O Corinthians sempre contrariou a lógica combinando mística e paixão

O Corinthians sempre contrariou a lógica combinando mística e paixão

Fábio Carille é uma das boas novas no futebol brasileiro. Jovem, estudioso, bem educado, calmo e seguro. Assumiu o Corinthians fazendo apenas uma promessa para a torcida: colocar em campo um time bem organizado. No decorrer do ano, a organização e o espírito de luta de cada jogador garantiram um título paulista e uma campanha avassaladora no primeiro turno do Brasileirão.

Os tropeços iriam acontecer, claro. Renato Gaúcho, o técnico do Grêmio, chegou a dizer que o Corinthians iria despencar na tabela. E logo recebeu de volta dos jogadores corintianos declarações indignadas. Algumas até exageradas, mas mostravam o quanto o time estava com a faca nos dentes. Já tinha sido assim no Paulistão. Eles aguentaram calados o prognóstico de que seriam a quarta força do futebol paulista, deram a resposta dentro de campo e só depois desabafaram.

E veio a primeira derrota no improvável duelo contra o Vitória no Itaquerão. Normal. Carille e os jogadores fizeram o certo ao minimizar o tropeço, afinal a vantagem ainda era grande na ponta da tabela. Só que depois de cinco jogos, em que o time foi derrotado três vezes, e venceu apenas uma, não dá pra achar que tá tudo muito bom, tá tudo muito bem. É assustador ouvir o Jô falar que a diferença ainda é confortável na tabela, depois de perder para o Santos, na Vila Belmiro. Ou ouvir o Carille dizer que segue tranquilo, depois do empate contra o
Racing, em casa.

Não precisa e nem deve chegar no vestiário chutando tudo como disse o treinador, mas é preciso endurecer sem perder a ternura. É hora de dar um bico na razão e deixar a emoção tomar conta. Entrar em campo como se não houvesse a vantagem de sete pontos na liderança. Afinal ainda faltam 15 jogos e um deles é o confronto direto com o Grêmio, que faz que não tá nem aí, mas usou o time titular na derrota para o Vasco.

A história corintiana mostra que o Corinthians sempre contrariou a lógica combinando mística e paixão. Em 77, o técnico Oswaldo Brandão, que era espírita, sonhou que Basílio iria marcar o gol do título. Em 90, o então segurança Tim Maia garante ter recebido um aviso dos céus e logo repassou ao técnico Nelsinho. O recado é que ele seria abençoado na decisão contra o São Paulo e o Timão seria campeão brasileiro pela primeira vez.

E mesmo durante a Democracia Corintiana, quando o time era técnico e cerebral, a possibilidade de ajudar a mudar o país através do futebol criou uma paixão fulminante entre jogadores, torcida e os que lutavam pelo fim da ditadura.

Talvez a imagem mais recente do que resume o que é o Corinthians seja Tite torcendo no meio da Fiel, no jogo contra o Vasco, em 2012, quando ele foi expulso e resolveu ver o jogo no meio da galera. Ali ele não pensou se o time podia perder, se a torcida podia se revoltar. E foi naquele sofrido 1 x 0 que o Timão começou a ganhar a Libertadores.

Carille há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a vã filosofia corintiana. Peça para a garotada mandar um Saravá para São Jorge e deixar os números de lado, até porque em tempos de gourmetização do futebol é sempre bom lembrar que os rendimentos passados não são garantia de lucros futuros.

Foto: Danilo Verpa/Folhapress (Retirada do Portal UOL)

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