O grito de gol travado por minutos até que a revisão o anule ou valide, o pênalti apontado que é desmarcado, impedimento ou falta que frustram o torcedor e o momento de alegria ou de alívio mudando de lado. Antes cobrado por dirigentes, técnicos, jogadores e torcedores brasileiros, o VAR mal foi implementado e já é criticado até pelos mesmos que o pediam.
O VAR foi usado oficialmente pela primeira vez no futebol brasileiro na Copa do Brasil 2018, além de estar presente nas fases decisivas da Copa Sul-Americana e a Copa Libertadores. Mas a partir deste ano, até mesmo os campeonatos estaduais fizeram uso do auxílio de vídeo nas finais - assim como o Campeonato Brasileiro, que o adotará pela primeira vez na edição deste ano.
E o que pensam os árbitros, que ficam expostos com a evidência do erro cometido e podem ser salvos pelo sistema, ou que demoram para tomar decisões devido a ele, ao mesmo tempo em que são pressionados por jogadores e técnicos?
O UOL Esporte procurou árbitros para que respondessem anonimamente a algumas perguntas relacionadas a aplicação do VAR. E eles saem em defesa do uso do dispositivo de vídeo, mas admitem que o tempo para a aplicação da decisão está demasiadamente longo e querem ainda que possam tomar suas decisões sem que os jogadores fiquem próximos fazendo pressão.
Experiência de apitar com o VAR
Ao todo, nove campeonatos estaduais estão utilizando o VAR para revisão de jogadas neste ano, já nas fases decisivas: Baiano, Carioca, Catarinense, Cearense, Gaúcho, Goiano, Mineiro, Paraibano e Paulista. Os árbitros foram orientados de acordo com o protocolo do VAR apresentado pela International Board e pela Fifa.
Apesar de ainda estarem se adaptando ao uso do auxílio de vídeo, eles reforçam que não há qualquer alteração em relação à aplicação da regra devido aos quatro momentos em que o VAR pode ser utilizado: situações de gol, impedimento, pênalti e expulsão.
"Está sendo para mim uma experiência nova, porém não muda nada em relação à aplicação da regra do jogo. O VAR nos auxilia nas questões de gol ou não gol, impedimentos e lances que possam gerar dúvidas dentro da área?, declarou um dos árbitros.
Demora na tomada de decisão
Uma das principais reclamações quanto ao uso do vídeo tem sido a demora na tomada de decisões. Diferentemente do que é visto no futebol europeu, em que as marcações e revisões levam menos de 1 minuto, nos campeonatos estaduais o árbitro chega a levar 5 minutos para a definição do que será marcado.
E os árbitros aceitam as críticas e concordam que precisa haver mais agilidade para a decisão de cada lance revisado, embora acreditem que a lentidão se dê por ser um dispositivo ainda recente.
"As críticas em relação à demora são bem aceitas, pois estamos em fase de adaptação, e essa demora pode até fazer parte do processo, pois o VAR analisa os lances em todos os ângulos, em câmera lenta e em velocidade normal, isso gera a demora pois temos que ser assertivos", afirma um dos entrevistados.
"O fato é que está demorando, sim. Óbvio que por se tratar de algo novo, existe ainda todo o processo de adaptação e correção, mas a demora acaba atrapalhando, sem dúvidas. A necessidade de corrigir essa falha é imediata", completa outro árbitro.
Confiança ou insegurança com o VAR?
Recentemente, em entrevista coletiva após jogo entre São Paulo e Palmeiras, pela primeira partida das semifinais do Campeonato Paulista, o técnico Luiz Felipe Scolari declarou que os árbitros "não mandam mais nada? depois que passou a ser utilizado o VAR.
A mesma crítica foi feita pelo ex-árbitro Oscar Roberto Godói, hoje comentarista, que acredita que o árbitro da cabine está decidindo sobre as marcações no lugar do que está no campo.
Diferentemente do que apontou o treinador, os árbitros dizem que estão apitando com mais segurança depois que o vídeo foi implementado para o auxílio da arbitragem.
"Acredito que o VAR traz sim uma confiança e uma segurança a mais para a equipe de arbitragem, principalmente nas jogadas mais pontuais e decisivas?, respondeu um dos árbitros.
A possibilidade de correção de um erro que poderia comprometer o resultado de uma partida tranquiliza os árbitros antes da tomada de decisão. "A segurança no acerto de jogadas ajustadas é o que mais favorece à equipe. Mesmo que em algumas situações a decisão tomada pela arbitragem possa ser equivocada, a certeza da correção em lances específicos favorece o espetáculo, não só para a arbitragem, mas também para as equipes?, declara um dos entrevistados.
Para eles, a desconfiança está muito mais na cabeça dos jogadores, técnicos e torcedores do que na equipe de arbitragem. "O VAR traz sim confiança para nos árbitros pois confiamos em quem está analisando os vídeos e sabemos que eles são imparciais. Os atletas, comissões técnicas e torcedores podem até demonstrar está insegurança, mas no fundo eles sabem que as decisões são corretas?.
Pressão dos jogadores
A proximidade dos jogadores, que abordam o árbitro e questionam sobre a marcação e a jogada enquanto ele está se tentando se comunicar com a equipe de revisão de vídeo na cabine é o que mais desagrada. Um dos entrevistados sugere que exista uma área isolada com distância dos atletas para que ele possa falar com o árbitro do VAR.
"Só tem uma coisa que me incomoda: é que, durante a avaliação do VAR, os jogadores ficam nos rodeando e nos questionando sobre o lance. Deveríamos ter um espaço ou posição no campo onde deveríamos nos posicionar e os jogadores serem "proibidos" de se aproximar a menos de 10 metros de nós, até que o VAR avalie o lance é nos dê uma posição."
Aprovado por unanimidade pelos clubes para que seja utilizado no Campeonato Brasileiro, o VAR terá um custo de R$ 19 milhões neste ano, com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) bancando R$ 12 milhões e o 20 clubes da Série A ficando responsáveis pelo restante. E o futebol brasileiro terá de se acostumar, inclusive os árbitros, para que o processo seja mais bem aceito.
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