A cidade no litoral de São Paulo se tornou referência no futebol mundial por diferentes motivos. Foto: Ivan Storti/Santos FC

A cidade no litoral de São Paulo se tornou referência no futebol mundial por diferentes motivos. Foto: Ivan Storti/Santos FC

Dezenas de pessoas andando pelas ruas apertadas de um bairro residencial pacato e tradicional, tomadas pelo cheiro irresistível do churrasquinho que faz a fome apertar. Pode ser só mais um dia normal na vida de uma cidade relativamente pequena que “normalizou” o sagrado. A cada esquina, a visão de quem olha para dentro do bairro é uma só: um estádio Urbano Caldeira, a mitológica Vila Belmiro, estádio de Santos Futebol Clube.

Ali não está um lugar qualquer! Santos é um solo especial e ao longo dos anos se tornou uma das cidades mais importantes do futebol. E ao mesmo tempo em que tem uma história grandiosa, segue sendo um município relativamente pequeno e que convive com “deuses” do futebol como se fossem pessoas comuns, numa relação com o esporte que talvez nenhum outro lugar do mundo tenha.

POR QUE SANTOS E O SANTOS SÃO ESPECIAIS?

Como é possível que uma cidade om menos de 500 mil habitantes, afastada de grandes centros financeiros e de grandes capitais, consiga “produzir” um time nove vezes campeão nacional, três vezes campeão continental e duas vezes mundial? O que explica uma equipe de um lugar pequeno conseguir ganhar o mundo e se tornar uma das marcas mais importantes do futebol em todos os tempos? Santos é essa cidade.

Quando pensamos na cidade de Santos e no clube Santos Futebol Clube, pensamos em futebol bonito, jogo ofensivo, gols, muitos gols, espetáculo, leveza, brilhos, raios... Santos virou sinônimo de futebol.

“A cidade se torna referencia para o futebol a partir do momento que surge Edson Arantes do Nascimento, a partir do momento em que o Santos vive sua Era de Ouro, que passa a excursionar pelo mundo levando o futebol arte por aí, a cidade passa a ser uma referência”, diz o jornalista Fellipe Camargo, do canal De Olho no Peixe.

O fato de estar situado numa cidade pequena, de não pertencer a nenhuma capital e de estar afastado das grandes metrópoles torna o Peixe um clube diferente. Não por acaso, ao longo dos anos, o clube sempre sofreu com problemas financeiros. E se sobreviveu, muito se dá por elementos inexplicáveis na Vila Belmiro.

“Eu brinco que os deuses do futebol estão sempre olhando pelo Santos e amparando o Santos. É um clube iluminado que tem sempre na sua história um predestinado, alguém que vai fazer com que o Santos, no momento mais difícil, ressurja das cinzas. Em meio a gestões temerárias, o clube sempre faz com que surja. Um garoto que faz o nome santos voltar ao topo”, afirma Fellipe Camargo.

 

“Se formos falar de gestão, o Santos era para estar numa quarta divisão ou até fechado, porque maltrataram muito o Santos administrativamente falando. Mas é um clube iluminado. E que tem a grandeza que tem porque sempre aparece um raio na Vila. Começou com Pelé, passou por Robino e Diego, Neymar e Ganso, o Rodrygo, que foi mais breve, mas que mostra porque é o quarto raio, e mesmo tendo inúmeras dificuldades, sempre consegue revelar grandes jogadores, é impressionante, vem Marcos Leonardo, Angelo, Kaiky...”, completa Camargo.

“Caiu o Pelé, mas caíram outros raios. O Pelé era simplesmente um deus doo futebol, por isso é mais reverenciado”, comenta o também jornalista Ademir Quintino, da rádio Energia 97.

“Depois do Pelé, todo mundo achou que o Santos iria morrer, porque é um time de cidade pequena, fora d capital. É mentira que o Santos não tem torcida. Tem entre a sétima e a oitava maior torcida do país, isso não é representativo? Claro que é!”, completa Quintino.

UM ÍDOLO A CADA ESQUINA

Talvez a grande peculiaridade da relação da cidade de Santos com o futebol esteja em sua relação com os ídolos do clube de futebol. Não é raro você entrar numa padaria em qualquer esquina da cidade e esbarrar em um ex-jogador histórico.

“O Emerson Leão, treinador que revelou Diego e Robinho me diz uma frase que é: Santos é o maior metro quadrado de ex-jogador do país”, diz Ademir Quintino.

“O cara que vem jogar no Santos vindo de outra cidade, não vai embora daqui. Isso aqui é um paraíso. Pouco trânsito, cidade pequena, você chega de uma ponta a outra em menos e meia hora. Isso é inimaginável em São Paulo, por exemplo”, completa.

Não é por acaso em qualquer esquina é possível cruzar com ídolos como Pepe, Mengálvio, Clodoaldo, Edu, Serginho Chulapa, Léo, Renato...

Isso é tão comum em Santos que para a população, não é mais novidade. São imortais do futebol circulando entre os humanos comuns. Mas a surpresa de quem convive é zero.

“A gente perde um pouco da importância. É tão corriqueiro você encontrar os ídolos, ter relação próxima com eles, conversar, que pra gene, isso se orna habitual”, diz Fellipe Camargo, que é morador da baixada santista.

A IMPORTÂNCIA DA VILA BELMIRO

“Uma casa aconchegante, que onde você fique, será bem recebido e vai ver que tem a torcida toda gritando e empurrando o Santos (...) a Vila é mágica!”. É assim que Ewerton Mello, torcedor do Peixe presente nas arquibancadas do Urbano Caldeira na partida entre santos e Red Bull Bragantino, em junho de 2021, pelo Campeonato Brasileiro, descreve o estádio santista.

A capacidade da Vila Mais Famosa do Mundo é de pouco mais de 15 mil pessoas. Não passa perto do luxo das grandes arenas de Corinthians e Palmeiras ou da imensidão do Morumbi. Mas a casa santista exerce seu papel com amor, magia e muita pressão. E não é por acaso que o Peixe historicamente é muito forte jogando em seus domínios.

“A Vila Belmiro é enorme para o time do Santos, quando está lotada é um 12º jogador. Essa Viila Belmiro pulsa em dias de jogos”, diz Fellipe Camargo, que ao longo de sua carreira como jornalista já trabalhou inúmeras vezes no estádio santista.

Uma discussão que ocorre nesse momento em Santos é sobre a construção de um novo estádio no mesmo local onde hoje está a Vila Belmiro. O objetivo santista é construir uma nova casa e parceria com a empresa W-Torre para acomodar pouco mais de 20 mil pessoas. Caso o projeto saia do papel, o time ficará afastado de Santos por um longo período, e o prejuízo técnico pode ser grande, como destaca Ademir Quintino.

“O Santos vai ter que mandar jogos fora e vai perder muito do percentual que tem dentro de casa. O Santos só não caiu para a segunda divisão nos anos 80, quando tinha times horrorosos, porque dentro da Vila o time tinha percentual entre 80 e 90%. A Vila Belmiro é fundamental para o Santos. A áurea, o espírito, o fato de as arquibancadas serem mais próximas do campo... A Vila é pequena sim, mas ganhar lá é complicado”, comenta Quintino.

Por diferentes motivos, Santos e o Santos são especiais. No final das contas, é ali, naquela pequena cidade e naquele pequeno estádio que está a história. Aliás, uma das mais belas e importantes história do planeta bola. Como disse o torcedor santista, a Vila é mágica. Um ambiente único para um clube único, que deveria ser visitado por todo apaixonado por futebol.

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