Sabe aquela cobrança de pênalti com cavadinha, em que o jogador bate fraquinho no meio do gol, contando com que goleiro caia para um canto? Ao lembrá-la, talvez venha à mente do torcedor brasileiro imagens de Marcelinho Carioca, Djalminha ou Loco Abreu como símbolo deste estilo. Mas no resto do mundo – pelo menos na Europa e nos Estados Unidos – esta batida já tem um nome definido: Panenka.
O termo reverencia o meia tchecoslovaco Antonín Panenka, herói do título da Euro 1976. Naquele ano, a Tchecoslováquia enfrentou a Alemanha Ocidental, então campeã do mundo, na finalíssima. No tempo regulamentar, o duelo terminou empatado por 2 a 2, o que levou a decisão para os pênaltis. As sete primeiras cobranças foram convertidas pelos atletas dos dois times. Na oitava, o alemão Uli Hoeness mandou por cima.
Panenka era o encarregado da última batida da seleção de seu país. Se convertesse, a Tchescolováquia conquistaria o título inédito. Pela frente, ele tinha nada menos que Sepp Maier, o melhor goleiro do mundo naquela época. O camisa 7 tomou distância, correu em direção à bola, fez que soltaria uma bomba, mas apenas tocou levemente no meio do gol.
O lance pegou todo o mundo do futebol de surpresa, mas ele não era inédito. O próprio Panenka admitiu que já o havia utilizado em partidas da Liga Tchecoslovaca.
“Comecei a treinar a cobrança dois anos antes da Euro. No início, eu fiz isso em amistosos e depois fiz uma ou duas vezes durante partidas da Liga Tchecoslovaca. Funcionou tão bem que eu decidi que usaria essa técnica se eu tivesse um pênalti na Euro”, afirmou Panenka em uma entrevista de 2012 ao Football Writer´s Association. Ao mesmo veículo, o meia contou como surgiu a ideia de cobrar com a cavadinha.
“Eu cheguei a essa ideia porque eu costumava treinar pênaltis depois dos treinos no Bohemians com nosso goleiro, Zdenek Hruska. Para ficar competitivo, nós costumávamos apostar uma cerveja ou um chocolate em cada pênalti. Infelizmente, porque ele era um grande goleiro, eu terminava perdendo dinheiro. Uma vez eu fiquei acordado à noite pensando em como ganhar dele. Eu percebi que o goleiro sempre esperava até o último momento para tentar antecipar onde ia a bola e pulava exatamente antes do chute, para que ele pudesse chegar à bola a tempo. Eu decidi que era provavelmente mais fácil de marcar se eu fingisse o chute e então desse um toque suave no meio do gol. Eu tentei nos treinos e funcionou perfeitamente. O único problema é que eu comecei a ficar bem mais gordo por ter ganhado todas aquelas cervejas e chocolates”, explicou.
Os treinos no clube que defendeu por quase toda a carreira fizeram com que a decisão de utilizar a cavadinha cobrança final da Euro 1976 não fosse difícil de ser tomada. Pelo contrário.
“Para mim, foi o jeito mais simples e fácil de marcar porque, naquela época, ninguém estava familiarizado com esse estilo de pênalti. Ninguém esperava, o que fazia com que a probabilidade de sucesso fosse muito alta”, disse o meia.
Panenka pelo mundo
A cobrança inusitada em 1976 correu o mundo e acabou inspirando dezenas de jogadores. O italiano Totti utilizou a técnica na disputa por pênaltis da semifinal da Euro 2000, contra a anfitriã Holanda. Zidane teve a ousadia de cobrar com um Panenka no tempo normal da final da Copa do Mundo de 2006, contra a Itália de Buffon. O uruguaio Loco Abreu fez o mesmo nas quartas de final do Mundial de 2010. Assim como o chileno Alexis Sánchez para decidir a Copa América de 2015, contra a Argentina. Os exemplos de cavadinhas em momentos importante são diversos.
Mas nem sempre um Panenka dá certo. Alexandre Pato sabe bem disso. O atacante aplicou a técnica contra Dida, do Grêmio, nas quartas de final da Copa do Brasil de 2013. O experiente goleiro não caiu na onda do atacante, que, com aquela cobrança, estragou de vez o clima que tinha no Corinthians e teve de deixar o clube.
Gary Lineker também lamenta ter tentado uma cavadinha. Em 1992, a Inglaterra enfrentou o Brasil em um amistoso. O centroavante teve a oportunidade de bater um pênalti, mas sua cobrança parou em Taffarel. Se tivesse convertido, Lineker chegaria a 49 gols pela seleção inglesa e igualaria o recorde de Bobby Charlton. O centroavante nunca mais marcou um gol pelo English Team e não teve como empatar com o lenda do Manchester United. Atualmente, Rooney é o maior artilheiro da Inglaterra, com 52 gols.
A Band transmite toda a Euro 2016 ao vivo a partir de 10 de junho.
Foto: reprodução