Emanuel Colombari
Do UOL, em São Paulo
Embora a comunidade brasileira do pôquer seja bastante atuante, foi um jogador recreativo que roubou a cena durante a etapa de São Paulo do Brazilian Series of Poker 2018, realizada entre 19 e 25 de julho: Neymar. Após a Copa do Mundo de 2018 na Rússia, o astro do Paris Saint-Germain e da seleção brasileira aproveitou os dias de folga para jogar no Brasil, provocando uma movimentação incomum na competição.
Considerado o campeonato brasileiro de pôquer, o BSOP teve um número de inscritos acima da média para a disputa em SP, a quarta das seis etapas do ano. Durante a transmissão do canal SuperPoker no YouTube, o presidente da organização, Igor Trafane, afirmou que o main event da competição teve mais de 1,8 mil inscritos. Para efeito de comparação, a primeira etapa do ano, também em São Paulo, teve 1046 entradas no evento principal, contra 1136 da segunda etapa (Brasília) e 674 da terceira (Natal).
A presença do astro teve influência, mas não foi o único fator responsável pelo crescimento da etapa paulistana. É o que afirma Vini Marques, coaching de pôquer e comentarista do portal SuperPoker no evento.
"O Neymar ajuda em qualquer coisa. O cara é um fenômeno", elogia Vini, em entrevista ao UOL Esporte, listando fatores que podem também ter ajudado na etapa. "Tem o fator pós-Copa do Mundo. A gente para na Copa do Mundo. Eu dou de quatro a cinco palestras por mês, mas durante a Copa eu não dei nenhuma. Coincide por ser férias de escola, faculdade, do pessoal que pode jogar. Com os filhos de férias, o pessoal que pode vem para São Paulo. Tem ressaca da Copa do Mundo, tem planejamento de (evento) satélite", analisa.
Mas é claro que não se pode deixar de lado a influência do astro do futebol. "O Neymar representa tudo aquilo que o pôquer precisa para estar junto com os profissionais. Um dos maiores atrativos que o pôquer tem é a capacidade de juntar em um mesmo ambiente, num mesmo torneio, profissionais de altíssimo nível, como o campeão brasileiro (Affif Prado), e o recreativo, que vem se esforçando, estudando, aprimorando para que possa competir em grande nível", comemorou Trafane, conhecido como Federal, em entrevista durante a transmissão do SuperPoker.
Neymar não participou do main event, restrito a jogadores que se classificam em disputas no site PokerStars.net (um dos patrocinadores do BSOP) ou que se inscrevem (mediante pagamento de R$ 2,6 mil). No lugar disso, participou da disputa do High Roller, um dos 21 torneios que compuseram a grade da competição realizada em um luxuoso hotel de São Paulo.
Curiosamente, embora o main event seja tradicionalmente o foco de cada etapa, o High Roller é um evento paralelo bastante visado, tanto pelo elevado nível técnico quanto pelo preço da inscrição – o buy-in em São Paulo foi de R$ 7 mil, contra os já citados R$ 2,6 mil do evento principal. Para o jogador recreativo que pode pagar mais, é a chance de jogar em um círculo mais seleto de competidores.
Para a organização, a alternativa também é positiva: é a chance de aumentar o número de interessados no main event, popularizando a prática. Assim, atraem-se jogadores de nível técnico que nem sempre podem investir em grandes inscrições – caso, por exemplo, do norte-americano Chris Moneymaker, que foi campeão mundial de 2003 após se classificar a partir de um site.
Neymar compareceu à competição desde 19 de julho, primeiro dia da etapa. E, embora fosse o nome mais conhecido fora do circuito, Neymar provocou poucas mudanças logísticas.
"Mudou muito pouco. O evento já esta bastante consolidado", explicou Vini Marques à reportagem. Segundo ele, a principal alteração se deu por conta da segurança de Neymar – especialmente pelo fato de o assédio de fãs poderem atrasar o jogador na chegada ao local dos jogos e, consequentemente, a programação da etapa.
"O aparato de segurança do torneio já é muito bom, porque se mexe com muita grana. O que muda com a participação do Neymar? Ele não entra pela porta principal do torneio, por onde entram todos. Ele entrava pelo hotel, como se fosse para um quarto. No pôquer, a gente é bastante conhecido, mas nada que se ce com o Neymar no planeta. Não dá para passar no meio de todo mundo", explicou Vini.
Aí, outra curiosidade: a etapa de São Paulo terminaria na terça-feira (24). Só que Neymar precisaria se ausentar por causa do casamento do ex-lateral Léo, em Santos, no mesmo dia. Resultado? Em acordo com os demais jogadores, Neymar viajou a Santos e o último dia do torneio foi remarcado para quarta-feira – fato bastante raro no pôquer. O BSOP bancou as despesas com hospedagens e passagens dos jogadores.
De volta a capital paulista para o último dia na quarta-feira (25), Neymar fez jogo duro e sobreviveu por algumas horas na mesa. Viu serem eliminados de sua mesa o brasileiro Lucas Tabarin, o israelense Eyal Benshimon e o uruguaio Alejandro Lopez. No meio da disputa, com fome, pediu um lanche do McDonald´s – coincidência ou não, um de seus patrocinadores pessoais.
Com apenas seis jogadores na mesa, Neymar se viu ameaçado com poucas fichas restantes. Na última, tentou levar a melhor no confronto direto contra Bruno Marino, que dispunha de um par de valetes. Neymar tinha um 10 e um ás, e conseguiu formar ainda um par com o 10 da mesa. Ainda assim, as demais cartas não ajudaram. Como o par de Neymar era inferior ao do rival, o astro do futebol se despediu da mesa final.
Ainda assim, o nome mais midiático da disputa deixou a mesa final com a sexta posição entre os nove presentes. Levantou-se, cumprimentou adversários e fãs e distribuiu autógrafos antes de ir embora com o dinheiro que ganhou na etapa: R$ 79.440. Para Vini Marques, a posição de Neymar no High Roller de São Paulo foi "espetacular".
"O feito dele no torneio, pela dificuldade que é chegar em um evento desses, é espetacular", diz o comentarista, para quem Neymar pecou "muito pouco" pela agressividade. "Ele tentou blefar a parada contra um cara que joga mais sólido. O plano dele foi perfeito. Ele sabe que o cara entendeu que ele joga duro. O cara pensa: ´Se o Neymar está jogando aqui, ele tem que ter jogo, porque ele sabe que eu estou jogando firme´. Foi um pouco de falta de experiência. Se ele tivesse um pouco mais de fichas do que ele tinha, a jogada teria funcionado à perfeição."
A vitória no High Roller ficou com o paranaense Affif Prado, que faturou R$ 317.800. Segundo colocado, o chileno Oscar Alache levou R$ 250.000 para casa. Mas para Igor Trafane, a presença de Neymar também é um fato a ser bastante celebrado na etapa de São Paulo.
"O Neymar representa hoje a maior figura pública do país. A nossa satisfação por isso é gigantesca. Além do que ele é completamente apaixonado pela atividade. Isso mostra essa capacidade de atração do pôquer às pessoas que competem em alto nível em outros esportes", completou o homem-forte do BSOP ainda durante a transmissão.
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