Técnico do Ajax sub-17, Orlando Trustfull lista ideais e modo de trabalho de base top mundial

Técnico do Ajax sub-17, Orlando Trustfull lista ideais e modo de trabalho de base top mundial

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DIRETO DE AMSTERDÃ
Dono da melhor campanha na primeira fase da Aegon Future Cup, o Ajax exibe em sua categoria sub-17, de fato, conceitos ligados a sua história. Acompanhar a equipe juvenil dos holandeses in loco é constatar elementos como o toque de bola rápido, o jogo técnico misturado à força física em sua plenitude, o 4-3-3 como esquema tático padrão e bons resultados.
Por isso, na soma de confrontos com Desportivo Brasil, Manchester United e Besiktas, em 180 minutos de competição na Future Cup (cada tempo possui 30 minutos), os jogadores do Ajax possivelmente não utilizaram as bolas longas em mais de cinco ou seis situações. Esse é um dos pontos principais dessa entrevista exclusiva concedida por Orlando Trustfull, treinador da equipe sub-17 dos holandeses, em meio à competição que reúne a nata da base europeia.
Diretamente do De Toekomst (O Futuro), sede das categorias de base do Ajax, Orlando explicou mais sobre o sistema de trabalho e sobre como é possível colocar em prática as ideias que muitas equipes brasileiras e naturalmente estrangeiras só conseguem manter na teoria. Ele explica também como é trabalhar com o gigante de Amsterdã tendo em sua passagem mais marcante da carreira como atleta as quatro temporadas a serviço do maior rival, o Feyenoord de Roterdã.
Olheiros - Qual o segredo da base do Ajax para revelar tantos jogadores e com um estilo tão próprio?
Orlando Trustfull - É difícil dizer se realmente é diferente porque não conheço o jeito de trabalhar de todas as academias. Mas o jeito que fazemos é de realmente procurar jogadores técnicos e habilidosos. Tentamos achar um jeito de desenvolver os jogadores técnicos e acredito que encontramos. Se não temos a bola, tentamos defender no meio-campo adversário. E com a bola, tentamos jogar com habilidade e o quanto mais possível for tocando de primeira. Mas temos que trabalhar muito duro no dia a dia para saber como desenvolver isso.
Olheiros - O que é possível aplicar nos treinos e fazer para esse desenvolvimento?
Orlando - É uma ideia central e temos que pensar sempre nessas mesmas coisas. Se três jogadores pensam de um jeito e outros não estão conectados a outro jeito de jogar, não vamos ter a química. Sabemos o que procuramos e se procuramos todos o mesmo, será mais fácil. Será possível manter a identidade. Não queremos robôs, queremos que entendam o futebol e eles têm liberdade para se sentir livres para tentar coisas. Pode errar, não tem problema, mas importante é pensarmos no futebol da mesma maneira.
Olheiros - Os jogadores sonham em jogar no Ajax ou nos outros clubes grandes da Europa?
Orlando - O Ajax é um dos principais clubes da Holanda. Se joga aqui no país, quer jogar no Ajax. Mas é claro que se sonha com grandes clubes mais bem colocados que o Ajax. Hoje há o dinheiro. É uma coisa simples. Desenvolvemos grandes talentos e no fim das contas clubes como os ingleses e outros têm mais dinheiro e os compram. A Uefa está trabalhando nisso para fazer as coisas de outra forma e será mais igual agora. Em três, quatro ou cinco anos teremos muitos talentos e poderemos manter os jogadores por mais tempo.
Olheiros - O Fair Play financeiro entrará em vigor. Isso vai mudar o panorama?
Orlando - Não é honesto o jeito de se trabalhar agora. Há clubes como o Real Madrid que estão em débito. Na Holanda, se você vai 10 mil euros além de seu teto salarial, será punido. É desonesto como está agora. Trabalhamos com orçamentos menores porque não estamos autorizados a fazer assim. Em outras equipes você pode comprar grandes jogadores sem parar e, mesmo sem o dinheiro para comprar, continua comprando. Será diferente, como em um mundo normal.
Olheiros - O time dos anos 70 é uma inspiração para vocês treinadores?
Orlando - Temos que começar com algo e os jogadores que atuaram nos anos 70 inspiraram o futebol em geral. Em sua história, o Ajax joga como jogamos agora e o Barcelona também. Vamos nos manter jogando assim em toda a história, com a mente aberta, e o Barcelona chegou a outro nível. Vamos tentar seguí-los.
Olheiros - Como é o relacionamento entre treinador e jogadores na base do Ajax, especialmente no seu caso?
Orlando - É uma questão difícil. Temos que conhecer os jogadores muito bem para nos aproximarmos. O que funciona para um não funciona para outro e por isso tenho que saber de cada um. Acho que conheço meus jogadores e tentamos ter uma relação que é sempre para que eu possa me aproximar. Eles se sentem livres no campo mas posso dar informações para que se desenvolvam. Se não se sentirem à vontade, não vai funcionar.
Olheiros - O que você pode criar no seu trabalho, já que atua sempre em 4-3-3 ou 3-4-3 como sistemas táticos?
Orlando - Temos um jeito de pensar e temos que seguir. Mas o futebol é dinâmico, você precisa escolher. O treinador precisa dizer para cada um sobre onde não deve ir em campo, mas em algum momento ele precisa ter liberdade para decidir caso precise ir. Não pode pensar que será punido, que é errado. Tem liberdade para errar. Acho que é a parte mais difícil do trabalho.
Olheiros - Chama a atenção como o seu time joga sempre com toques curtos. Nem os zagueiros e o goleiro usam a bola longa. Como fazer isso?
Orlando - Tentamos construir isso. O importante é que eles sentem liberdade para errar e sabem que quando tentamos desenvolver isso vão errar muitas vezes. Até o goleiro poderá jogar no ataque em algum momento e fazer gols. Isso acontece. Se eles temem uma punição, vão jogar a bola longa. Mas se têm uma boa intenção, que bom para ele. Se você é bravo, vá em frente. Não se preocupe. É como trabalhamos.
Olheiros - Como fazer os jogadores se sentirem livres para conversar e discutir as situações com o treinador?
Orlando - Estamos juntos e o importante é que estejamos livres para nos aproximarmos. Tentamos dizer o jeito de se fazer as coisas do modo certo e na hora certa. Se estamos no trabalho, os jogadores entendem. Mas precisam ter liberdade e, se há essa conexão, você vai ganhar e eles vão se desenvolver mais rápido. Tem que haver um sentimento e se não há essa química, será difícil.
Olheiros - Como e onde o Ajax busca seus jogadores na base?
Orlando - Não é muito difícil. Todos na Holanda sabem como joga o Ajax e como queremos jogar. No Brasil, na Holanda, na Europa ou na África. Os olheiros trabalham para o clube e sabem que queremos os jogadores habilidosos. Ficarão em testes por algumas semanas e se tiverem nível para se adaptar e jogar, terão sucesso em suas carreiras. Temos muitos olheiros trabalhando para o Ajax em todos os lugares, mas não sei quantos.
Olheiros - O Ajax tem muitos ex-jogadores nas categorias de base, mas você foi jogador do Feyenoord, grande rival dentro da Holanda. Como foi vir trabalhar aqui?
Orlando - Especialmente na internet, vi muitas coisas no primeiro ano. Decidi pelo Ajax e me dediquei muito. São coisas do futebol, mas precisamos uns dos outros e é a rivalidade, é como no Brasil. Hoje poucas pessoas se lembram disso, já estou aqui pelo segundo ano.
Olheiros - Qual sua impressão sobre o Desportivo Brasil, que enfrentou na Future Cup? O que achou do estilo de jogo?
Orlando - É o que sabemos do futebol brasileiro, é o que vi aqui. Três ou quatro jogadores muito habilidosos e que podem jogar futebol no mais alto nível, com transição, toques de primeira muito bons. Sabemos que os brasileiros nunca vão hesitar em tentar jogadas individuais. Eles jogam com o coração e é como os sul-americanos fazem, é a escola deles. Jogam futebol no mais alto nível. Acho sempre muito bom ver quando o futebol é jogado com o coração.
Imagem: @CowboySL

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