Se ainda hoje existem casos de racismo no futebol, na década de 1970 eles eram comuns em muitos países. E um jogador sofreu com isso durante toda a carreira, e até depois dela, em nome do futebol. Erwin Kostedde entrou para a história como o primeiro negro a defender a seleção alemã, mas o preço pago por isso foi alto.
Filho de mãe alemã e pai afro-americano, Kostedde quis ser jogador de futebol para fugir da marginalização que ele julgava ser quase automática. Começou a carreira na Alemanha e logo se transferiu para a Bélgica, onde foi artilheiro e três vezes campeão do campeonato local.
De volta à Alemanha aos 25 anos, acertou com o Kickers Offenbach. Nessa época, ele conta que eram rotineiros os insultos racistas. "As torcidas rivais gritavam que nosso time tinha dez maricas e um preto", contou ele à revista Panenka.
As provocações fizeram Kostedde lembrar da infância na Alemanha. "Meus colegas de classe sussurravam que os alemães viriam me fuzilar, já que eu era filho de americano". O atacante, então, respondeu em campo.
Pelo Kickers, fez 80 gols em 129 jogos. O desempenho lhe rendeu algo inédito no país: foi convocado para defender a então Alemanha Ocidental. A primeira de três convocações aconteceu em 1974. "Eu havia chegado lá. Achei que já não seria mais marginalizado. Logo eu descobri que estava errado".
A boa fase deu lugar a problemas. Um golpe dado por um assessor financeiro lhe causou a perda de milhões de marcos (moeda alemã da época).
Kostedde começou a perambular por times do país e, exceção feita a uma boa passagem pelo Werder Bremen, não se firmou em nenhum. O desânimo fez com que ele pendurasse as chuteiras.
Então, em 1990, veio o golpe mais duro. O ex-atacante foi preso, acusado de roubar uma loja de jogos. Ficou seis meses na prisão, negando ser o autor do delito. E ele falava a verdade. Depois do tempo preso injustamente, foi absolvido pela Justiça e indenizado.
"Não assumi a culpa por algo que não havia feito. Aquele Kostedde morreu na prisão, incapaz de digerir a maneira como a polícia, o juiz e a imprensa sensacionalista se uniram para acabar comigo", lamentou ele anos depois.
A mágoa do ex-atacante é grande. Ele diz que talvez tivesse sido melhor ser um operário humilde, sem visibilidade, aceitando uma vida longe dos holofotes. Mas ele chegou à seleção alemã numa época em que nenhum negro sonhava com a possibilidade. E isso ninguém tira de Erwin Kostedde.
Foto: Reprodução/Twitter
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