Preso por 123 dias na sede da Polícia Federal em São Paulo, em 2007, acusado pelo Panamá por lavagem de dinheiro associada ao tráfico de drogas internacional, o colombiano Freddy Rincón ainda se chateia ao relembrar do episódio. Sem contar com o amparo de algumas pessoas próximas, o ex-jogador conta que encontrou apoio em uma pessoa improvável na ocasião. Segundo ele mesmo, foi graças a Antonio Roque Citadini, ex-dirigente do Corinthians, que a liberdade foi reconquistada há quase 11 anos.
Diante da possibilidade de extradição após um pedido do Panamá, Rincón viu Citadini ajudar com contatos no meio jurídico, além de dar apoio à sua família e a si próprio no período da detenção. O ex-presidente e diretor de futebol do Corinthians na década de 2000, por exemplo, foi a primeira pessoa a visitá-lo na prisão.
"Foi uma ajuda muito oportuna. Nesses momentos dificilmente encontramos pessoas que querem ajudar. Foi uma pessoa que acreditou em mim. Sempre sou grato àquilo que ele fez por mim. O importante é que a verdade apareceu graças a ele e ao Brasil, que enxergou as coisas de outra forma", disse Rincón, que hoje vive na Colômbia, em contato com o UOL Esporte.
Engana-se, porém, quem acha que os dois eram amigos dos tempos de Corinthians. Durante a passagem de Rincón pelo clube de Parque São Jorge, entre 1997 e 2000, além de 2004, a relação entre ambos era comum a tantas outras. Mas a história do jogador no time alvinegro fez o advogado Citadini agir.
"Desde o primeiro dia fui visitá-lo na Polícia Federal. Ajudei a encontrar advogados com a família. Fizemos reuniões com a família. Eu mobilizei bastante gente. Foi uma luta grande. Eu fui trabalhar em todos os cantos. Ele tinha direito ao habeas-corpus", afirmou Citadini.
"Era importante fazer aquilo, afinal ele teve uma presença muito importante no Corinthians. Não podemos esquecer isso", completou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São paulo (TCE-SP).
De acordo com Citadini, Rincón ficou bastante abatido durante os quatro meses de reclusão. Em alguns dias, já depois de semanas na sede da PF, o ex-volante ia às lágrimas. Por isso, as visitas foram frequentes, assim como as conversas com a esposa e os filhos.
Em setembro daquele ano, Rincón passou a responder em liberdade ao processo de extradição depois de uma decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Superior Tribunal Federal (STF). À época, a defesa do ex-jogador tentou mostrar a ilegalidade da prisão preventiva ao alegar insuficiência no pedido de extradição.
"A procuradoria lá [no Panamá] queria ele preso. Conseguimos mostrar que o Panamá não cumpriu alguns requisitos. Depois conseguimos o habeas-corpus", disse Eduardo Nunes de Souza, advogado de Rincón na ocasião.
Após voltar às ruas, Rincón procurou Citadini a fim de agradecer pelo apoio. Dessa forma, o ex-atleta foi, ao lado da família, ao escritório do dirigente. Lá, ele voltou a chorar. Desde então, ambos ficaram mais próximos. "Quando ele está no Brasil, ele sempre me liga", destacou Citadini.
Ao ganhar a liberdade, Rincón também não escondeu a mágoa em ter recebido pouco apoio. Mais de uma década depois, ele diz que entende a falta de atitude de ex-companheiros e dirigentes.
"Eu não culpo ninguém sobre isso. Cada um vê o que pode fazer melhor. Não tem problema. É uma coisa de cada um. Não dá para culpar ninguém por causa disso", disse Rincón, que citou Andrés Sanchez, o atacante Ewerthon e o ex-volante Edu.
Rincón foi absolvido em um julgamento cuja audiência final se deu em 2015. A sentença foi divulgada pelo Órgão Judicial do Panamá, em agosto do ano seguinte.
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