Há exatos 12 anos, na manhã de 24 de agosto de 2012, morria Félix, o goleiro que defendeu a meta da Seleção Brasileira na vitoriosa campanha na Copa do México, em 1970.
Ele sofria de enfisema pulmonar e estava com 74 anos, morando na capital paulista.
Paulistano nascido em 24 de dezembro de 1937, Félix Miélli Venerando começou pelo Nacional-SP, como amador. Profissionalizou-se pelo Juventus, passou pela Portuguesa, voltou a vestir a camisa do Nacional por empréstimo, novamente atuou pela Lusa e depois Fluminense, onde permaneceu entre 1968 e 1978.
O "Papel", apelido que ganhou pelo físico franzino e os voos espetaculares que fazia nas defesas, sofreu com críticas Muitos julgavam que outros goleiros eram mais capacitados para estarem em seu lugar na Copa de 70.
Sobre isso, aliás, Milton Neves escreveu um texto, no exato dia da morte de Félix, que segue abaixo, na íntegra:
Morreu Félix, um de nossos heróis de 1970
por Milton Neves, escrito em 24 de agosto de 2012
Falei muito com o "Papel" nesses últimos anos.
Ele sempre me ligava e o entrevistei trocentas vezes no rádio e TV.
E um tema era recorrente.
"Hoje, ouvi pela milionésima vez que o Brasil ganhou a Copa de 70 `apesar do Félix´. Isso não para nunca", reclamava, com inteira razão.
Aliás, como já fiz tantas vezes, reitero aqui um pedido aos jornalistas esportivos, principalmente aos mais jovens que nem tinham nascido em 1970: cessem com essa injustiça!
E pergunto se existe uma só pessoa no mundo que possa garantir que, com qualquer outro goleiro, se o Brasil ganharia a Copa de 70 como ganhou com ele, Félix, na meta.
E essa é a única certeza que temos: com ele ganhamos e isso ficou para sempre!
Só que os ingratos brasileiros preferem idolatrar Gordon Banks, o goleiro derrotado de 70.
Se com Ado ou Leão, que era sensacional, a gente ganharia também, só saberemos se Deus consultar seus arquivos e possibilidades e der uma entrevista coletiva no Vaticano e anunciar para todo mundo.
Como isso é impossível peço aos jornalistas e ao povo que entendam que entre os ex-jogadores a mais bonita das lágrimas é a da saudade.
O boleiro de ontem só tem exatamente na saudade seu grande alento de vida.
Eu falo, mostro e escrevo muito sobre os ex-jogadores por uma única razão: gratidão.
Eles, todos, uns mais outros menos, me nortearam na vida.
Estava perdidinho da silva lá pelos anos 60 quando me apaixonei por eles, pelo rádio e pelo futebol.
Hoje, ao registrar suas histórias em todas as mídias, retribuo um pouquinho do que eles me deram: um norte, uma profissão.
E são todos emocionantes.
Recebi uma vez no saudoso "Golaço" da Rede Mulher (hoje Record News) os ex-zagueiros Ramos Delgado e Turcão, ex-Palmeiras e São Paulo.
Ao final, perguntei aos dois o que acharam do programa-homenagem, que ia sempre ao ar às sextas-feiras.
"Me senti em Nunez", respondeu "El Negro", Ramos Delgado, referindo-se aos seus áureos tempos de jovem zagueiro do River Plate.
Já Turcão, o Alberto Chuairi, se levantou, me abraçou e disse: "tenho 79 anos (em 2005), joguei 25 anos e foi a primeira vez que apareci na televisão". E chorou.
Querem algo mais gratificante do que isso?
E, agora, leiam com atenção a frase abaixo e depois republiquem, divulguem, retuitem, telefonem e também no boca a boca multipliquem aos milhares as mais lindas e sábias palavras que ouvi do saudoso Félix por várias vezes.
"Pelo menos quando eu morrer que parem de dizer que o Brasil ganhou a Copa de 70 ´apesar do Félix´. O Barbosa foi crucificado porque não ganhou a Copa de 50 e eu por ter ganho a Copa de 70. Duas grandes injustiças", sempre bradava.
E essa frase merece ser histórica e eternizada como a de Barbosa que dizia ser o único brasileiro a cumprir uma pena superior aos 30 anos, o tempo máximo de punição imposta a qualquer criminoso no Brasil.
Assim, que agora, lá no céu, nosso "Papel" possa viver em paz livre de sua "pena" de 42 anos de enorme injustiça.
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