a Pavilhão e a 12, também. O bandeirão foi desfraldado. No Tobogã não cabe mais ninguém: "A semana inteira, fiquei esperando pra te ver, Corinthians, pra te ver jogando".
No céu, encastelado na lua escondida, São Jorge nos conduz. Saravá, meu guerreiro, você vai nos ajudar.
O juiz é um safado, como de costume. Metendo a mão no Coringão. O Tite, em frente ao banco, esquenta a orelha do bandeira (outro sem-vergonha): fala muito. A torcida visitante encolhida no chiqueirinho: a meia-dúzia de sempre, acabrunhada pela Fiel.
Reconheci meu companheiro solitário de arquibancada. Em pé, sempre naquele degrau. Me acenou, cúmplice.
Eu vi gente chorando, emocionada. Muita mandinga, reza e benzimento. Se nos distraÃmos por um instante, parece até que estamos na casa da gente, no velho Pacaembu. Mas não estamos? Claro que sim! Mesmo do outro lado do mundo, tudo está em seu lugar, sem tirar nem pôr. Até o maldito sofrimento... Que remédio: faz parte da nossa sina. Vai, Corinthians!