Colorado estão de casa nova

Colorado estão de casa nova

Existem momentos tão apoteóticos na vida de uma entidade ou de um povo que para descrevê-los à altura do que representam o melhor caminho a seguir é o da linguagem figurada, que em alguns casos costuma-se classificar como metáfora.

Recorrendo a esse recurso, permito-me dizer, depois do que vi neste sábado no decorrer da festa de inauguração do estádio Beira-Rio remodelado, que a partir desse acontecimento inesquecível a cidade de Porto Alegre pode ser considerada um pequeno pedaço da imensidão do Universo, circunscrevendo em si dois planetas do Sistema Solar: Terra e Marte.

Marte, chamado Planeta Vermelho, foi o que se viu no estádio colorado repleto de gente feliz, fazendo história em meio a um festival de grandes atrações, onde se misturavam acontecimentos artísticos e fatos marcantes da vida de um Clube que nasceu em solo gaúcho, crescendo de tal sorte a ponto de ombrear, par e passo, com as grandes agremiações futebolísticas do "Planeta Bola".

Terra, definida como sendo azul, a partir da visão aeroespacial de Iuri Gagarin, foi o que igualmente testemunhei com dezenas de milhares de torcedores gremistas, naquele 8 de dezembro de 2012, quando se inaugurava na capital dos pampas um das mais imponentes arenas esportivas do "Planeta Futebol".

Os dois acontecimentos foram diferentes na suja forma de expressão, porém rigorosamente iguais na magnitude com que se afiguraram aos olhos de quem os presenciou. Tanto Ivan Lins, que abriu o espetáculo artístico da Arena, quanto Evandro Mesquita que, com sua banda Blitz, deu o pontapé musical inicial na festa do Beira-Rio, poderão contar a seus netos e bisnetos que prestigiaram com sua arte acontecimentos inaugurais de grandeza imensurável.

A inauguração do Novo Beira-Rio - tema central dessa matéria - tinha muitas histórias do estádio para contar, já que se projetava numa grande praça esportiva com 45 anos de gloriosa existência, construída a partir de um mutirão colorado em que cada tijolo doado era considerado "um pagamento de uma dívida de amor e gratidão", como diz na letra do Canto Alegretense, um dos "hinos xucros" do cancioneiro do Pampa.

Três ídolos emblemáticos de diferentes épocas encabeçaram a representação clubística do dono da casa, no limiar do show inaugural: Figueroa, maior nome das grandes conquistas coloradas da década de 1970, Fernandão, grande centro avante da era de conquistas internacionais, e D'Alessandro, capitão maior e craque colorado da atualidade, uma espécie de "menina dos olhos" da torcida do Beira-Rio.

No show de abertura, o cantor e ator Evandro Mesquita foi contemplado com uma camisa do Internacional, que vestiu enaltecendo a beleza do estádio, classificado por ele como o mais lindo que já viu em sua vida, A camisa, com o número 10 de D'Alessandro, foi usada pelo artista até o final da apresentação da banda Bltiz, que sacudiu a plateia com um repertório variado.

A produção do evento deu ênfase especial à história de conquistas coloradas, trazendo à lembranças com farto material expositivo, o velho Rolo Compressor, do extraordinário Tesour8inha, as conquistas regionais, como o Octa-campeonato gaúcho, nacionais representadas por três títulos de campeão brasileiro e um de campeão da Copa do Brasil, e internacionais, configuradas nas duas conquistas da Libertadores, no título Mundial da FIFA diante do Barcelona, nas duas Recopas continentais e na Copa Sul-Americana.

No panorama artístico, a grande atração da noite foi a presença do DJ inglês Fat Boy Slim. Também prestigiaram o evento as bandas Papas da Língua, Cachorro Grande e Nenhum de Nós, a dupla Kleiton e Kledir, e os cantores Duca Leindecker, Eslton Saldanha, Victor Hugo, Neto Fagundes, Prisca Greco, Marcelo do Tchê, Fernando do Ó, Ernesto Fagundes, Edu Nascimento, Frank Solari e Ana Lunardi, além de uma orquestra com 100 componentes, um coral de 200 vozes e outros artistas.

Entre os nome famosos do Clube, além dos já citados Figueroa, Fernandão e D'Alessandro, compuseram o elenco de 30 ídolos colorados, na grande festa de inauguração, os ex-craques Falcão, Fabiano, Gabiru, Valdomiro, Caçapava e outros.

Cerca de 50 mil pessoas desfrutaram das confortáveis acomodações do novo estádio, número esse que se repetiu no dia seguinte, domingo, quando a série de eventos inaugurais foi complementada, com o jogo entre Inter e Peñarol, vencido pelo dono da festa pelo marcador de 2 a 1, sendo os dois gols do Inter assinalados, para regozijo da torcida colorada, pelo argentino D'Alessandro, maior ídolo do clube.

Agora o papo é outro.

Após ser questionado sobre a morte de mais um operário nas obras do Itaquerão, em março, Pelé teria respondido de forma chocante, nesses termos: ''Isso é normal, pode acontecer, mas a minha maior preocupação é quanto à estrutura, os aeroportos, porque no Brasil sempre dá-se um jeitinho. Voltei recentemente para o Brasil e o aeroporto está um caos. Essa é minha preocupação.''

Temos que admitir que não damos sorte com nossos ídolos da bola, quando instados a se pronunciar acerca de assuntos relacionados com o futebol, esporte acerca do qual só revelaram entendimento pleno quando, no limite das quatro linhas, viveram o esplendor da glória e da fama, encantando multidões com a magia de suas jogadas inesquecíveis.

Outro dia foi o Ronaldo Fenômeno que, sem medir as palavra e movido pela vaidade da posição que ocupa entre os notáveis do Mundial 2014, cometeu a asneira de dizer que 'Copa se faz com estádios, não com hospital', tentando justificar a gastança com o evento lucrativo da FIFA, em detrimento da saúde pública, entregue ao Deus dará, pelos desgovernos que ultimamente se sucederam no comando da nação.

Por falar em vaidade, tudo indica que tem gente do Ministério Público gaúcho querendo se promover às custas de uma ação que não se justifica, contra a utilização do novo Beira-Rio como palco do Gre-Nal de domingo, pela decisão do campeonato gaúcho, alegando problemas de segurança.

Trata-se de um iniciativa nada feliz, porque tem contra si a festa de inauguração do estádio, realizada sábado, acolhendo um público de 50 mil torcedores, sucedida do amistoso diante do Peñarol, no domingo seguinte, no qual se repetiu o número de espectadores, sem que nada de anormal tenha acontecido em função de obras ainda pendentes no entorno do novo Beira-Rio.

Diante de uma atitude inexplicável como essa ação do MP, que beira as raias do ridículo, torna-se inevitável dirigir a esses 'zelosos guardiões da sociedade' a seguinte pergunta: "se o estádio foi liberado antes e nada de ruim aconteceu, por que levantar questão agora em torno de uma possibilidade de uso que já foi devidamente testada e correspondeu às mais otimistas expectativas?

Quando se veem os poderes constituídos batendo cabeça, dando margem a "quedas de braço", como as que acontecem entre Executivo e Legislativo, Judiciário e Ministério Público, Polícia Civil e Polícia Militar, a sensação que fica é a de que o grande mal deste país é a superposição de poderes em brutal contraste com a total carência de ações concretas, visando à solução dos múltiplos problemas que nos afligem.

Agora, lencinhos rubro-negros e alvinegros na mão, que é hora de enxugar as lágrimas choradas pelo leite derramado.

Choram Marias e Dolores pela morte, na Libertadores, do Urubu da Gávea, do Furacão da Arena da Baixada e do Fogão inquilino do Engenhão. Na "terça-feira de carnaval", despediu-se do torneio continental o Atlético Paranaense, ao perder por 2 a1 para o The Strongest.

Na "quarta-feira de cinzas", foi a vez do Flamengo dar adeus à competição, na derrota de 3 a 2 para o León, e do Botafogo, que levou um chocolate do San Lorenzo, sofrendo uma vexatória goleada de 3 a 0, que garantiu a passagem do time do Papa Francisco à semifinal do prindcipal torneio sul-americano.

Agora o Brasil é Minas e Rio Grande do Sul, no mais importante torneio das Américas, representado pelo Cruzeiro, que venceu o Real Garcilaso por 3 a 0, o Atlético Mineiro e o Grêmio, que jogam nesta quinta-feira, já classificados, brigando apenas pela manutenção da liderança em seus respectivos grupos.

Na Europa, a quarta-feira de bola rolando foi marcada por uma semi zebra representada pela vitória do Atlético de Madrid, que venceu o poderoso Barcelona pelo escore mínimo, mesmo jogando desfalcado de Diego Costa, sua principal estrela, eliminando o clube de Lionel Messi do torneio da Liga dos Campeões da Europa.

Fale com o colunista: jornalino@gmail.com, @twuitter.com/jornalino - https://www.facebook.com/lino.tavares - On Line Jornal Porto Alegre - Revista Eletrônica GibaNet.com - Semanário Virtualino.com.

Foto: UOL

Últimas do seu time