Em campo, neste 30 de junho último, estavam não só dois times, mas vários, muitos bilhões de dólares em atletas

Em campo, neste 30 de junho último, estavam não só dois times, mas vários, muitos bilhões de dólares em atletas

Uma chuva de dinheiro.

Dinheiro que não acaba mais.

O que está se gastando com o futebol, por parte de países árabes, já não é mais uma curiosidade.

Já não é mais simplesmente uma novidade: é um fato que faz com que bilhões de pessoas no mundo todo se sentem diante da televisão e torçam contra ou a favor de equipes completamente construídas em torno do mesmo dinheiro árabe.

Vamos entender por que as poucas semanas que separaram a final da Champions League, em que o Paris Saint-Germain conquistou o título inédito, completamente bancado pelo Qatar, até a data emblemática do encontro entre Al Hilal e Manchester City nesta Copa do Mundo de Clubes da FIFA, fecharam um capítulo da história do futebol mundial e abriram uma nova página diante dos nossos olhos.

Uma página em que o dinheiro árabe já não apenas influencia o futebol mundial, mas domina o que há de melhor no esporte mais popular do planeta.

Precisam falar disso: o duelo entre Al Hilal e Manchester City no Mundial de Clubes da FIFA no dia 30 de Junho, foi mais do que um confronto esportivo: foi a materialização de uma nova ordem no futebol mundial.

De um lado, o clube saudita Al Hilal. Seu nome significa " A Lua Crescente".

Mas nas ruas de Ryad, o clube é também é conhecido como "Al-Zaeem", que em português significa "O Patrão".

Por que será....

Uma das razões é porque o clube é o símbolo máximo representativo do ambicioso e multi-bilionário projeto "Vision 2030"( Visão 2030) e do poder estatal do PIF( Public Investment Fund of Saudia).

Que nada mais é do que o fundo soberano mais importante do país..com mais de 600 bilhões de dólares em ativos.

Do outro, no mesmo campo de jogo, naquele mesmo 30 de junho... o Manchester City.

De propriedade do Abu Dhabi United Group, dos Emirados Árabes Unidos, e que desde 2008, que já investiu cerca de 2,3 bilhões de euros no clube.

Somente em contratações de atletas e treinadores!

E que se tornou a equipe mais valiosa da Inglaterra.

Em campo, neste 30 de junho último, estavam não só dois times, mas vários, muitos bilhões de dólares em atletas, marcas, salários, patrocínios. Mas também, de estratégias de soft power: o poder suave, não conquistado à força, mas com dinheiro e nada mais.

O projeto Vision 2030, lançado em 2016 pelo príncipe herdeiro e verdadeiro líder do Reino Saudita, Mohammad bin Salman, é o plano estratégico que visa diversificar a economia saudita, reduzir a dependência do petróleo e transformar o país em potência global em setores como turismo, esportes e tecnologia.

E fazer muito disso tudo....através do esporte.

E não qualquer esporte: usar o futebol como instrumento principal para alcançar estes objetivos.

O PIF é o braço executor desse projeto.

Controla tudo. E todos.

E sabe o que faz: controla diretamente os principais clubes sauditas, define salários, contratações e estratégias, e é patrocinador oficial do Mundial de Clubes da FIFA. O futebol, ness que jogador vai jogar aonde....e em que contexto.

É a plataforma de projeção internacional, atração de investimentos e construção de imagem.

Não é a diretoria do clube que decide quem chega ou sai, mas executivos do Estado saudita, membros do PIF, que também comandam o Al Nassr (de Cristiano Ronaldo), Al Ittihad (de Benzema) e Al Ahli ( de Mahrez, Roberto Firmino e Kessié.).

E do Al Hilal, ex-clube de Neymar.

No Al Hilal, o investimento é massivo e detalhado.

Desde 2023, o clube gastou mais de 500 milhões de dólares em reforços.

Neymar foi o principal nome: custou 106 milhões de dólares ao PSG, com salário anual de 160 milhões de euros, além de bônus, publicidade e regalias inéditas — avião particular à disposição, casa de luxo, cozinheiros, motoristas, seguranças, liberdade para se hospedar e comer onde quiser, bônus de assinatura e até participação em receitas comerciais.

Cristiano Ronaldo, no Al Nassr, recebe 200 milhões de euros por temporada, com equipe pessoal de 16 funcionários?

Ele tem premiações com bônus milionários por gols e títulos e agora...um inimaginável "pagamento" ( que não se tem notícia de algo ugual no futebol profissional de alto nível no mundo!): a participação acionária no clube.

Ou seja: ele tem agora um percentual de proriedade do Al Nasr.

Para sempre.

Já Benzema (Al Ittihad) recebe 120 milhões de euros anuais, Sadio Mané (Al Nassr) 62 milhões de dólares, Ivan Toney (Al Ahli) 35 milhões de dólares.

Entre os técnicos, Simone Inzaghi (Al Hilal) recebe 40,6 milhões de dólares anuais. Ele é o segundo mais bem pago treinador do mundo, atrás de Diego Simeone do Atlético de Madrid.

O PIF também foi responsável por ofertas gigantescas a outros astros: Mbappé recusou 700 milhões de dólares por uma temporada no Al Hilal, com 331 milhões para o PSG.

Messi também foi alvo, com um contrato aberto literalmente: para que o argentino dissesse quanto queria ganhar.

Mas preferiu o Inter Miami.

Ibrahimovic rejeitou proposta milionária "absurda" segundo ele mesmo.

Kanté, Mahrez, Firmino e Koulibaly aceitaram e hoje atuam na liga saudita. E muitos outros estão a caminho de Riad e Jeddah.

O Al Hilal, através do PIF, que aliás patrocina este Mundial da FIFA, não perdeu tempo.

Distribuiu prêmios milionários aos atletas: após a vitória histórica sobre o Manchester City

Nada menos que 17 milhões de euros em prémios. 109 milhoes de reais a serem distribuídos entre os 26 atletas e 6 membros equipe tecnica. o ex-atletas do Santos, Marcos Leonardo, que marcou dois gols deve receber o maior prêmio dentre todos os membros da equipe!

E aguardem: há a promessa de premiações ainda maiores caso avancem à semifinal conseguindo uma vitória contra o Fluminense!

A vitória do Al Hilal sobre o Manchester City, por 4 a 3 em Orlando, foi histórica e simbólica.

De um lado, o time de Pep Guardiola, com elenco avaliado em 1,33 bilhão de euros, dominou o primeiro tempo e abriu o placar com Bernardo Silva.

Mas o segundo tempo foi do Al Hilal: Marcos Leonardo empatou, Malcom virou o jogo, Haaland empatou de novo, Koulibaly e Marcos Leonardo marcaram na prorrogação, e Foden ainda igualou antes do gol decisivo do brasileiro aos 112 minutos.

O Al Hilal, com elenco avaliado em 159 milhões de euros (mas com mais de 500 milhões de euros investidos em reforços), eliminou o mega clube inglês, e mostrou que, hoje, o dinheiro árabe pode desafiar e superar o melhor do futebol europeu.

O significado é profundo: pela primeira vez, um clube saudita, autêntico representante do futebol local (ainda que com apenas três titulares sauditas, o resto....todos estrangeiros), elimina o maior símbolo do projeto econômico-futebolístico do Emirado de Abu Dhabi na Europa: o todo poderoso Manchester City.

É dinheiro árabe contra dinheiro árabe.

Mas também a afirmação de que o projeto saudita não é apenas importar estrelas, mas criar um time capaz de competir no topo mundial.

Com a vitória, o Al Hilal se coloca entre os oito melhores clubes do mundo. E pode chegar a ser um dos 4 melhores do mundo, se chegar à semifinal e vencer o Fluminense.

O Manchester City, desde 2008, é o maior exemplo de investimento estatal no futebol europeu.

O Abu Dhabi United Group transformou o clube, que passou de coadjuvante a potência: sete títulos da Premier League, três FA Cups( Copa da Inglaterra), seis Copas da Liga, uma Champions League.

Com receitas anuais superiores a 700 milhões de libras somente em premiações!

O City Football Group, conglomerado do grupo sediado em Abu Dhabi e gerido desde Londres, controla 13 clubes em cinco continentes, incluindo New York City FC, Melbourne City, Yokohama F. Marinos, Girona, Troyes, Mumbai City, Sichuan Jiuniu, Lommel, Palermo, Bolívar, Espérance Troyes, Montevideo City Torque e o Bahia.

Já o PSG, comprado pelo Fundo Qatar Sports Investments em 2011, investiu mais de 1,5 bilhão de euros em contratações e salários, tornando-se o clube mais valioso da França, apenas coroado como campeão da Champions League e hoje, referência global em marketing e receitas.

A influência árabe se estende aos patrocinadores oficiais da FIFA: Aramco (Arábia Saudita), Qatar Airways (Qatar), ambas com contratos superiores a 100 milhões de dólares anuais, além de patrocínio ao PSG, Inter de Milão e outros grandes clubes europeus. Aqui no Mundial, o PIF da Arábia SAudita é um dos principais patrocinadores da FIF.

A DAZN, plataforma de streaming que tem participação também saudita, pagou mais de um bilhão de dólares pelos direitos do Mundial de Clubes.

Para se compreender um pouco como estão fazendo um verdadeiro play-ground de príncipes, reis, fundos soberanos e governos árabes, aqui vai uma rápida lista do que estes árabes já tem em mãos, de dentro do futebol europeu.

Alem do City group....

O Newcastle United (Inglaterra) pertence ao mesmo PIF desde 2021, o Sheffield United é controlado pelo príncipe Abdullah bin Musa´ad, neto do rei Abdulaziz...da Arábia SAudita.

O Málaga (Espanha) pertence ao sheik Abdullah Al-Thani (Qatar), o Nottingham Forest recebeu grandes aportes sauditas e foi comprado tambem.

E o Granada já teve participação do fundo de Dubai.

Dubai, por sua vez, investe em eventos e marketing, mas ainda não possui um clube europeu de grande expressão como propriedade direta.

O fenômeno do sportswashing, ou seja, o uso do esporte para promover a imagem internacional de regimes e governos, é uma tema central nesse processo.

A Copa do Mundo da FIFA no Qatar 2022 foi o maior exemplo: mais de 220 bilhões de dólares gastos em infraestrutura, estádios e logística.

E promessas de legado social e doações de arenas não cumpridas.

Nenhuma das promessas de doação de estádios ou de criação de legado social do Qatar se concretizou de fato.

Os estádios desmontáveis permanecem sem destino, outros se tornaram elefantes brancos, e o legado anunciado ficou restrito a projetos que não saíram do papel.

O mesmo cenário já paira sobre a Copa do Mundo de 2034, na Arábia Saudita: a dúvida sobre o que ficará para a população local é ainda maior, já que os níveis de gastos e investimentos no futebol atingiram patamares tão elevados...que muitos se perguntam se haverá espaço para torcedores comuns, pequenos investidores, veículos de mídia tradicionais e todos os outros participantes do ecossistema do futebol.

Que lentamente, vão ficando fora deste novo circo que o futebol se transforma, com a inundação de dinheiro de origem árabe.

A Copa de 2022, vejam só.... foi realizada e organizada em uma só cidade.

Isso, enquanto a Copa de 2026 terá EUA, Canadá e México, recebendo jogos. Tres países e milhares de quilometros de distância entre as sedes dos jogos.

Já a Copa de 2030, quera todos os recordes....Ela será dividida entre nada menos que 6 países!

Assim a FIFA explica, que " mais pessoas terão acesso a mais jogos".

Jogos na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. No Uruguai se entende: trata-se da data comemorativa do Centenário da primeira Copa do Mundo na história, realizada naquele país em 1930.

As seleções da Argentina e Paraguai terão o mesmo privilégio que o Uruguai: de jogar em casa suas partidas iniciais...

O Uruguai ok. Mas Argentina e Paraguai....ninguem sabe ou entende porque.

E logo depois, a mesma Copa do Mundo se transfere a dois continentes diferentes.

Mais dezenas de milhares de quilometros de distância e os jogos da Copa de 2030 vão ocorrer na África, mais especificamente no Marrocos.

E tambem na Europa, onde a Espanha e Portugal vão receber a maioria dos jogos desta Copa.

Mas aí chegará 2034.

E ali a FIFA volta ao mundo árabe.

E volta a ter uma Copa do Mundo, novamente em um só país.

A Arábia Saudita, sem concorrência e sem lógica de rodízio continental recebrá, sozinha, a Copa do Mundo de 2034.

A escolha da FIFA de retornar ao mundo árabe apenas 12 anos após o Qatar, sem concorrência real e sem justificativas técnicas transparentes, expõe o peso do dinheiro e da influência política dos fundos e governos...e patrocinadores árabes.

Enquanto Argentina, Canadá, Uruguai, México, Paraguai, EUA, Marrocos, Espanha e Portugal aceitaram compartilhar Mundiais de 2026 e 2030, seja para diluir custos como para ampliar o alcance e atender interesses geopolíticos e comerciais, e orientações da FIFA, o Qatar e Arábia Saudita insistem em eventos centralizados.

Para esses países, a centralização é estratégica: permite controle total da narrativa, da infraestrutura e da exposição midiática, garantindo que o evento seja uma vitrine exclusiva de sua marca nacional e de seus projetos de Estado.

A FIFA justifica a multiplicidade de sedes em 2026 e 2030 como celebração da união de povos, homenagem ao centenário (no caso de 2030) e resposta à pressão política e comercial por inclusão de diferentes continentes.

Mas, ao mesmo tempo, cede ao poder financeiro e à capacidade de organização dos países árabes, que preferem a exclusividade para maximizar o impacto do sportswashing e consolidar sua imagem global.

O resultado é um contraste: enquanto o mundo se divide para organizar Copas, Qatar e Arábia Saudita concentram, investem e transformam o futebol em ferramenta de diplomacia e projeção internacional.

No campo, a magnitude do dinheiro em jogo impressiona: na vitória do Al Hilal sobre o Manchester City, estavam em campo elencos avaliados em conjunto em quase 1,5 bilhão de euros ( quase 96 bilhões de Reais!), com investimentos diretos de governos árabes que ultrapassam 3 bilhões de euros nos últimos cinco anos.

O Al Hilal, com mais de 500 milhões de dólares investidos em reforços, desafia o domínio europeu e se coloca entre os oito melhores clubes do mundo, podendo chegar à uma semifinal de um Mundial se vencer o Fluminense.

O Manchester City, com 1,33 bilhão de euros em valor de elenco, é símbolo do sucesso do modelo de investimento estatal. No caso, do governo de Abu Dhabi.

Entre os dez maiores salários do futebol mundial em 2025, pelo menos cinco foram pagos por clubes sauditas : Cristiano Ronaldo (Al Nassr), Neymar (Al Hilal), Benzema (Al Ittihad), Sadio Mané (Al Nassr) e Ivan Toney (Al Ahli) .

E todos bancados pelo PIF. O Public Investment Fund da Arábia Saudita.

Entre os técnicos, Simone Inzaghi (Al Hilal), Stefano Pioli (Al Nassr), Matthias Jaissle (Al Ahli) e Jorge Jesus (que era Al Hilal) figuram entre os dez mais bem pagos do mundo, todos com salários superiores a 10 milhões de euros anuais.

As ofertas recusadas por Mbappé (700 milhões de dólares), Messi e Ibrahimovic mostram o apetite e o poder de fogo saudita.

O sportswashing se revela também nos chamados clubes-estados: PSG, Manchester City, Newcastle, Al Hilal, Al Nassr, Al Ittihad e Al Ahli são propriedades de governos ou fundos soberanos.

Mas, quando o PSG vence a Champions League, a honra nacional do Qatar não está em campo: quem decide são franceses como Doué e Dembélé, o técnico espanhol Luis Enrique, o goleiro italiano Donnarumma, defensores brasileiros como Marquinhos e Beraldo.

Da mesma forma, os gols de Marcos Leonardo e Malcolm pelo Al Hilal são brasileiros, não sauditas.

O clube pertence ao Estado, mas o talento é globalizado.

O mesmo se aplica ao City, onde Haaland (norueguês), De Bruyne (belga), Ederson (brasileiro) e Guardiola (espanhol) foram e são os protagonistas.

A FIFA, ao abraçar esse capital, colhe frutos em audiência, receitas e projeção global, mas também enfrenta críticas crescentes sobre sportswashing, falta de legado social e concentração de poder.

O futebol mundial de alto nível, em 2025, tornou-se palco de cifras, fundos soberanos e decisões de Estado, com a Arábia Saudita à frente desse movimento, seguida por Qatar e Emirados.

O que antes era curiosidade ou exceção, agora é o novo normal.

O futebol, mais do que nunca, reflete a disputa por influência e imagem global.

O jogo, que nasceu da paixão popular, agora é também ferramenta de poder, símbolo de uma era em que o dinheiro árabe dita o ritmo, impõe o padrão e redefine o futuro do esporte mais popular do planeta.

E um futuro em que muitos se perguntam se ainda haverá espaço para a paixão genuína, para o torcedor comum e para todos os pequenos participantes que sempre fizeram do futebol uma celebração coletiva.

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