O Santos apresentou ao Conselho Deliberativo na última semana o pré-projeto do retrofit da Vila Belmiro. O UOL Esporte conversou com exclusividade com o arquiteto Artur Katchborian, do escritório Biselli e Katchborian, que destrinchou todos os detalhes do projeto que assina junto com o escritório Zanatta e Figueiredo.
Uma das revelações do arquiteto à reportagem foi a intenção de fazer um setor geral na nova Vila, que ficaria localizada onde hoje é a arquibancada térrea do gol oposto ao placar. A implantação do setor aumentaria a capacidade inicial apresentada ao Conselho em ao menos mil lugares.
O projeto teve boa aceitação no Conselho Deliberativo santista, mas ainda existem divergência e, principalmente, dúvidas sobre o grupo Bolton, principal interessado no financiamento do projeto. Mesmo assim, Artur Katchborian está otimista na aprovação do plano diretor da obra.
"Ainda estamos muito longe deste sonho, temos um longo caminho pela frente, mas em mais de 100 anos de Vila Belmiro, nunca estivemos tão perto", afirmou Katchborian
Para deixar o torcedor por dentro de todos os detalhes do projeto, o UOL Esporte organizou e respondeu um FAQ, ou seja, as perguntas mais frequentes sobre o projeto, com todos os detalhes que temos até aqui:
Qual será a capacidade?
Ainda não há certeza desse ponto. O projeto apresentado falava entre 18 e 20 mil lugares, mas alguns conselheiros deixaram claro que preferem um aumento nesse número. Katchborian, por sua vez, avisa que o custo por assento irá subir caso a capacidade seja aumentada, mas diz que, sim, é possível colocar até no máximo 25 mil pessoas e não mais que isso.
"Eu ponho 25, mas coloco alguém na parada que não sou eu, nem o presidente, nem quem vai financiar: é a prefeitura. Acho que consigo sim, mas... O assento está custando entre 12 e 13 mil reais cada, se aumentarmos a capacidade, ele deve subir devido a toda a infraestrutura (banheiros, circulações lanchonetes, etc.) que cada assento carrega junto", disse.
E como se daria esse aumento? Não há possibilidade de um terceiro anel, mas sim um aumento na altura do segundo, com mais lugares em cima. O grande problema, segundo o arquiteto, é que a estrutura já invade o espaço aéreo da calçada, mas somente a metragem que a Vila já faz hoje. No entanto, em caso de aumento da capacidade, o anel superior invadiria ainda mais a calçada e precisaria de aprovação da prefeitura para tal.
"Creio que comporta até 25 mil lugares, mais do que isso é bastante complicado. Precisamos de autorização para utilizar estrutura externa, os anéis crescem e o balanço aumenta muito, gerando pilares que podem invadir a calçada", explica.
Imagem: Divulgação
Quanto tempo até ficar pronto?
Após aprovado pelo Santos, o projeto completo deve levar cerca de um ano para ficar pronto. Assim que saísse do papel e as obras começassem, entre 12 e 18 meses até que fossem concluídas. Apenas durante o período de obras o Peixe teria de jogar longe do estádio.
Chegou a existir um projeto modular, que permitiria ao Santos atuar na Vila Belmiro durante as obras com capacidade de 75%, mas o custo seria muito mais alto e a parte arquitetônica sairia prejudicada. Esse projeto foi vetado.
Qual o custo e quem paga?
A obra está estimada entre 220 e 237 milhões de reais, caso seja aprovada da forma como está: com capacidade entre 18 e 20 mil lugares. Com relação ao financiamento da obra, o mistério continua.
O grupo Bolton, que surgiu como principal interessado e chegou a anunciar em seus canais um novo estádio para o Santos, esteve presente na apresentação do projeto, mas não por meio do CEO Roberto Diomedi. O grupo contratou um advogado no Brasil e foi ele quem representou a empresa, já que, segundo o presidente José Carlos Peres, Diomedi não compareceu devido ao nascimento de seu filho.
O estádio pode mudar de nome?
Sim. A primeira especulação que surgiu, e que foi confirmada por Peres, era de "naming rights" em favor do grupo Bolton em troca do financiamento da obra. Em suas redes sociais, o CEO Roberto Diomedi chegou a utilizar o termo Bolton Arena. Ainda assim, o advogado contratado pela empresa afirmou que ainda "não tem nada", que o grupo está interessado no projeto, mas que as conversas ainda iriam começar.
Imagem: Divulgação
Quais serão as principais mudanças?
A intenção é modernizar a Vila Belmiro e dar mais conforto ao torcedor. Para isso, o estádio terá dois anéis de arquibancadas completamente cobertos, além de banheiros que atendam corretamente a capacidade de cada setor e alimentação ainda mais qualificada.
Para possibilitar essa obra, o gramado do estádio será recentralizado e elevado cerca de 40 centímetros para melhorar a visibilidade do anel superior, conseguindo níveis de acordo com o padrão Fifa.
Os vestiários dos jogadores ficarão onde hoje se encontra o salão de mármore do clube, assim como o vestiário da arbitragem e as zonas de imprensa. A ideia é possibilitar uma entrada centralizada dos dois times no gramado do estádio.
As delegações de ambas as equipes também ganharão um estacionamento dentro das dependências da Vila, onde fica a quadra. Do estádio como ele é conhecido hoje, apenas a estrutura localizada na rua Princesa Isabel continuará de pé, cerca de 25% de toda a Vila, o restante será demolido e feito a partir do zero por conta da inclinação das arquibancadas.
Há também um projeto para um boulevard na rua Princesa Isabel, além da ampliação das calçadas ao redor da Vila Belmiro e cobertura para abrigar os torcedores da chuva. As alterações já foram propostas para a prefeitura, que gostou das ideias e já negocia as contrapartidas que o Peixe teria de dar para realizar as obras no entorno.
Como fica a parte administrativa?
Hoje a Vila Belmiro conta com toda a parte administrativa do clube, com exceção do Business Center localizado em São Paulo. Toda essa estrutura será realocada em outro lugar que ainda não foi definido. Existe a ideia de compra de um imóvel ao lado do estádio para isso ou até de levar o administrativo para o Museu Rei Pelé, transforando o lugar em um museu do Santos com uma ala para o Rei do Futebol, como faz o Real Madrid com a ala Di Stéfano.
E os alojamentos da base e feminino?
Hoje localizados sob as arquibancadas da Vila Belmiro, os alojamentos das categorias de base e das Sereias da Vila passarão ao novo CT santista ou ao remodelado CT Rei Pelé. A ideia é que os projetos tanto do estádio quanto do Centro de Treinamento sejam entregues juntos.
"Eu somente propus ao presidente para não projetar no vácuo, porque depois muda tudo. O Santos já tem terreno em estudo", afirmou.
Será uma arena também para shows?
Sim, a ideia é que seja. O palco pode ser perfeitamente montado no setor geral, com estrutura coberta para toda a parte de backstage. Seria uma arena para cerca de 30 mil pessoas utilizando o gramado.
Além de shows, a Vila terá espaços para outras estruturas que poderão ser locadas e funcionarem de maneira independente, mesmo em dias em que o Peixe não jogue. A principal delas é um restaurante com vista para o campo e acesso ao terraço, de onde será possível ter uma vista panorâmica da cidade.
"Não acho que será uma renda significativa, mas sim um ganho institucional espetacular. O morador santista se gaba de ter algumas relações com o Santos. Acho que tem que ter grife. Almoça no restaurante da Vila e depois fica para o jogo", disse.
Imagem: Divulgação
O que acontece com as cativas e camarotes?
Os camarotes térreos serão dissolvidos devido ao anel inferior de arquibancadas. Os camarotes superiores continuarão, inclusive aquele destinado ao Rei do Futebol, mas alguns podem ser realocados. As cativas continuarão existindo, mas o Santos ainda irá definir em qual setor do estádio elas serão colocadas.
Onde irá ficar o setor visitante?
A ideia é que continue onde é hoje, apenas invertendo o lado onde está localizado. Ao invés dos torcedores visitantes ficarem mais próximos à rua Princesa Isabel, onde ficariam muito próximos ao restaurante e ao camarote mais nobre do estádio, a ideia é que fiquem do lado oposto, próximo ao camarote destinado à diretoria do visitante.