O futebol foi assunto da conversa entre David Willian Vollero da Silva, de 18 anos, e Daniel Corrêa, de 24, minutos antes de o jogador ser espancado e morto em São José dos Pinhais (PR). Os dois eram meio-campistas.
Em seu depoimento à polícia, ao qual o UOL Esporte teve acesso, o jovem afirmou que durante o "after party" na casa da Allana Brittes "conversou com Daniel, sendo que ele estava bebendo e trocou umas ideias com ele sobre o ramo do futebol, devido a também ter jogado bola, em times de base [...]". David era colega de escola de Allana e mantinha um relacionamento com a garota.
Depois dessa conversa amistosa, David participaria do espancamento de Daniel, segundo ele mesmo admitiu no inquérito policial. Ao lado de seu amigo Ygor King e de Eduardo da Silva, ambos de 19 anos, o suspeito entrou no carro de Edison Brittes Júnior, o Juninho, que levou o jogador contratado pelo São Paulo para a morte. Juninho assumiu ter matado o atleta.
David também tinha tentado a vida como jogador de futebol. Meio-campista como Daniel, participou da Série B do Campeonato Amador de Curitiba de 2015, um torneio promovido pela Federação Paranaense de Futebol. Na ocasião, marcou dois gols, sendo vice-artilheiro de seu time, o Diamante.
No ano seguinte, daria um passo adiante em seu sonho de boleiro: convidado pelas categorias de base do Paraná Clube, passou a defender as cores de um dos três maiores times do estado. Treinou e jogou lá entre outubro de 2016 e maio do ano seguinte.
Pelo Paraná, David chegou a ser campeão paranaense sub-17 em 2016, apesar de não ter entrado em campo, de acordo com relato de um funcionário do clube à reportagem.
"Sempre foi um menino tranquilo, um menino de grupo. Ele ficou esse período conosco mais no departamento médico que jogando, jogou bem pouco", afirmou o profissional, que preferiu ter o nome preservado.
David não entrou em campo, mas estava com a equipe na final do Estadual, vencida pelo Paraná com uma vitória nos pênaltis sobre o Coritiba. Posou com o elenco na foto do título. Curiosamente, o Coritiba foi o clube que Daniel defendeu em seu período no Paraná.
Em sua ficha policial, sua profissão costa como "auxiliar de produção", mas como jogador David era um "meia clássico", segundo o profissional que trabalhou com ele. "Jogava geralmente nos amistosos, era mais ou menos bom."
Durante o período que passou no Paraná, o jogador não mostrou nada que levasse a crer que ele poderia algum dia participar do espancamento de alguém. "Se dava bem com todo mundo, nunca deu problema de comportamento. Tomamos um susto quando vimos as notícias. No tempo que ficou aqui nunca demonstrou nada desse tipo de pessoa", afirmou o funcionário que trabalhou com ele.
À polícia David admitiu que deu chutes em Daniel e um soco em sua cabeça. Mas afirmou que sua intenção ao entrar no carro com o jogador no porta-malas era apenas deixar Daniel na estrada.
Segundo seu depoimento, David não viu o momento em que Daniel foi morto pois "estava em choque, chorando, sem saber o que fazer, e se agachou dentro do carro, pois temeu pela sua vida, e não viu mais o que aconteceu [...] e ouviu Daniel se engasgando com o próprio sangue."
Ygor King, outro suspeito de participação no crime, também tentou carreira como jogador de futebol, tendo atuado pela base de ao menos um clube de São Paulo, embora ainda não esteja claro qual. Ygor também afirmou ter conversado com Daniel sobre futebol antes do crime. Os dois estão presos e devem ser indiciados pela participação no homicídio.
Segundo o funcionário do Paraná, David foi dispensado por "ter jogado pouco e na transição terem vindo vários atletas novos e ele acabou não ficando". A recorrência de lesões no tornozelo e no joelho também atrapalhou. Apesar disso, o vínculo de David com o clube permanecia válido até 2019. O clube deu baixa no vínculo desportivo na tarde da última terça-feira.
Além dos três adolescentes, também estão presos os três membros da família Brittes, Edison, conhecido como Juninho, Allana, a filha, e Cristiana, a mãe.
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