O drible é considerado como uma das jogadas mais bonitas do futebol.

O drible é considerado como uma das jogadas mais bonitas do futebol.

O drible é considerado como uma das jogadas mais bonitas do futebol. Trata-se de um recurso em que o jogador tenta passar pelo adversário ou até mesmo uma forma de dar espetáculo para a torcida e com a intenção de humilhar o seu marcador, principalmente quando está em vantagem na partida. Antigamente dar show era algo muito comum nos jogos. Nos dias atuais, quando isto acontece, geralmente os dribles são interpretados por boa parte de quem é vítima deles, como desrespeito, alegando-se que só acontece quando o seu time está perdendo, resultando em brigas generalizadas.
Mané Garrincha foi provavelmente o mais famoso driblador de todos os tempos. Suas jogadas no Botafogo e Seleção Brasileira foram eternizadas no filme Garrincha, A Alegria do Povo.
Minha homenagem é para um fintador não muito conhecido atualmente, mas considerado para quem viu jogar, inimitável nas fintas.  Trata-se de Mário de Paula Lopes Júnior.
Nascido no Rio de Janeiro, Mário era malabarista de circo. Por gostar de jogar futebol, resolveu aplicar a sua arte circense para outro tipo de público, o que aprecia o show de bola nos estádios.
Revelado pelo Vasco da Gama, começou a se destacar no campeonato carioca de 1949, em que o time de São Januário sagrou-se campeão carioca invicto. Ele sempre atuou na ponta-esquerda, revezando na competição com o ponteiro-esquerdo Chico, que tinha um estilo mais raçudo. Foi um dos destaques da equipe, atuando no ataque ao lado de craques como Maneca, Ademir de Menezes, Heleno de Freitas e Ipojucan.
Mário tinha uma habilidade fora do comum para driblar, sendo que muitas vezes driblava o seu marcador no quadrado da linha de escanteio, um espaço muito pequeno. Conseguia se livrar de três marcadores de uma vez só, executava dribles curtos ou largos com a mesma facilidade, fazia embaixadas na frente do adversário, com os pés, cabeça ou ombro, corria com a bola em cima da linha lateral sem deixá-la sair e tinha capacidade de driblar mesmo estando sentado no chão. Muitos foram os marcadores no futebol carioca que sofreram com a sua arte. Ele odiava marcar gols. Tinha o costume de driblar toda a defesa adversária, parando a bola em cima da linha do gol e voltava, driblando novamente.
Certa vez, no Torneio Rio-São Paulo de 1950, fez essa jogada contra o São Paulo, parando novamente a bola em cima da linha do gol adversário novamente. O lateral-direito Savério conseguiu se recuperar e chutou pra fora a bola dos seus pés. O técnico vascaíno era o Flávio Costa, que também treinava a Seleção Brasileira, conhecido pelo seu forte temperamento. Mário ficou com medo de retornar aos vestiários, pois o Flávio estava esperando-o para dar uns tapas.
Isso fez com que perdesse a chance de jogar a Copa do Mundo do Brasil daquele ano, sendo que o ponta-esquerda foi justamente o mesmo Chico que revezava com ele no Vasco.
Ao retornar as suas atividades em São Januário, Flávio Costa estava de cabeça quente pela derrota do Brasil em plena final no Maracanã contra o Uruguai. Um jogador como o Mário, que jogava futebol com certa irresponsabilidade, não teria lugar no time do treinador. Acabou sendo vendido ao Bangu. Em Moça Bonita ficou conhecido como Mariozinho e continuou com o mesmo estilo de jogo, atuando agora ao lado do Mestre Zizinho.
Em 1951, o Bangu jogou uma partida contra o Corinthians, tendo Mário como ponta-esquerda naquele dia. Seu marcador foi o famoso Idário, que levou um verdadeiro baile. Acabou sendo contratado, iniciando a fase mais famosa da sua carreira. Foi campeão no mesmo ano, atuando na primeira linha de ataque do futebol profissional a marcar mais de 100 gols, formada por Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário. Muitos pensam que foi o ataque de toda a competição, mas por causa do próprio Mário, acabou não acontecendo. Continuou repetindo o estilo infernal de jogar, travando grandes duelos com os seus marcadores, como Djalma Santos, que atuava na Portuguesa de Desportos. Continuava driblando todas as defesas adversárias sem marcar e competindo com o ídolo Luizinho pra ver quem aplicava os mais belos dribles. Mas o Pequeno Polegar era um jogador produtivo, sendo que o ponteiro-esquerdo jogava mais para ele.
Num ataque que marcava tantos gols, anotou apenas um. Tal postura não agradava o duro e exigente presidente Alfredo Ignácio Trindade, ainda mais pelo fato do time estar há mais de dez anos sem vencer o campeonato paulista. Após a derrota de 7 a 3 para a Portuguesa de Desportos e com Mário repetindo o mesmo estilo de jogar na partida seguinte (sendo expulso inclusive), fez com que Trindade o afastasse do elenco, jogando na sua posição, a princípio, o Prata da Casa Colombo, com Carbone atuando depois na posição, já que o paranaense Jackson vinha se destacando na meia-esquerda. Foi campeão, mas não comemorou os últimos jogos atuando em campo.
No ano seguinte, Mário voltou ao time principal, alegrando a sua torcida com os seus dribles sensacionais, mas continuando a evitar marcar gols, preferindo o espetáculo. Mais uma vez foi afastado da equipe e viu o time ser bicampeão paulista sem atuar nas partidas finais.
Em 1953 ainda fazia parte da equipe, ganhando títulos e driblando. Mas em 1954 acabou saindo. Retornou ao Vasco e depois jogou em Batatais.
Conhecido como bailarino, por onde atuou, deixou saudades, ficando conhecido mais como um jogador-espetáculo do que propriamente para a equipe, ignorando o desenho do jogo, atuando de forma individualista.


Quando o Luizinho, o maior ídolo que meu pai teve no futebol, foi homenageado no Parque São Jorge em 1994 com um merecido busto, ele e eu fizemos questão de comparecer para prestigiar pessoalmente. Meu pai sempre contou que Mário, coincidentemente xará dele, foi o melhor driblador que viu jogar. Conhecemos um senhor que deve ter hoje mais de 80 anos, que falou sobre as proezas do bailarino. Ele dizia que "o Mário driblava mais ?até? que o Canhoteiro?. Contou-me que certa vez deu um chapéu no defensor palmeirense Rubens à meio-metro de distância. Disse, também, que quando o Mário foi afastado do Corinthians, passou no escritório do presidente Alfredo Ignácio Trindade, pedindo para que ele fosse reintegrado à equipe principal e foi praticamente expulso da sua sala. Certa vez o goleiro corintiano (Gilmar ou Cabeção) cobrou um tiro de meta na direção do ponta-esquerda, com ele saltando e dominando a bola no calcanhar, rodopiando no ar na frente do defensor palmeirense Palante,  sem soltá-la, tomando em seguida um chute nas costas.
Conheci poucas pessoas que o viram jogar, mas suas qualidades como driblador não eram reverenciadas apenas pelos torcedores dos times que atuava. Conversando com um senhor são paulino, esse comentou que o seu maior ídolo foi justamente o também fantástico fintador Canhoteiro, mas que o Mário era ainda melhor, apesar de considerá-lo bem menos objetivo.
Imagem: @CowboySL

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