Árbitros tem dificuldade para desenvolver VAR no país. Foto: Fernando Torres/CBF

Árbitros tem dificuldade para desenvolver VAR no país. Foto: Fernando Torres/CBF

Desde que foi implantado definitivamente no Brasil, o VAR tem muito mais gerado que evitado polêmicas. Criado para diminuir os erros de arbitragem em lances determinante das partidas, o árbitro de vídeo tem abastecido programas esportivos e redes sociais de discussão sobre os lances em que ele foi posto em prática.

Constatado o fato, já é seguro dizer que o sistema ainda não é um sucesso. Muito pelo contrário. Apenas colocou em check definitivamente a atuação dos árbitros em quase todas as partidas em que há lances difíceis. O VAR é uma tendência, indiscutivelmente.

Todo e qualquer esporte acompanha o andamento da tecnologia e vai se aprimorando. No futebol não poderia ser diferente. A implantação do recurso de vídeo é inevitável no esporte mais praticado do planeta – e ouso dizer que até demorou a chegar. Mas a habilidade em arbitrar uma partida por quem opera o sistema lá da cabine é que eu quero colocar em questão aqui.

Mais do que chamar em lances que não deveria ou mesmo o árbitro principal errar utilizando o recurso, este colunista quer chamar a atenção para lances em que o árbitro acertou em campo, foi chamado pelo VAR e mudou sua decisão. E não é raro. Em praticamente todas as rodadas do brasileirão assistimos esse tipo de lance.

O desenho é o seguinte:

O árbitro, seguro de sua competência, toma uma decisão. Segundos depois é chamado pelos assistentes de vídeo para rever o lance, pois esses acham que pode ter havido coisa diferente do que viu o árbitro. Mas, embora a esmagadora maioria dos espectadores, amantes do futebol e até árbitros comentaristas de tv concordem que o árbitro acertou, ele muda a sua opinião após ver o vídeo – de vários ângulos, que mostra o seu acerto, apesar da opinião de seus colegas. A que se deve a mudança?

Quem defende a implantação do recurso, frente aos que a criticam, apoia-se no argumento de que a decisão é do árbitro; se ele muda após ter acertado é porque é incompetente ou se deixa influenciar. Aqui chegamos no ponto em que este colunista quer colocar uma reflexão na cabeça do leitor: mas quem não é influenciado pela opinião do grupo, sobretudo aquele a qual pertence? Acontece em todos os campos.

Em 1951, Solomon Asch realizou um experimento que ficou conhecido como “unanimidade burra de Solomon Asch”. Para este estudo, Asch reuniu 31 voluntários, que foram colocados ao lado de outras quatro pessoas que sabiam do experimento. Durante o procedimento, um apresentador colocava um desenho com quatro linhas de tamanhos diferentes para que as cinco pessoas falassem qual linha era a maior entre as quatro. No começo, todos concordavam, porque era nítida a diferença de tamanho. Mas depois, os “atores” começaram a mentir com convicção. Eles erravam propositalmente para saber qual reação teriam aqueles que não sabiam do experimento. Curiosamente, embora relutantes no começo, mais de um terço dos convidados concordavam com o grupo mesmo sabendo do erro – muitas vezes com expressões contrariadas (se quiser ver como foi o experimento em vídeo, clique no link https://www.youtube.com/watch?v=wt9i7ZiMed8.

O resultado do experimento de Asch é que as pessoas tendem a acompanhar o grupo em que pertencem mesmo sabendo que estão errados. As pessoas estão sujeitas à influência o tempo todo. É claro que o experimento de Asch não é diretamente ligado ao esporte, mas ele pode estar atrelado ao comportamento psicológico do ser humano na tomada de uma decisão, como a de confirmar uma escolha ou muda-la, no caso do jogo de futebol.

A questão final, voltando ao gramado, é: estaria o VAR atrapalhando a decisão dos árbitros? O VAR influencia ou induz o árbitro ao erro quando ele acerta? Será que os lances determinantes assinalados com ajuda do VAR são apenas erro de decisão do árbitro de campo ou o árbitro de vídeo tem muito mais responsabilidade nisso do que imaginamos? A única certeza que este colunista tem é que, com ou sem influência psicológica na escolha do árbitro principal, o VAR ainda precisa de muitos ajustes, muito treinamento e quem sabe até um redesenho rigoroso para que ele traga mais bem do que mal ao futebol e elimine completamente o direcionamento de resultados e até títulos por causa de erros humanos reparáveis.

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