Chico Santo, La Paz - A cena indiscutivelmente chama a atenção. Do alto da Cordilheira dos Andes, em cima daquela que pode ser considerada a capital de maior altitude da América do Sul, o verde e amarelo prevalece, como se fosse um convite de boas-vindas ao Internacional, representante brasileiro na BolÃvia, entre a tonalidade sem graça de uma das regiões mais pobres do mundo. No colorido Estádio OlÃmpico Hernando Siles, fica o retrato de um campo projetado entre prédios e igrejas antigas. São casas que dão vida aos traços do arquiteto José Delpini e consequentemente transmitem ao complexo esportivo a sensação de dono do pedaço.

Dos 3640 metros acima do nÃvel do mar, no ápice da porção boliviana da cadeia montanhosa, o que se vê entre o amontoado de Miraflores, realmente, vai além da miséria que parece tomar conta de tudo. Trata-se da esperança de um povo que como em tantos outros lugares busca encontrar na bola o refúgio para os problemas do dia-a-dia. Um cenário que reflete o sentimento de uma nação esquecida pelos próprios atletas que nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, contra a Seleção Brasileira, se recusaram a vestir a camisa da BolÃvia. Uma forma de protesto que silênciou o grito das arquibancadas.

Ao todo, são 41 mil lugares. Capacidade para torcedores sentados. Outras 4 mil pessoas, pelos números oficiais, poderiam assistir hoje a partida entre The Strongest e Internacional se a exemplo do que ocorre nos arredores do campo, fossem espremidas pelos corredores. Um estádio que, evidentemente, não pode ser tido como modelo em termos de segurança e conforto. Em La Paz, muitos dos padrões determinados pela FIFA, simplesmente, não existem. Apesar disso, as tribunas de imprensa mostram certa imponência ao local. O mesmo não se diz em relação ao sistema de iluminação que, assim como o futebol boliviano, deixa a desejar.

O campo de jogo, por sua vez, possui 105 metros ao longo de sua lateral com 68 metros pela linha de fundo. O gramado, obviamente, é ruim. Tem sido assim ao longo dos anos. Pela lenda que corre no mundo do futebol, desde a partida de inauguração, em 1931, na vitória por 4 a 1 do The Strongest em cima do rival Universitário.

Motivo de desgosto para o ex-presidente, Hernando Siles (1926-1930) ? imortalizado com o nome da obra -, que segundo o orçamento revelado em seu mandato, teria custado cerca de 95.000.000.00 pesos bolivianos. Dinheiro considerado alto para um investimento que até o momento não trouxe grandes eventos a BolÃvia.

Em quase 100 anos de existência, foram dois os torneios de destaque. O Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1963 e a Copa América de 1997. Se não fosse pela derrota sofrida pelo Brasil por 2 a 0, em 25 de julho de 1993, em verdade, o estádio teria passado em branco na lista dos historiadores esportivos. Entretanto, o placar negativo resultou à Seleção Brasileira a primeira derrota dentro de uma eliminatória de Copa do Mundo. O técnico, na época, era Carlos Alberto Parreira, campeão mundial no ano seguinte.

Dunga, em 2009, também perdeu para a Conmebol. Seja como for, entre gestos de amor e opiniões contrárias, nenhum outro motivo causa tanta polêmica quanto o fator altitude. Em 2007, o estádio chegou a estar fora das condições estabelecidas pela FIFA que aumentou o limite máximo de altitude de 2500 para 3000 metros acima do nÃvel do mar. A entidade maior do futebol, no entanto, não suportou a pressão por parte das autoridades bolivianas, incluindo o presidente em exercÃcio Evo Morales, e abriu, de forma oficial, um a exceção ao campo boliviano.

Desta forma, o Estádio OlÃmpico Hernando Siles, em tese, está apto para receber a partida entre The Strongest e Internacional. Para os brasileiros fica a expectativa de que sobre ar aos pulmões. Para os bolivianos, a oportunidade de mostrar a uma população tão desgastada que nem tudo está perdido.