Escrever uma crônica.
O cronista em transe estupefato e indignado.
Nada fácil.
O atrevido e canhestro colhedor de letras e frases de efeito, catando milho nas suas teclas bichadas e envergonhadas, sem os campos idílicos romanceados nos campos de centeio.
A mais patética talvez de todas as crônicas feitas.
Nas vitórias ou derrotas.
De momentos variados, de tantas Copas!
Uma deixada, despedida do ônibus da seleção derrotada em 86 em Guadalajara, ao lado do repórter cinematográfico José Carlos “Mosca”, que nesta data – 8 de julho de 2014 – lá estava fazendo imagens exclusivas para a transmissão da Rede Globo.
Uma reportagem, uma crônica premiada e a que mais o cronista sente carinho. A melhor descrição um dia feita na vida do suposto cronista. Pois agora, sem obrigação nenhuma, a não ser íntima.
A vontade de escrever, tortas ou retas linhas, se impõe novamente diante de tamanha vergonha vista! Vergonha, sim! Infâmia, sim! Ao jogarem, sem jogar o jogo, todo um rico passado na lama!
Mas não baterei nas suas chorosas faces, milionários meninos! Soldadinhos de chumbo sem peso! Pobres meninos ricos!
De verdade. Mas sem ironia, em nada os vejo como os grandes responsáveis! Mesmo aqueles que estiveram pateticamente expostos nos campos, com votos de confiança e ridícula confiança.
Se lá foram colocados, a responsabilidade maior foi daqueles, ou daquele, que ali os colocaram.
Soldadinhos de chumbo sem peso, estão perdoados pelo cronista arrogante!
O cronista aqui perfilado, roubou o título de um livro. De um romance antológico de angustiado e genial escritor chamado Lucio Cardoso. Vocês não sabem de quem se trata, derrotados e humilhados meninos. Nada demais. Ninguém mais sabe. Seus dirigentes nunca ouviram falar.
Os ministros, talvez o da Educação, uma ou outra exceção, que não são seus, pois vocês vivem uma outra realidade, tampouco. Mas peço desculpas ao genial escritor por emprestar o título.
Mas ao acabar a macabra e patética peça encenada, me veio de pronto.
A crônica. Da nossa casa assassinada.
Que vem sendo faz tempo. Violentada.
Espoliada. Aviltada. Mas não falemos de política.
Justiça nisso não haveria, jovens ídolos de barro milionários – por justiça e direito, fique claro! – mas de futebol mesmo!
Queriam passar para a história, garotos de sorte?
Conseguiram, pois. Mesmo! Sem ironia. Um feito inimaginável. Mas tenho comigo, jovens ídolos de barro, que em nada mesmo foram culpados. Foram usados, iludidos e enganados!
Mas a história é pródiga e com o tempo, o que foi o avesso se faz o pano primeiro.
O cronista os admira, meninos de pé um dia descalços, hoje mantidos pela Nike! E o cronista, ainda nutre a esperança de dizer, muito obrigado!
Vocês que podem entrar como nódoa na rica história do nosso decantado futebol, no futuro poderão ser vistos, pelos estudiosos e pesquisadores, como heróis!
Como os de Esparta! Que mesmo sem querer, foram responsáveis por uma nova ordem! E que agora se mostrem homens de verdade, o cronista de longe ficará atento, vigiando se vocês entenderam, de verdade, a realidade do país que os forjaram, das suas favelas, da vergonha deixada para trás, até mesmo nos olhos compreensivos dos seus familiares e dos seus filhos.
Vençam, mesmo de outra forma, este jogo para o seu povo. E contarão com a gratidão desse cronista.
Ganhem, desfrutem, do talento nato. Mas não sejam marionetes ou cidadãos da primeira hora. Agora entendo o filme que sempre achei deprimente como canto de cisne do cineasta Glauber Rocha!
A Idade da Terra. Ele mesmo sabia que seu delírio narcisista ali se fazia grotesco e moribundo.
Que o novo velho era. Profeta inconsciente da soberba.
Nossa casa foi assassinada. Na lama, garotos usados, vocês serão acusados de borrar todo um rico passado.
Perderam o respeito geral! No duro, com carinho e respeito, o cronista clama: construam um novo futuro. Basta.
Gilson Ribeiro, 08/07/ 14.
Gilson Ribeiro é um dos poetas do jornalismo esportivo. Sensível e inteligente, seus dedos nos teclado produzem verdadeiros poemas e reflexões dignas do futebol brasileiro. Trabalhou na TV Globo, fez história na TV Bandeirantes entre 1984 e 2000.
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