Enquanto discutimos pormenores, o futebol nos deu uma lição do que realmente é importante através do menino Nikollas e sua mãe, premiados pela Fifa

Enquanto discutimos pormenores, o futebol nos deu uma lição do que realmente é importante através do menino Nikollas e sua mãe, premiados pela Fifa

A última semana foi tomada por uma discussão absolutamente vazia e irrelevante no futebol brasileiro. No dia 17 de setembro o Datafolha divulgou nova pesquisa apontando as maiores torcidas do nosso país e o resultado - embora não tenha sido nada surpreendente – foi suficiente para tomar conta da discussão esportiva.

Óbvio que após a divulgação dos dados quem tem mais torcedor comemorou, enquanto aqueles com menor número questionaram a validade da pesquisa. Mas o quão relevante é o tamanho da torcida de seu time? Claro que para dirigentes e profissionais do marketing dos clubes é importante trabalhar com esses números, mas para o torcedor – e também para o jornalista – há de fato relevância nisso? Exatamente uma semana depois da publicação da pesquisa o país recebeu duas verdadeiras aulas sobre o que realmente importa no nosso futebol: o amor pelo esporte e pelo time do coração.

O Brasil já tinha se emocionado com a história de Silvia Grecco e seu filho Nikollas: a mãe palmeirense que passou a levar seu filho, deficiente visual, autista e apaixonado pelo Verdão, ao estádio e, para situar o menino no jogo, começou a narrar os acontecimentos da partida ao torcedor especial. No último dia 23 o mundo passou a conhecer e se emocionar com essa que talvez seja uma das mais belas histórias desse esporte tão rico em acontecimentos marcantes. Silvia e seu filho Nikollas foram premiados pela Fifa na categoria Fã do Ano, na cerimônia do Fifa Football Awards, que coroa os melhores do mundo no ano.

Foi impossível segurar as lágrimas. Acompanhada do filho – narrando a cena histórica que protagonizavam e que certamente ele conseguiu sentir mais do que qualquer um presente na cerimônia – Silvia subiu ao palco para falar em nome do amor pelo futebol e pela inclusão no esporte.

“O futebol pode transformar a vida dessas pessoas (com alguma deficiência). É muito amor, muita dedicação”, disse a mãe de Nikollas ao receber o prêmio. “Agradeço a Fifa pela indicação e por hoje poder falar para o mundo do futebol que a pessoa com deficiência existe e que precisa ser amada, respeitada e incluída. Obrigado, Deus, por permitir ser ponte e hoje representar não só meu filho, mas todos no mundo que têm deficiência e precisam de oportunidades”, completou Silvia. Nenhuma discussão a respeito do futebol – nenhuma! – vai ser tão importante quanto essas levantadas por aquela mulher ao lado de seu filho – talvez existam debates igualmente relevantes; mais importantes que esse é difícil de encontrar.

O dia seguinte nos surpreendeu com mais uma linda história de amor ao futebol e nos mostrou, mais uma vez, que esse esporte incrível só existe por conta desse sentimento. Último colocado da Série B, vivendo uma crise assustadora e sem precedentes, o Figueirense esteve à beira do abismo. Na manhã do dia 24 o dirigente responsável pelo futebol do Figueirense, Cláudio Honigman – presidente da Elephant, empresa que tomava conta do time catarinense e que o levou a tal situação crítica –, comunicou à CBF que o clube abandonaria a disputa do campeonato (ação que impediria o Figueira de disputar qualquer competição por dois anos). Dirigentes do time de Florianópolis alertaram a CBF que Honigman não responde mais em nome da agremiação, conseguindo, assim, impedir que o Figueirense fosse excluído da competição. Tudo isso em meio a atrasos de salários que levaram ao W.O em jogo da Série B, trocas de treinadores, inúmeras mudanças no elenco e muitos questionamentos para com a empresa que prometia revolucionar o clube e o futebol brasileiro. Não bastasse toda essa crise gigantesca, o Figueirense receberia em seu estádio o Bragantino, líder absoluto do campeonato. Cenário de guerra? Terra arrasada? Quem iria ao estádio Orlando Scarpelli apoiar o clube numa situação dessas e com a equipe virtualmente rebaixada para a terceira divisão?

Pois o torcedor foi! Na prova mais clara, absoluta e genuína de que o futebol é muito mais do que um simples esporte e que vai muito além de ganhar ou perder, o torcedor do time catarinense foi ao estádio e fez uma das mais belas festas do futebol brasileiro em 2019. Mais de 12 mil pessoas que simplesmente amam seu time receberam o ônibus com os jogadores nos arredores do Orlando Scarpelli de tal forma que se um desavisado avistasse aquela cena pensaria se tratar de uma final de campeonato.

Durante o jogo, mais uma vez, o Figueirense não foi bem, mas a festa da torcida seguiu firme e forte. O placar terminou 3 a 0 para o Bragantino. Mas quem saiu vencedor do Orlando Scarpelli foi o Figueirense... Foi o futebol.

Pouco importa se a torcida do Figueirense é grande ou pequena, é totalmente irrelevante se a torcida do Palmeiras é uma das maiores do país. Nem é tão relevante se o time A ou B tem maior ou menor número de fãs. O que importa e é relevante de fato é o quão apaixonados são esses fãs. Cada torcedor do Figueirense presente no Orlando Scarpelli vale mais do que muita multidão de grandes clubes por aí. Silvia Grecco e seu filho Nikollas valem muito mais do que muitos e muitos torcedores que se dizem fanáticos. Como isso é possível? Com amor, amigos. O amor pelo futebol é inexplicável!

 

Foto: Fifa/Facebook

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