Se fossem extraterrestres, os dentistas talvez viessem de algum lugar pra lá de Plutão. Algo como planeta Com-Dor já que dentista não tem nada a ver com Sem-Dor

Se fossem extraterrestres, os dentistas talvez viessem de algum lugar pra lá de Plutão. Algo como planeta Com-Dor já que dentista não tem nada a ver com Sem-Dor

Se fossem extraterrestres, os dentistas talvez viessem de algum lugar pra lá de Plutão. Algo como planeta Com-Dor já que dentista não tem nada a ver com Sem-Dor.

Uma pessoa não deveria ir ao dentista sem antes fazer um curso intensivo para poder compreender o real significado de algumas expressões. Por exemplo, quando um dentista diz: “pode ficar tranquilo, vou só olhar, não vai doer nada”, na verdade, ele está querendo dizer que vai enfiar aqueles ganchinhos até o cerebelo e que você, caso consiga fechar os olhos, verá a real imagem do cogumelo de Hiroshima. Já no caso extremo de ele dizer: “pode ser que doa um pouco”, pode-se interpretar algo do tipo “você tem direito à eutanásia, caso prefira”.

Uma coisa deve-se dizer a favor dos dentistas: são profissionais que adoram conversar com os seus pacientes. Não necessariamente um diálogo já que o paciente tem pouquíssimas chances de emitir algo além de um grunhido monossilábico.
— E essa coisa da Copa, hein?
— Org.
— Não precisava fazer metade dos estádios que fizeram, né?
— Hã-hã.
— E o tal legado pós-Copa?
— Glur.
— É mesmo? Não sabia que você pensava assim?
— ?!

Deveria haver uma lei que proibisse o paciente de deixar o consultório antes do final da anestesia. Além de evitar a humilhação de passar por babão inveterado, ele estaria a salvo da humilhação maior que é a de falar o “idioma da anestesia”, própria de quem não consegue coordenar lábios e língua.
— B’igado, dou’or. A’é a f’óxima f’emana.
— Prepare-se. Semana que vem vai ser pior que hoje.
— F’uta que o f’ariu!!!

Você deve estar se perguntado: mas o que isso tem a ver com futebol?
Bem, ontem, num caso de emergência, fui ao departamento odontológico do SBT, emissora em que trabalho. Fui atendido pela Dra. Cíntia, cujo sorriso dispensa o uso de qualquer anestesia.
Dizem que a Dra. Cíntia é quem costuma atender o Sílvio Santos. Isso faz com que sua experiência seja vasta, pois não há ninguém no mundo com mais dentes do que SS.

Enquanto entro no consultório, a corintianíssima fonoaudióloga Dra. Fabiane faz o alerta de que sou santista. Só vou entender o porquê quando a Dra. Cíntia me diz:
— Então, você é santista, né? Eu também.
— Verdade?
— Sim. Tinha que ser. Nasci em Santos e meu tio jogou no Santos.
— Quem era o seu tio?
— Joel Camargo.

JOEL CAMARGO!!! O “açucareiro” (apelido que lhe foi dado pelo fato de sempre se postar com as mãos na cintura e/ou jogar de braços bem abertos).

— Infelizmente, nunca vi meu tio jogar.
— Que pena, Dra. Cíntia. Você, certamente, iria gostar.

Joel Camargo foi um dos maiores quartos-zagueiros que vi em ação, tanto no Santos quanto na Seleção. Era clássico, mas também dava de bico para o alto. Tudo dependia da ocasião. Com a camisa canarinho ele foi sensacional nas eliminatórias de 1969. Já em na Copa de 1970, no México, estava lá ele usando a camisa 17. Foi tricampeão no banco de reservas, mas poderia ter sido titular.

Gostaria de falar essas coisas à doutora, mas não o fiz. Por dois motivos. Primeiro por tudo que já relatei nos parágrafos iniciais. Segundo porque minhas lembranças são parte do meu passado, que é pessoal e intransferível.

O filme que, pra mim, foi bacana no passado talvez não tenha o mesmo impacto hoje. Da mesma forma, uma canção que me passou batida numa época, pode me sensibilizar anos mais tarde, quando só então a descubro.

A história é uma só. O que muda é o tempo e, com isso, a forma de vê-la. Por isso, penso, não se pode comparar presente com passado e vice-versa. O presente é absoluto; o passado é relativo.

Houve quem já viu a seleção brasileira jogar, sendo ou não campeã, tendo na quarta-zaga Orlando Peçanha, Zózimo, Wilson Piazza, Marinho Peres, Amaral, Luizinho, Júlio César, Márcio Santos, Roque Júnior, Juan... Cada um deixou uma impressão à sua época. Hoje, com o passar do tempo, a história pode ser contada de outra forma, até mesmo por quem os viu.

Assim como Joel Camargo já foi um dia,o presente nos mostra a Copa de 2014 com Thiago Silva e David Luiz. Hoje eles são os nossos absolutos. No futuro eles serão passado. E aí tudo poderá ser relativo outra vez...

E-mail da coluna: magajr04@hotmail.com

Foto: Portal TT

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