O apelido "El Matador" foi dado pelo jornalista esportivo Roberto Avallone. Evair Aparecido Paulino era realmente frio em campo. Não costumava, nos tempos de jogador, desperdiçar oportunidades. Com talento de um grande goleador fez sucesso em diversos clubes do Brasil. Jogou fora do país na Atalanta, da Itália, e no Yokohama Flugels, do Japão. Tinha qualidade para ter ido a uma Copa do Mundo. Não foi. Nos campos tupiniquins, ele se destacou como centroavante do Guarani, do Palmeiras e Vasco da Gama. Defendeu ainda o Atlético Mineiro, a Portuguesa, o Coritiba e o Goiás. Aqui, um bate-papo muito especial com esse grande artilheiro da história de nosso futebol. Ele que participou do "Por Dentro da Bola", no Bandsports, nesta semana. E este colunista pegou a carona (risos).

Frustração

O ex-atacante Evair, eterno ídolo da torcida palmeirense e que teve grandes passagens pelo Guarani (clube que o revelou), Vasco da Gama, Portuguesa, Coritiba, entre outros times, revelou nesta terça-feira qual foi a maior frustração vivida por ele como jogador de futebol.

"Sem dúvida, a maior frustração foi não ter disputado uma Copa do Mundo. Eu estive mais próximo em 1994. Cheguei a jogar as Eliminatórias. Mas não fui para a Copa. Realmente era um grande ano para mim e para o Palmeiras, que era o time com a melhor defesa e com o melhor ataque.  O César Sampaio, o Antônio Carlos, o Cléber, o Edmundo, o Mazinho, o Zinho e eu tínhamos esperanças. Mas só foram para o Mundial dos Estados Unidos o Mazinho e o Zinho?, lembra.

À época, o técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, preferiu outras peças ofensivas. Casos de Bebeto, Romário, Paulo Sérgio (ex-Corinthians), Viola, Ronaldinho e Muller para o ataque. Bebeto e Romário formaram a dupla de ataque titular da seleção em 1994. Paulo Sérgio era considerado útil taticamente e atuava em outras posições. Muller já tinha experiência de dois mundiais (1986 e 1994). E Ronaldo, então garoto do Cruzeiro, foi chamado para adquirir experiência.


O melhor companheiro de ataque

Evair formou grandes duplas de ataque com Edmundo, primeiro no Palmeiras (entre 1993 e 1994) e depois no Vasco (em 1997). Mas para o ex-centroavante, que foi revelado pelo Guarani, o Animal não foi seu melhor companheiro ofensivo.

 "O Edmundo era um jogador diferenciado, sem dúvida. Mas eu não posso esquecer do João Paulo (ex-ponta-esquerda do Guarani). Ele me ajudou muito nos tempos de Guarani. O João era habilidoso e não fazia questão de fazer gols. Por isso, ele sempre preparava muitas jogadas para que eu finalizasse. Foi um outro espetacular jogador?, disse Evair.

Evair, com a 9, e João Paulo, com a 11, fizeram realmente uma dupla infernal no time campineiro entre os anos de 1985 e 1988. Com eles, o Guarani foi vice-campeão brasileiro de 1986 (perdeu a final para o São Paulo, em jogo muito polêmico) e vice-campeão paulista de 1988 (foi derrotado pelo Corinthians, gol de Viola, também no Brinco de Ouro da Princesa).

João Paulo, muito elogiado por Evair, foi um dos últimos autênticos pontas do futebol brasileiro, chama-se na verdade Sérgio Donizeti Luiz. O "apelido? João Paulo veio por causa do estilo semelhante de atuar com o ponta-esquerda João Paulo, que foi revelado pelo Santos e teve passagens por Flamengo, Corinthians e Palmeiras. Depois de fazer dupla com Evair, João Paulo, o Sérgio Donizeti, jogou no Bari (Itália), Vasco, Goiás, Corinthians, Ponte Preta, Paulista de Jundiaí, Bahia e União São João. Nos tempos de Bari, entre 1988 e 1993, chegou a ser apontado como um dos melhores estrangeiros do Campeonato Italiano.

Ponte aérea

"Um jogador acostumado a atuar no futebol paulista sempre terá dificuldades quando for vestir a camisa de um time carioca. E vice-versa?, analisa Evair. "É tudo muito diferente. No Rio há um calor intenso. É outro tipo de vida. Geralmente só treinávamos no Vasco em um período. Em São Paulo é diferente. E essa mudança o jogador sente?, emenda o ex-centroavante, que foi tricampeão brasileiro (1993 e 1994 pelo Palmeiras e 1997 pelo Vasco da Gama).

Como foi enfrentar um ex-time?

Questionei Evair como foi para ele enfrentar o Palmeiras, time pelo qual fez tanto sucesso entre 1991 e 1994,  na final do Brasileirão de 1997. "Foi algo especial. Mas eu comemorei muito o título. O Palmeiras ficou marcado. Mas quando fiz gols contra o Palmeiras ou Guarani, eu sempre comemorei. Isso faz parte do futebol. E o meu respeito continuou pelos clubes?, disse.

Relação com Eurico

O ex-centroavante revela que sempre teve bom relacionamento com o polêmico dirigente Eurico Miranda nos tempos de Vasco, mas a despedida do clube de São Januário não foi das melhores. "Até hoje eu não recebi o bicho pela conquista do Campeonato Brasileiro?, revela. "Acho que o Eurico, no início do campeonato, não acreditava muito na nossa equipe. Porque ele prometeu um bicho bem alto depois que nós perdemos um jogo para o Corinthians, no Pacaembu. Depois nós fomos cobrá-lo?, diz. O jogo citado por Evair foi realizado no dia 16 de julho de 1997. E o Corinthians, com gols de Romeu (volante) e Donizete Pantera Negra, bateu o Vasco por 2 a 1. O único gol da equipe carioca foi marcado por Edmundo.

O Animal

Embora não esconda que tenha tido problemas de relacionamento com Edmundo, Evair faz questão de elogiar seu ex-companheiro de ataque. "O Edmundo encarava mesmo. Não tinha medo de nada. Era um jogador especial?, comenta. "Assim que ele chegou ao Palmeiras (em 1993) já teve uma briga comigo. Era o jeito dele. Eu já tinha um espaço dentro da equipe, cobrava pênaltis, marcava gols. Mas ele também queria bater pênaltis. E ficava bravo?, emenda. "Mas, sem dúvida, foi um grande jogador. E no Vasco também viveu um momento pra lá de especial em 1997?, recorda.

Desconforto no Galo

Em 1997, antes de brilhar com a camisa do Vasco da Gama, Evair teve uma passagem rápida pelo Atlético Mineiro. Mas apesar de ter nascido em Minas Gerais (em Crisólia, sub-distrito de Ouro Fino), o ex-centroavante não tem boas recordações do Galo.

"Fiquei desconfortável no Atlético Mineiro. Muitos jogadores e funcionários não recebiam. O único salário que estava em dia era o meu, porque era bancado por um patrocinador. Uma vez falei isso em entrevista. Aí, teve gente que achou que eu tinha desrespeitado o clube. Não tive a intenção de fazer isso. Jamais. Mas era uma situação que me incomodava eu receber normalmente e outros não?, diz Evair, que pouco antes de defender a equipe mineira tinha jogado pelo Yokohama Flugels, do Japão.

Proposta espanhola

Evair admite que se arrependeu por recusar um convite espanhol nos anos 80. O Atlético de Madri demonstrou interesse na contratação dele, mas o espigado e oportunista atacante optou por continuar no Brinco de Ouro da Princesa. "Eu tinha uns 21 ou 22 anos. Veio a proposta do Atlético de Madri, mas eu queria ficar aqui. E estava fazendo o que mais gostava. Não quis trocar o Guarani pela Espanha?, revela.

Momentos difíceis no Palmeiras

Evair não viveu só bons momentos no Palmeiras. Em 1992, quando o técnico do alviverde era Nelsinho Baptista, o centroavante chegou a ter seu nome em lista de dispensa. "O Palmeiras vivia um momento muito difícil. Então, o Nelsinho Baptista decidiu afastar alguns jogadores. Eu era o centroavante e não estava fazendo gols?, comenta. "Para a minha felicidade eu fui reintegrado depois. O mesmo não aconteceu com outros atletas (Jorginho, Andrei e Ivan Izzo)?, lembra.

O Palmeiras não conquistava um título expressivo desde 1976, o que dificultava a boa relação entre elenco e torcida. "Eu procurava não sair muito de casa, porque a pressão era grande. Não queria dar motivos para nada. Todos os jogadores temiam, porque muitos torcedores estavam muito aborrecidos com o jejum de títulos?, fala. "Mas depois, entre 1993 e 1994, o Palmeiras ganhou praticamente tudo. Só faltou o Libertadores. Fizemos uma excursão em 94 e depois perdemos para o São Paulo?, emenda.

Tristeza pelos vices bugrinos

Revelado pelo Guarani, Evair não esconde sua frustração por não ter conquistado um título importante com a camisa bugrina. E em duas ocasiões o grito de campeão esteve perto de sair: em 1986, quando o Guarani foi vice-campeão brasileiro, e em 1988, ano em que o Bugre ficou com o vice do Paulistão.

"Tem coisa que o tempo não cicatriza. Eu procuro não lembrar, mas é difícil. Alguma hora aparece na televisão um daqueles jogos. A derrota de 1986 para o São Paulo foi muito dolorida. Teve até aquele pênalti absurdo não marcado em cima do João Paulo (ponta-esquerda). Mas a de 1988 (para o Corinthians), também por ter sido em casa (no Brinco de Ouro da Princesa), foi muito triste. E o Guarani tinha duas grandes equipes?, lamenta Evair.

Em 1986, Guarani e São Paulo empataram no tempo normal por 1 a 1. Na prorrogação, outro empate: 2 a 2. Na decisão por pênaltis o São Paulo levou a melhor. Dois anos depois, o Guarani, com Evair, Neto, João Paulo, Vágner Bacharel, Ricardo Rocha e Marco Antônio Boiadeiro como destaques, foi surpreendido pelo time corintiano. No tempo normal, empate sem gols. Na prorrogação brilhou a estrela do então garoto Viola, que fazia sua primeira partida como titular da equipe alvinegra.

Melhor jogo da carreira

O dia 12 de junho de 1993 certamente não sai da memória dos palmeirenses. Afinal, naquela data o alviverde acabou com o jejum de títulos que durava desde 1976. E com sabor muito especial: vitória sobre o grande rival Corinthians, na final, por 4 a 0 (3 a 0 no tempo normal e um a zero na prorrogação). Evair marcou o último gol da partida. Mas essa não é a única partida inesquecível para Evair com a camisa do time do Palestra Itália.

"Acho que a minha melhor partida pelo Palmeiras foi contra o Boca Juniors. Vencemos por 6 a 1. Gosto de mostrar para o meu filho. Dei um passe de calcanhar para o Roberto Carlos e fiz gols", conta Evair. O goleada sobre os argentinos aconteceu no dia 9 de março de 1994, no Parque Antártica, e era válida pela Libertadores da América. Os gols do time casa foram marcados por Evair (2), Cléber, Roberto Carlos, Edílson e Jean Carlo. Martinez descontou para o Boca.

 


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