Em comunicado, Bernard diz que são apenas 4 dias de ausência, faltas ocorridas por medo de encarar um país em conflito político com a Rússia

Em comunicado, Bernard diz que são apenas 4 dias de ausência, faltas ocorridas por medo de encarar um país em conflito político com a Rússia

O meia-atacante Bernard apresentou nota oficial nesta quinta-feira em que explica os motivos pelos quais não se reapresentou ao Shakhtar Donetsk. A ausência se tornou polêmica após o técnico do time ucraniano, Mircea Lucescu, disparar diversas críticas ao jogador, entre elas de que Bernard sumiu faz 3 meses e que o brasileiro era um "atleta de Twitter".

Em comunicado, Bernard diz que são apenas 4 dias de ausência, faltas ocorridas por medo de encarar um país em conflito político com a Rússia.

"Confesso sim, que estou com receio de voltar à Ucrânia. Respeito os atletas que retornaram, mas é um sentimento muito particular e que envolve a minha vida e de meus familiares", escreveu Bernard.

Em entrevista ao site do clube ucraniano, o treinador disse que jamais havia presenciado tamanha indisciplina no futebol, acusando Bernard de jamais o ter procurado para explicar o atraso à reapresentação.

"O comportamento dele é simplesmente inexplicável para mim. Em 40 anos da minha carreira de treinador, eu nunca tinha me deparei antes com uma situação como esta que estou observando com ele! Nós nos separamos de Bernard no dia 15 de maio, para a Copa. Permitimos que ele fosse para casa mais cedo do que todos os outros. Pois agora já vai fazer quase três meses que a gente não o vê. E todo esse tempo, ele continua recebendo o salário do seu contrato", afirmou.

"A sensação que dá é que ele é um jogador de Twitter e das redes sociais. Aí ele contata com os fãs. Mas, ao mesmo tempo, não se comunica com a sua equipe, que é quem lhe paga o salário".

Pouco após ser chamado de "atleta de Twitter", Bernard, ironia ou não, usou a rede social para se defender das acusações.

"3 meses.. Sendo que a copa acabou faz 1 mês! Aula de matemática? Será preciso", postou Bernard, na terça-feira (12).

Confira a íntegra da nota oficial de Bernard:

1 - Deixei a Ucrânia no dia 19 de maio, um dia depois do meu último compromisso como atleta do Shakhtar na temporada (a partida contra o Volyn, no dia 18). Cheguei dia 20 ao Brasil e minha apresentação à Seleção aconteceu no dia 26.05. Portanto, tive apenas sete dias de descanso até iniciar o compromisso com meu país. Defendi a Seleção até o dia 12.07.

2 – Acertei com o Shakhtar meu retorno à Ucrânia para o dia 10.08. Assim, teria praticamente o equivalente a um mês de férias. O clube, ciente e de acordo com a data, me enviou passagem aérea datada do dia 10.08, para que eu voltasse.

3 – Reconheço, portanto, que hoje, dia 14.08, se completarão quatro dias que não estou presente na Ucrânia, E isso, claramente não representa que estou três meses de férias. Este adiamento de minha apresentação tem motivos que considero muito sérios e quero explicá-los.

4 – É de domínio público que a Ucrânia vive um conflito perigoso e que tem colocado vidas em risco. Vivo com toda minha família por lá desde o ano passado. Quando assinei meu contrato para atuar pelo Shakhtar, o país não vivia esse momento conturbado. Assinei o compromisso também porque havia a promessa de morar em uma cidade com estrutura excelente, trabalhar em um CT e jogar em um estádio com condições de 1º mundo. Evidente que, ciente de meus compromissos profissionais, não fiz qualquer movimento de insatisfação com a situação pela qual o país passava; pelo contrário, cumpri tudo que meu clube me determinava, mesmo que estivesse trabalhando todos os dias com muito medo. Houve vários dias em que, no deslocamento que fazia em direção ao meu local de trabalho, além de deixar meus familiares "presos" dentro de casa, tinha que me identificar para o exército que bloqueava com tanques de guerra a cidade de Donetsk. Essa, definitivamente, não é uma das situações mais agradáveis para se trabalhar. E aqui, não cabe nenhuma crítica a meu clube, que fazia o que podia para garantir minha segurança. Era sim uma questão muito particular.

5 – Quando voltei ao Brasil, fiquei na expectativa de que a situação no país se acalmasse e eu pudesse retornar para poder trabalhar normalmente e com a cabeça unicamente voltada para jogar futebol. Entretanto, os problemas não acabaram tanto que o próprio clube teve que mudar de sua sede para seguir suas atividades em uma cidade a 700 km de distância. Hoje, não posso retornar para Donetsk. Em casa ficaram os meus pertences pessoais e de minha família. Todas minhas roupas, por exemplo, estão por lá. Objetos que levei da minha residência no Brasil hoje estão inacessíveis e não sei quando, e se, poderei um dia pegá-los de volta.

6 – Confesso sim, que estou com receio de voltar à Ucrânia. Respeito os atletas que retornaram, mas é um sentimento muito particular e que envolve a minha vida e de meus familiares. Contudo, pedi a meu agente que mantivesse contato com o clube, e definimos em conjunto, que, mesmo com todos esses problemas que o país vive e com meu receio explicado à diretoria do Shakhtar, vou voltar ao país no dia 18.08. Convido, inclusive, algum jornalista que quiser me acompanhar neste retorno para que possa visualizar de perto e documentar a situação pela qual vive o país.

7 – Respeito todas as opiniões que foram emitidas neste período, mas quero ressaltar que vivo um momento profissional que é impossível de não se misturar com o momento pessoal. Estou retornando a um país que vive um conflito que tem tirado muitas vidas e não há qualquer garantia de término. Mesmo assim, sou um profissional que irá cumprir o contrato que assinou. Apenas coloquei na balança, além do profissionalismo, o medo de envolver a mim e meus familiares em um conflito tão perigoso pelo qual passa a Ucrânia. Quem não faria isso?

FOTO: UOL

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