Arthur Sandes
Do UOL, em São Paulo
Berço do cartel que mais exporta cocaína no mundo, a cidade mexicana de Culiacán passa a ter outra história à qual se apegar a partir desta segunda-feira (14). Trata-se da estreia de Diego Armando Maradona como treinador do Dorados, equipe da segunda divisão do Campeonato Mexicano. É o início de uma união inesperada, na qual clube e técnico tentam afastar suas imagens do mundo das drogas.
O Club Social e Deportivo Dorados está situado na cidade de Culiacán, capital da província de Sinaloa, no noroeste do México. A região tornou-se mundialmente conhecida por abrigar o Cartel de Sinaloa, uma plataforma global do narcotráfico que prosperou sob comando de Joaquín `El Chapo´ Guzmán. São negócios diversificados, operação em mais de 50 países e arrecadação anual estimada em mais de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 12,5 bilhões), de acordo com estudos da fundação InSight Crime. Grosso modo, trata-se da versão atual, modernizada e expandida do império erguido por Pablo Escobar na Colômbia.
Eis que Culiacán ganhou um deus do futebol para chamar de seu. A chegada de Maradona à cidade tem sido um acontecimento, naturalmente, e o argentino espera fazer no México um trabalho que se destaque em sua discreta carreira como técnico.
Para se reerguer, Maradona apega-se justamente à luta que há anos trava contra as drogas; uma vivência da qual trata abertamente. "Quero dar ao Dorados o que perdi quando estive doente", disse Maradona ao ser apresentado no último dia 10. "Estive doente por 14 anos. Agora quero ver o sol, quero ir para cama à noite. Eu nunca nem ia para a cama, nem sabia o que era um travesseiro. Por isso aceitei a oferta do Dorados", revelou, numa referência explícita às drogas.
O próprio Dorados de Sinaloa parece ter relações umbilicais com a cocaína. Além de compartilhar a terra-natal e a comunidade do cartel de El Chapo, o clube é um dos inúmeros investimentos da família Hank, uma das mais influentes financeira e politicamente em todo o México. O clã é frequentemente investigado por ligações com lavagem de dinheiro do narcotráfico e já foi considerado "uma significante ameaça criminosa" pelos Estados Unidos.
A principal figura de tal família é Jorge Hank Rhon, que em 2011 chegou a ser preso com 88 armas e mais de 9 mil cápsulas de munição. Atualmente ele é dono do Grupo Caliente, conglomerado que lida principalmente com cassinos e apostas esportivas, mas também detém 60% do novo clube de Maradona.
De acordo com a imprensa local, o argentino receberá US$ 150 mil dólares (em torno de R$ 625 mil) para comandar atletas que recentemente reclamaram de salários atrasados. O Dorados atualmente ocupa o 13ª (e antepenúltimo) lugar da segunda divisão mexicana após seis rodadas.
Foto: REUTERS/Henry Romero (via UOL)
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