Os quatro Mundiais que disputou lhe dão a propriedade necessária para mandar um alerta à seleção brasileira

Os quatro Mundiais que disputou lhe dão a propriedade necessária para mandar um alerta à seleção brasileira

Renata Mendonça

Da BBC Brasil em São Paulo

Faltando um dia para o Brasil estrear na Copa do Mundo em casa, as expectativas crescem em torno do que Neymar e companhia poderão fazer dentro de campo. Mas para um "especialista" no assunto, ainda é preciso ter muita calma nessa hora - nessa e na quinta-feira, quando árbitro apitar o início da partida contra a Croácia na Arena Corinthians.

Os quatro Mundiais que disputou lhe dão a propriedade necessária para mandar um alerta à seleção brasileira: esta Copa será a mais difícil dos últimos tempos, diz o ex-capitão da seleção campeã de 2002, Cafu.

Cafu jogou seu primeiro Mundial em 1994, como reserva. Depois esteve nos de 1998, 2002 e 2006 como titular - os dois últimos como capitão. Acha que, se estivesse treinando, poderia estar de novo entre os 23 convocados pelo técnico Felipão.

Para o ex-lateral direito, nenhuma das Copas que disputou se compara a essa que está começando agora. "Claro que todos queremos que o Brasil chegue na final, mas até lá tem um longo caminho", disse o ex-capitão.

"Tem que ter primeiro humildade e respeito com os adversários. Não vai ser uma Copa do Mundo fácil, acho que vai ser a Copa mais difícil que nos já enfrentamos nos últimos tempos."

Eternizado pelo gesto de 2002, quando levantou a taça da conquista da Copa do Japão e da Coreia do Sul fazendo uma declaração para a esposa e outra para as suas origens ("100% Jardim Irene" escrito na camisa), Cafu, o capitão do penta, foi o escolhido para fechar a série de entrevistas especiais da BBC Brasil com os representantes de cada conquista do Brasil na Copa.

Ele mostra preocupação com a "Neymar-dependência" no futebol da seleção, fala sobre as expectativas para a Copa que está para começar e comenta os diferenciais da seleção campeã 12 anos atrás.

Leia a entrevista completa:

BBC Brasil - O que a conquista na Copa de 2002 significou para você?

Cafu - Para mim representou tudo: título de campeão mundial; para a seleção brasileira, a oportunidade de colocar mais uma estrela na nossa camisa; um título muito representativo, porque não é qualquer seleção do mundo que consegue ser pentacampeã mundial.

BBC Brasil - Você também estava na seleção campeã de 1994. Quais as principais diferenças entre a daquele ano e a de 2002?

Cafu - São duas seleções que venceram, não existe uma dificuldade grande comparando uma com a outra.

BBC Brasil - E o (técnico) Felipão? Não foi um diferencial para aquela seleção?

Cafu - Felipão e um técnico motivacional, ele sabe motivar o grupo, ele é um cara que sabe ter o grupo na mão. A diferença da seleção atual para a de 2002 é que a de 2002 se concretizou, é uma seleção campeã, seleção que cumpriu seu dever. Mas essa seleção pode cumprir seu dever, fazer seu papel e se transformar também em uma família, como foi a de 2002.

BBC Brasil - E como você vê a seleção hoje?

Cafu - Tudo pode acontecer no futebol, nós temos que ser otimistas. Eu sou otimista, acho que o Brasil vai fazer uma grande Copa do Mundo. Agora ganhar a Copa do Mundo, nós não temos essa certeza absoluta, não existe uma fórmula química que diz "se você fizer isso, você vai ser campeão do mundo".

BBC Brasil - Há muita expectativa com relação à seleção brasileira e esse otimismo que você falou também é nítido. Você não acha que otimismo demais também pode atrapalhar?

Cafu - Nós sabemos que dentro de campo é diferente do que se fala fora de campo, principalmente com relação ao que o Marin falou (o presidente da CBF, José Maria Marin disse ao jornal O Globo que "só uma fatalidade tira o título do Brasil"). O Parreira diz: "nós estamos com uma mão na taça", mas ainda falta a outra.

Quando você tem um técnico motivador, como o Felipão, é claro que você fica incentivado. Mas dizer que "só uma fatalidade tira o título do Brasil" é mais uma bobagem que o Marin falou. Claro que todos queremos que o Brasil chegue na final, mas até lé tem um longo caminho, tem que ter primeiro humildade e respeito com os adversários. Não vai ser uma Copa do Mundo fácil, acho que vai ser a Copa mais difícil que nos já enfrentamos nos últimos tempos.

BBC Brasil - A mais difícil? Por quê?

Cafu - Temos todos os campeões mundiais disputando essa Copa, os maiores craques, os maiores ídolos do futebol mundial. Nós temos uma vantagem, que é jogar em casa. (Mas) a última Copa aqui foi em 1950 e nós perdemos. Então nós precisamos resgatar a imagem do futebol brasileiro dentro de casa, o apoio da torcida, isso tudo motiva para a gente fazer uma grande Copa do Mundo. Mas não é verdade que nós já ganhamos a Copa do Mundo.

BBC Brasil - O Brasil ficou conhecido mundialmente pelo seu jogo coletivo, pelo "futebol bonito". O que mudou no futebol da seleção de hoje com relação a isso?

Cafu - A defesa é uma das características fortes dessa seleção atual. É uma seleção muito bem treinada, que está preparada para a Copa do Mundo. Mas o que se destaca no time hoje é a parte defensiva, se dá muita ênfase para isso. O jogo coletivo existe, o brilho do futebol é muito relativo ao que você vai fazer dentro de cada jogo, tem jogo que você pode golear de 4 ou 5 e tem jogo que você vai ter que ganhar de 1 a 0. O mais importante vai ser sempre o resultado final.

BBC Brasil - O Brasil é hoje muito dependente do Neymar?

Cafu - Hoje nós temos uma dependência muito grande do Neymar. Não tem quem substitua, ele está entre os três melhores jogadores do mundo. Então se tirar o Neymar, no banco não tem quem o substitua. Mas nós temos um time muito bom, e eu tenho certeza que vão jogar para o Neymar ser a estrela. Estamos dando uma responsabilidade muito grande para ele. Mas temos jogadores que podem ajudá-lo a fazer a seleção ser campeã.

BBC Brasil - Quem você vê como favorito nessa Copa e qual a principal dificuldade que o Brasil vai enfrentar?

Cafu - As dificuldades são todas, não vai existir um adversário fácil que o Brasil vai enfrentar. Espero que o Brasil possa ser campeão. Mas temos várias favoritas: Argentina, Inglaterra, Uruguai, Itália, Holanda, Espanha, todas as grandes seleções são favoritas.

BBC Brasil - Na semana passada, a seleção recebeu vaias após o amistoso contra a Sérvia no Morumbi. Acha que isso é possível na abertura, contra a Croácia?

Cafu - Nós paulistanos somos muito exigentes, nós queremos que tudo aconteça perfeitamente o mais rápido possível. Com a seleção sempre foi assim, então já estamos acostumados com isso. Claro que nós queremos que a seleção já entre naquele clima de tentar atropelar o adversário, impondo ritmo de jogo, mas às vezes isso não acontece, você pega um adversário mais retrancado e dificulta.

Acho que a torcida vai ter que ter paciência na Copa, vamos ter adversários que vão vir aqui não para ganhar a Copa, mas para ganhar da seleção brasileira. Nós vamos ter que ser inteligentes, ganhar esse jogo com muita paciência, mas para isso precisamos que o torcedor tenha paciência de entender a maneira que o Brasil esta jogando.

BBC Brasil - O Brasil vai se dar melhor como "jogador" nessa Copa ou como organizador?

Cafu - As duas coisas juntas vão fazer com que o nosso país seja bem visto, o futebol e a organização. A preparação para esse Mundial foi normal, nós temos dias para a estreia, o estádio está entregue para fazer a abertura. Mas atraso acontece em qualquer lugar do mundo, é uma coisa normal, claro que no Brasil fica mais visível porque nós vamos ter a Copa aqui, então as coisas acabam tendo dimensão maior.

Foto: UOL

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