Henri ao lado de Caio Ribeiro, durante o Caioba Soccer Camp, evento que promoveu a inclusão através do esporte. Foto: JR Paradesporto/Divulgação

Henri ao lado de Caio Ribeiro, durante o Caioba Soccer Camp, evento que promoveu a inclusão através do esporte. Foto: JR Paradesporto/Divulgação

O ano de 2019 nos fez refletir sobre uma questão por muito tempo ignorada: a inclusão de pessoas com deficiência no mundo dos esportes. Quando o repórter da TV Globo, Marco Aurélio Souza, flagrou Silvia Grecco “narrando” os jogos do Palmeiras ao seu filho, Nikollas, deficiente visual e autista, nas arquibancadas do Allianz Parque, abriu-se uma porta para que as pessoas com necessidades especiais fossem enxergadas e, mais do que isso, abraçadas pelo esporte.

Fundador do Projeto Serendipidade, ONG que trabalha a inclusão de pessoas com Síndrome de Down e autismo, Henri Zylberstajn comemora que o assunto tenha ganhado espaço na mídia e destaca que o ano passado foi importantíssimo para a causa.

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“Não é que estamos preparados para a deficiência intelectual, longe disso, mas as portas começam a ser abertas. E os bons exemplos aparecem”, afirmou Henri, pai do Pedro, que nasceu com Síndrome de Down e incentivou o pai a criar a ONG.

“Acho que passou da hora da sociedade ter um olhar diferenciado com pessoas que tem necessidades diferenciadas. Elas passaram muitos anos invisíveis. E não estamos falando de um grupo pequeno. No senso de 2010, do IBGE, quase 25% da população se declarou com algum tipo de deficiência”, afirmou. “Em todos os campos da inclusão e da diversidade, ainda que a gente tenha muita coisa para fazer, é inegável que temos avanços”, completou Henri que destacou o exemplo de Silvia Grecco e seu filho Nikollas como um marco na divulgação da causa.

“Tem a história maravilhosa do Nikollas Grecco e da Silvinha, mãe dele. Ganharam o prêmio da Fifa de melhor torcedor, ela discursou pro mundo inteiro, foi maravilhoso. E até o Marco Aurélio, repórter, descobri-la, ela passou cinco ou seis anos fazendo isso duas vezes por mês e ninguém viu. Por um lado mostra o quanto pessoas com deficiência passam muitas vezes despercebidas, são invisíveis. E a gente começa a perceber que elas não são tão invisíveis assim”, afirmou.

 Silvia Grecco e seu filho Nikollas, vencedores do prêmio de Torcedor do Ano, da Fifa, ao lado deos jogadores do Palmeiras Willian,  Luiz Adriano, e Dudu. Foto: Cesar Grecco/Palmeiras

Se projetando nas arquibancadas assistindo ao seu time do coração, o Corinthians, ao lado de seus filhos, inclusive do pequeno Pedro, Henri Zylberstajn destaca o esporte como uma ferramenta eficiente de inclusão.

“Todos nós temos nossas individualidades, umas mais aparentes que as outras. O que a gente costuma dizer é que é cool ser diferente. A beleza do mundo, da mente humana, está justamente nas individualidades. Acho que o esporte é uma baita ferramenta pra gente trabalhar a inclusão porque ele atua em todos os campos, pra todas as idades, pra gente de qualquer natureza, credo e origem social, financeira, e gera os benefícios de saúde e sociais”, destacou.

 Henri Zylberstajn ao lado dos filhos, Carolina, Felipe e Pedro, festejando o título do Corinthians campeão Paulista de 2019. Foto: Instagram/Reprodução

“O mundo ideal é que a gente não tenha mais que falar em inclusão e pensar só em convívio. Quando você fala em convívio, você está aceitando que as pessoas são diferentes, e é assim que o mundo é feito. E que por isso você tem que adaptar espaços, atividades, ocasiões, linguagens e tudo mais. Quando isso acontecer de maneira geral, vai acontecer também no esporte. Acho que estamos numa fase privilegiada da inclusão, a aceitação é maior, a informação é maior. Esse é o cenário ideal e a hora que isso acontecer, o esporte vai participar, vamos ter atletas e modalidades misturadas, vamos ter nas arquibancadas muito mais gente com e sem deficiência. Hoje tem muita família com pessoas com necessidades diferenciadas que acaba não indo aos estádios por dificuldade de acesso, por falta de locais adaptados pra quem tem sensibilidade a poluição sonora ou poluição visual, não vai ser do dia pra noite, mas a gente começa a caminhar pra que um dia isso aconteça”, comentou Henri.

A prática esportiva como modo de inclusão

Comandado por Henri Zylberstajn, o Projeto Serendipidade desenvolveu um programa que utiliza a prática esportiva como ferramenta de desenvolvimento e a inclusão de crianças com deficiência intelectual. Desenvolvida pela fisioterapeuta responsável Tanise Maciel e pelo educador físico Rodrigo Gorgen, a iniciação esportiva mantém as crianças com Síndrome e Down ativas e as prepara para seguir com a prática de esportes no futuro.

“Crianças com Síndrome de Down nascem todas hipotônicas, com musculatura mais frágil e frouxidão ligamentar. Por esse motivo, precisam desde cedo fazer estimulação de habilitação, de fisioterapia para aprender a postura, aprender a andar. Quando aprendem a andar, elas não fazem esporte logo que terminam a fisioterapia por falta de cultura e falta de modalidade adaptada”, disse Henri.

“Na prática, elas não fazem esporte, ficam em casa e engordando, porque a Síndrome de Down é caracterizada por um terceiro cromossomo 21, ao invés de uma dupla, e esse excesso genético provoca nas crianças uma aptidão para ganhar peso. Então um menino com 8, 9 ou 10 anos, com Síndrome de Down, normalmente está acima do peso, o pediatra fala para ele fazer esporte. A mãe pega ele na mão, atravessa a rua e leva na escolinha de futebol do bairro. Quando chega lá, encontra 40 crianças da mesma idade sem deficiência, jogando, driblando e fazendo gols. É difícil que uma criança com essa mesma idade que não tenha se exercitado e que não tenha vivido em comunidade com crianças típicas consiga se incluir. Pelo contrário, vai ter exclusão, vai ter bullying”, explicou.

“A ideia do projeto de iniciação esportiva é que não haja mais esse hiato entre a alta da fisioterapia e o início do esporte. Esse programa trabalha de forma adaptada o corpinho das crianças. Tanto no aspecto físico, quanto a parte social que o esporte oferece para todo mundo”, completou.

A iniciação esportiva do Projeto Serendipidade funciona de forma gratuita e está em processo de expansão. Henri Zylberstajn explique o objetivo é atingir o maior número possível de crianças e incentivá-las a seguir no esporte.

“Ele é um programa para crianças carentes. Temos hoje 10 crianças que vieram de um convênio estabelecido com a Apae São Paulo, e duas vezes por semana, durante 50 minutos, são atendidas por educadores físicos. Funciona numa metodologia de circuito, como se fosse um ´funcional´ kids”, explicou.

“A ideia, com a evolução do programa, é oferecer para as crianças, não só que elas se desenvolvam, mas que se familiarizem e tomem gosto pra lá na frente poder escolher o esporte”, completou.

Para conhecer melhor o Serendipidade, seus programas próprios, além de outros projetos apoiados pela ONG, acesse http://pepozylber.com.br/

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