E o problema vai muito além do campo de futebol

E o problema vai muito além do campo de futebol

Quem nasceu nos anos 80 e viu ainda na infância e começo da adolescência, um São Paulo forte que parecia uma máquina de ganhar títulos sob o comando do saudoso Telê Santana e, já adulto, na primeira década dos anos 2000, viu o “Time da Fé” ser intitulado de forma equivocada de “Soberano” pela nova sequência de conquistas, hoje tem dificuldades para identificar a essência vitoriosa que por tanto tempo, norteou o clube do Morumbi.

E o problema vai muito além do campo de futebol. Arrogância sempre foi um dos maiores “venenos” da existência humana. E o São Paulo pecou muito nesse aspecto. Ao emplacar Paulistão, Libertadores e Mundial em 2005 e três títulos brasileiros nos anos seguintes, o tal conceito de soberania tão divulgado pelo clube foi o “tiro que saiu pela culatra”. Frases tão simples como, “o mundo dá voltas”, que ouvimos desde sempre, foram desprezadas no Morumbi. Se denominar Soberano em um mundo tão cíclico como o do futebol, é no mínimo, pouco inteligente. E não deu outra.

A começar pela perda da grande oportunidade que teria para modernizar o estádio Cícero Pompeu de Toledo, visando a Copa de 2014. O presidente à época, Juvenal Juvêncio, tinha certeza que o Morumbi seria o estádio do Mundial em São Paulo e, quando pensou em acordar, já era tarde.

O Corinthians amparado por acordos e mais acordos fez a manobra que sonhava desde 1910, viu construída a Arena que leva seu nome e sediou os jogos da Copa. Ainda pelo prisma diretivo, o que se viu no fim da gestão de Juvenal foi mais que suficiente para que o alerta fosse ligado. Mudança de estatuto, dirigente criticando jogador publicamente como no episódio Adalberto Baptista e Rogério Ceni e por aí vai.

Aliás, o próprio Ceni, vendo os rivais com arenas modernas e/ou conquistando títulos e, na maioria das vezes, levando a melhor nos clássicos contra sua equipe, chegou a dizer com notável incômodo na voz, que o São Paulo havia dado “uma parada no tempo”.  


Já dizia o saudoso mestre Fiori Giglioti: “O TEMPO PASSA...”. Mas o SPFC não se atentou à isso e retrocedeu elegendo Carlos Miguel Aidar, presidente. Algo que escancarou de vez a bagunça interna que já vinha tomando conta da direção. A falta de uma oposição consistente e a tal postura “soberana” de Aidar (bananinha) fez com que seu período como mandatário fosse extremamente conturbado e, a forma como saiu do clube, renunciando ao cargo, envolvido em briga com o vice Ataíde Gil Guerreiro, com gravações comprometedoras e tudo mais, só evidenciou a péssima gestão.

Leco assumiu e prometeu “arrumar a casa”. Até creio em sua boa intenção e noto nele um discurso, mais “pés no chão”. Já o ouvi mais “soberano” também em outros tempos como diretor. Parece ter entendido que o momento é para fazer mais e falar menos. E isso também deve ser levado para o campo de jogo. Nos últimos anos, apesar da conquista da Copa Sul-Americana em 2012 e quase título no Brasileirão de 2009, o que se viu foi um São Paulo com constantes trocas de treinadores. Parece não ter aprendido com os próprios acertos, vide os próprios Telê nos anos 90 e Muricy nos anos 2000.

Está claro que terá sucesso o técnico que tiver sequência e respaldo. Todas as mudanças de comando recentes, por si só, já mostram falta de confiança e convicção nas decisões tomadas.

Em campo, o que se vê nos últimos anos é um São Paulo que, diferentemente das épocas citadas no início do texto, hoje reflete suas últimas diretorias. Tem pouca convicção e uma tremenda falta de identidade.

Há tempos, o tricolor não consegue se impor como antes. Principalmente nos clássicos. Em 2015, por exemplo, se viu eliminado do Paulistão e da Copa do Brasil pelo Santos, perdeu para o Palmeiras duas vezes sendo goleado e empatou só uma, tendo ainda teve que lidar com todo o “barulho” dos gols por cobertura feitos por Robinho.

Contra o Corinthians, o retrospecto recente é terrível e para piorar, o fim do ano ainda reservou o amargo 6 a 1. A vaga para a Libertadores, o vice-campeonato brasileiro de 2014 e não queda no mesmo campeonato em 2013, mostram que mesmo em fase ruim, o São Paulo, ainda assim, se mostra mais forte que rivais que passam por momentos semelhantes. Mas pensar isso é pensar pequeno. O torcedor merece muito mais que um time que escape de rebaixamento ou, no máximo, conquiste vaga para a Libertadores.

Aliás, parte da torcida também tem culpa e precisa parar de falar que o “Jason” voltou quando o time ganha 3 jogos seguidos contra adversários inexpressivos. Isso só causa ilusão. Diante da grandeza da história e peso da camisa, a instabilidade de hoje do Tricolor está mais para “A hora do pesadelo” do Freddy Krueger.

Muitas vezes, indeciso e instável emocionalmente, transforma quartas e domingos em verdadeiras, “sextas-feiras 13” para seu torcedor. Nos jogos de peso, se sai na frente, oscila muito para sustentar o placar. Quando toma o primeiro gol então, demonstra uma tremenda dificuldade para reagir. Concordo que o Dênis ainda não passe a segurança necessária para vestir a camisa 1 e que falhou feio contra o River Plate na Argentina, mas o problema vai muito além de tê-lo ou não como goleiro.


Deixar de ser o instável “soberano” e resgatar a força do “time da fé”, pode ser o primeiro passo, para que o “Tu és forte” do hino, volte a ser notado e até temido nos clássicos e demais momentos decisivos, escrevendo assim um roteiro que possa reconduzir o Tricolor aos “Dias de Glória”, fazendo alusão ao filme dirigido por Rachid Bouchareb.

Acesse: rafaelspinelli.com.br

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