Marcello De Vico e Vanderlei Lima
Do UOL, em Santos e São Paulo
O dia 30 de maio de 2017 ficou marcado na história de Fábio. O goleiro de 38 anos fazia a sua estreia pelo Figueirense, diante do Boa Esporte, pela Série B, mas falhou no gol do time adversário e pediu para ser substituído no intervalo. Em seguida, pegou um táxi e foi encontrar a mãe, que estava com um grave problema de saúde. Duas semanas depois, com a cabeça mais fria, Fábio admite que poderia ter administrado a situação de maneira diferente, porém, diz não se arrepender do que fez para ajudar a mãe. E faria de novo.
"Eu deveria ter passado para o presidente [Wilfredo Brillinger], para o Carlito [Carlos Arini, superintendente de esportes] e para o treinador [Marcio Goiano] o que estava acontecendo e não passei, me arrependo por isso, pois eu deveria ter feito de uma forma melhor. Mas o pós acontecimento, de eu ter pedido para sair do jogo e ter pego um táxi, eu sinceramente não me arrependo, porque eu penso assim: saúde na família está em primeiro lugar. Futebol a gente joga depois, volta a jogar ou não, mas naquele momento o futebol, a minha profissão, estava no segundo plano", disse o goleiro em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Fábio conta que o fato de ser a sua estreia com a camisa alvinegra o influenciou a não sentar com a diretoria do Figueirense antes do jogo para expor o problema que enfrentava: "Eu não me arrependo de nada. Eu penso assim: eu deveria ter feito as coisas de uma forma melhor, mas quando você está com a cabeça quente é difícil pensar, calcular. De repente o certo era nem jogar, pedir um tempo para ir pra casa, mas não foi assim, e era a minha estreia também, então eu acabei ficando dividido: ´Pô, logo na minha estreia eu vou pedir para não jogar´?".
O ex-goleiro do Figueirense recorda detalhes do momento em que resolveu abandonar a partida e revela que não esperava tanta repercussão por conta da atitude tomada.
"No intervalo do jogo eu estava com a cabeça bem ruim, independente do gol que eu falhei - já falhei em 200 gols na minha carreira - e não é o motivo. Aí eu falei para o treinador que eu não estava com a cabeça boa e que não iria ajudar, que eu deveria sair, e ele gentilmente me atendeu, falou: ´Não, Fábio, está tudo bem, tudo bem então´, aí eu saí e, como eu queria ir embora rápido para São Paulo, para São José dos Campos, onde a minha mãe está, eu saí do jogo por volta de 10, 15 minutos do segundo tempo, chamei um táxi e fui embora, para já marcar rápido a passagem e chegar rápido. Eu nem pensei que ia dar este tumulto todo. Na minha cabeça eu queria sair dali logo para ver a minha mãe, para resolver as coisas que tinha que resolver, que é de saúde, que ainda é grave - melhorou, mas ainda é grave. Aí eu saí dali, marquei passagem e quando foi mais à noite eu vi o problema todo que deu", acrescentou.
Ainda em recuperação, mãe aprova atitude do filho
Com o quadro da mãe mais estável, Fábio conversou com ela no hospital e contou o que havia feito na partida. E diz ter recebido seu apoio.
"Ela até gostou da minha postura, de eu ter jogado de repente tudo para o alto e correr atrás de um problema familiar, o problema de saúde dela, mas falou que gostaria que eu retomasse depois com mais calma. naquele momento eu falei que iria ficar com ela e minha mãe gostou muito disso", disse Fábio, que falou ainda sobre a evolução que sua mãe vem tendo.
"Eu prefiro não entrar em detalhes porque é uma coisa séria, bem de família, mas ela tem graves problemas. Ela, a dona Isaura, vai fazer 69 anos. Saiu três dias depois [do jogo] do hospital e agora está em casa está, em plena fase de recuperação. As coisas estão caminhando legal; ainda tem problema, mas está tudo caminhando", comemora Fábio.
Falha não teria acontecido se estivesse 100%
Figueirense e Boa Esporte se enfrentaram no estádio Orlando Scarpelli, pela quarta rodada da Série B. A falha aconteceu aos 24 min do primeiro tempo: Douglas Assis bateu falta do meio de campo – a bola foi para a área, quicou e enganou Fábio, entrando direto no gol. Algo que, segundo o goleiro, não teria acontecido caso ele estive totalmente focado na partida.
"Eu me conhecendo como goleiro... Acho que sou um bom goleiro, e se eu estivesse com a cabeça legal, concentrado no jogo, eu fatalmente não tomaria aquele gol. Agora, pela forma que eu estava, desconcentrado, com o pensamento fora do jogo, foi o que carretou para eu tomar aquele gol. Eu, em sã consciência, penso que não tomaria aquele gol", opinou.
´Dívida´ com o Figueirense e pedido de desculpas
Fábio rescindiu contrato com o Figueirense logo após a partida e encerrou uma passagem de menos de um mês pelo clube catarinense. Agora, espera retribuir o clube de alguma forma.
"Ficou uma dívida com o clube, com o presidente, com o Carlito, com o [Márcio Goiano], com a torcida, por toda essa situação criada. mas eu jogar no Figueirense seria uma coisa difícil pelo fato que aconteceu, pela proporção que tomou. Mas, de repente, não como goleiro. Por que não voltar a trabalhar no Figueirense, retribuir um pouco. Eu peço desculpas a todos do Figueirense pela forma que foi, e eles podem ter certeza que eu vou torcer muito para o time conseguir o acesso para a Série A. Agora o Figueira ganhou mais um torcedor", disse.
Mais dois anos como goleiro, e depois treinador...
A saída do Figueirense não significa o fim de carreira para Fábio. De acordo com o goleiro, a ideia é atuar por pelo menos mais dois anos.
"Quando eu fui para o Figueira, a minha ideia era jogar mais uns dois anos, ou seja, até aos 40 anos, e parar. Devido a esse problema todo com a minha mãe eu acabei nem pensando mais nisso, muita gente me perguntou se era o fim da carreira e eu disse que ainda não tinha pensado. Agora, pensando com mais calma, acho que posso jogar mais uns dois anos", disse.
E se depender de Fábio, o futebol continuará em sua vida profissional mesmo depois que ele pendurar as chuteiras. De preferência como treinador.
"Eu vou trabalhar para sempre com futebol, a minha ideia é essa, estudar, como estou estudando para ser treinador no futuro. Na realidade eu venho de uma família de treinador amador: meu pai sempre foi treinador, meu avô também, goleiro e treinador, então, antes de eu ser jogador e goleiro, meu sonho sempre foi ser treinador. E assim que eu parar de jogar oficialmente, pode ter certeza que eu vou correr atrás disso", completou.
Quem é Fábio?
Revelado pelo Jacareí (SP) em 2002, Fábio passou posteriormente por clubes como Inter de Limeira, Mogi Mirim, Marítimo (POR) e Guaratinguetá, clube no qual se destacou em 2008. Desde então, vestiu as camisas de Ponte Preta, Portuguesa, Goiás, Oeste, Criciúma, São Caetano, Botafogo (SP) e Ituano, seu último clube antes do Figueirense.
Foto: Luiz Henrique/Figueirense FC
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