Técnico não gostou da pergunta sobre ter ido armado à concentração do Flamengo

Técnico não gostou da pergunta sobre ter ido armado à concentração do Flamengo

Fábio Piperno (twitter @piperno)

O Bangu, que nesta quinta-feira estará em campo na reabertura dos jogos de futebol no Brasil, foi o último time que a seleção brasileira enfrentou em 1970 sob o comando de João Saldanha. Após o empate de 1x1 em Moça Bonita, o tom das críticas ao técnico ficou mais ruidoso. E na antevéspera do jogo-treino, o João Sem Medo havia protagonizado um episódio que foi parar nas páginas policiais. A invasão à concentração do Flamengo rendeu ao técnico boletim policial e deu mais munição a quem queria vê-lo fora da seleção.

No dia seguinte à descontrolada ação, um jovem repórter da tradicional rádio Guaíba de Porto Alegre questionou o técnico sobre a visita de revólver em punho. Irritado, Saldanha danificou o equipamento do repórter Lasier Martins. Em 2014, o altivo repórter de 1970, que mais tarde cobriu 5 Copas do Mundo, se elegeu senador pelo Rio Grande do Sul.

Durante os preparativos para a Copa do Mundo do México, o principal desafeto de Saldanha era Yustrich, então técnico do Flamengo. Os comentários desabonadores que o rubro-negro fizera em entrevista para a revista O Cruzeiro estavam entre os que mais aborreciam Saldanha, que enxergava nos ataques do truculento técnico do Flamengo as digitais de um candidato a herdar a seleção, caso a CBD optasse por troca de comando. Com o passar do tempo, era cada vez mais visível o incômodo de Saldanha. Alto, forte e com fama de bom de briga, ao ponto de intimidar jogadores sob seu comando, Yustrich era chamado de Homão. E nas entrevistas, não se cansava de questionar o trabalho e de provocar o João Sem Medo.

Até que no dia 12 de março, antevéspera do jogo-treino em Moça Bonita contra o Bangu, o técnico da seleção decidiu radicalizar na forma da reação. Armado de um revólver, invadiu a concentração do Flamengo em São Conrado, supostamente para tirar satisfações com Yustrich.

Incrédulos e assustados, os funcionários do local não conseguiram opor resistência ao destemido invasor. Mas para a felicidade geral do país do futebol, a delegação do Flamengo estava fora. Entre os jogadores, apenas o goleiro Adão, recém-chegado e que se recuperava de contusão, estava por lá. Ao se deparar com o técnico, a primeira reação foi sair de perto. Por conta da ausência do rival procurado por Saldanha, as desavenças causadas pela bola felizmente não foram resolvidas à bala.

Meio século depos, o senador Lasier me falou sobre o controverso episódio na entrevista que fizemos para o livro “99 dias para o tri”. “Fomos para o treino no Itanhangá Golf Club, em São Conrado. Eram vários repórteres. Após o treino, fomos entrevistar o Saldanha. O repórter que me antecedeu perguntou sobre o episódio da ida dele à concentração do Flamengo. Saldanha disse que foi apenas uma visita de cortesia. Então perguntei porque foi armado a uma visita que era de cortesia. Ele disse “olha gaúcho, não me provoque”. E arrancou o cabo da maleta do meu equipamento, danificando o gravador. Mandei consertar e me entregaram meio dia depois. Conhecia bem o S aldanha. Ele era gaúcho de Alegrete. Não era muito educado. E recebia perguntas pesadas porque também era colunista de jornal. Então, os concorrentes não perdoavam. Uns dois anos depois, em Buenos Aires, nos encontramos e ele me pediu desculpas”, disse o senador.

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