Equipe de Campinas era forte, mas o Timão, no comparativo, leva a melhor

Equipe de Campinas era forte, mas o Timão, no comparativo, leva a melhor

Já ouvi muitas histórias sobre a decisão do Campeonato Paulista de 1977.

Sou testemunha ocular dos dois primeiros jogos, e só não fui ao terceiro porque meu pai, zeloso, achou que a cidade poderia entrar em estado de guerra se o Corinthians não vencesse a Ponte Preta no duelo final, em 13 de outubro daquele ano, exatos 47 anos atrás.

Entre as lorotas que escuto, a primeira delas diz respeito à realização de todos os jogos na capital paulista, e que isso foi "arquitetado" pelo Corinthians, mais precisamente por seu saudoso presidente Vicente Matheus (1908-1997).

Sim, o Moisés Lucarelli poderia ter sido o palco do segundo jogo, em que pese sua acanhada capacidade de público, praticamente a metade do estádio do rival Guarani, mas o mandatário pontepretano, Lauro Moraes, percebeu que seria muito mais lucrativo ao clube campineiro que todos os jogos se realizassem no Morumbi.

A segunda partida, aliás, foi o recorde de público jamais superado do estádio são-paulino: 138.032 pagantes, com 146.082 no total.

Cai por terra, portanto, a "teoria conspiratória" corintiana, de que houve uma "armação" para cima da Ponte, afinal de contas, os mandos de todos os jogos finais eestavam a cargo da Federação Paulista de Futebol. Estava no regulamento, determinado desde o início do campeonato, quaisquer que fossem os postulantes ao título.

Todos saíram no lucro e, curiosamente, o segundo jogo, que em tese teria mando da Ponte Preta, foi vencido justamente por esta, contra a imensa maioria de torcedores do time de Parque São Jorge.

A outra falácia coloca em xeque a honestidade de um homem (já falecido), o árbitro da partida final, Dulcídio Wanderley Boschilia (1938-1998).

Ele soube, por fonte segura, de dentro da Federação Paulista de Futebol (revelou isso em entrevista à Revista Placar, oito anos depois da decisão do Paulista de 1977 e também no programa "Roda Viva", da TV Cultura), que Vicente Matheus, então presidente do Corinthians, havia pago a um homem que lhe garantiu que Dulcídio seria subornado para favorecer o Corinthians. O montante seria de 2 milhões de cruzeiros, que hoje seriam equivalentes a mais de 2 milhões de reais.

O dinheiro, que Matheus pagou ao "intermediário", nunca chegou às mãos de Boschilia.

"Juro que o cara-de-pau que me oferecesse suborno naquele jogo iria morrer", assegurou o ex-árbitro.

Resumindo: Vicente Matheus, em momento de fragilidade moral, pagou pelo suborno mas este não aconteceu. O dinheiro encontrou outro destino...

Aos 13 minutos do primeiro tempo do terceiro jogo, depois da vitória corintiana por 1 a 0 a primeira partida e os 2 a 1 de virada da Ponte na segunda, Rui Rei foi expulso, em um lance polêmico.

O atacante pontepretano gesticulou com uma marcação de Dulcídio, que teria alertado para que parasse de reclamar. Rui Rei seguiu reclamando e o xingou. Em seguida recebeu cartão vermelho.

Ah, então o Rui Rei estava "comprado"?

Muito se falou sobre isso também, ao que o próprio Rui Rei sempre desmentiu.

Ele chegou a ser contratado pelo Corinthians em 1978, permanecendo no Alvinegro até 1981, colocando mais "gasolina" na história.

Vicente Matheus, que o contratara, foi taxativo: "Eu jamais contrataria para o Corinthians um jogador que tivesse aceitado suborno", assegurou o dirigente.

Parece claro, não é?

Bom, mas vamos aos times, que é, afinal, o propósito máster desta matéria...

Outra coisa que se diz é que o time da Ponte Preta era superior ao do Corinthians.

Então, sem mais delongas, vamos aos titulares daquela reta final do Paulistão de 1977, não exatamente da final, uma vez que no terceiro jogo, tanto o Corinthians (sem Zé Eduardo) e a Ponte (sem Odirlei), ambos suspensos, jogaram com seus reservas imediatos.

EM NEGRITO, O VENCEDOR DO COMPARATIVO (PODENDO HAVER EMPATE)

Tobias x Carlos

Aqui vale uma informação pertinente. Oswaldo Brandão, treinador do Corinthians, adotou, em certo momento daquela temporada, um revezamento entre seus goleiros: Tobias (1949-2024) e Jairo (1946-2019). Nenhum deles, tecnicamente, era melhor que Carlos Roberto Gallo, que teve uma atuação brilhante no terceiro jogo da decisão de 77, impedindo pelo menos dois gols corintianos ainda na etapa inicial. Ele, depois, entre 1984 e 1988, defendeu a meta do Corinthians.  Portanto, nesta, vantagem da Ponte.

Zé Maria x Jair Picerni

O "Super Zé", reserva na Copa de 70 e titular na de 74, foi uma lateral-direito muito melhor que Jair Picerni, que compensou sua desvantagem em relação ao jogador corintiano com uma trajetória mais robusta e longeva como treinador. Mas, como aqui estamos analisando aquilo que fizeram dentro das quatro linhas, vantagem para o Corinthians.

Moisés x Oscar

O "xerifão" Moisés (1948-2008) era aquele zagueiro que, no "popular" da época, "batia da medalhinha para cima", tanto que ganhou o apelido de Moisés "Paulada". Não que Oscar fosse um Gamarra em termos de lisura, um candidato ao "Belfort Duarte"...

Mas, tecnicamente falando, Oscar Bernardi, titular da zaga brasileira na malfadada Copa de 1982, era superior a Moisés. Vitória da Ponte neste embate.

Zé Eduardo x Polozzi

O saudoso Zé Eduardo (1954-2017), cria do "Terrão", não disputou a final, como já supracitado, pois estava suspenso. Era um ótimo quarto-zagueiro, e embora Polozzi tenha tido mais visibilidade nacional, chegando à Seleção Brasileira, inclusive presente na delegação canarinho que foi à Copa de 1978, em termos técnicos não é possível dizer se um foi superior ao outro. Assim, ficamos no empate. Se o comparativo fosse entre Polozzi (o titular da Ponte) e Ademir Gonçalves (1946-2022), o reserva do Corinthians, aí a vantagem seria de Polozzi.

Wladimir x Odirlei

Wladimir, recordista de jogos pelo Corinthians, injustiçado na Seleção Brasileira, foi superior a Odirlei, em que pese o lateral pontepretano ser um dos melhores de sua geração. Vitória corintiana.

Russo x Vanderlei

Confronto absolutamente parelho. O saudoso Russo, o "Beijinho Doce" (1949-2012), um dos heróis corintianos na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976, marcando o tento de empate contra o Fluminense no Maracanã com maioria de corintianos, não era um craque, longe disso, mas cumpria bem seu papel como volante do Corinthians, o mesmo se aplica ao abnegado Vanderlei. Então, a exemplo da quarta-zaga, outro empate.

Aqui também vale uma observação. O apelido de José Carlos dos Santos (o Russo), era escrito desta forma mesmo, Russo, como você pode conferir em sua página na seção "Que Fim Levou?", clicando aqui. Tenho o autógrafo de Russo, que o escreveu desta forma...

Basílio x Marco Aurélio

Independente do gol redentor na decisão de 1977, o "Pé de Anjo" era um meia mais completo que o bom Marco Aurélio, que como treinador superou o oponente. Mas, como na lateral-direita, o que pesa aqui é o que fizeram como jogadores, então, vantagem para o alvinegro Basílio da camisa 8.

Palhinha x Dicá

Um dos duelos mais equilibrados, certamente. Apesar de ambos terem sidos os camisas 10 de seus respectivos times, Palhinha era mais ofensivo que Dicá, embora também fosse um jogador que poderia compor o meio-campo como homem mais adiantado. Dicá, extremamente técnico, tinha na bola parada o seu forte, o que ficou traumaticamente evidente para os corintianos no segundo jogo, quando fez o gol de empate, após o Alvinegro ter saído em vantagem com Vaguinho. Rui Rei marcou o tento da virada naquela partida. No "frigir dos ovos", com um repertório mais vasto, a escolha recai sobre Palhinha, que chegara ao Parque São Jorge a peso de ouro, vindo de uma trajetória espetacular pelo Cruzeiro. Por uma diferença não muito grande, vantagem de Palhinha em relação a Dicá.

Vaguinho x Lúcio

Ambos pontas natos, daqueles que pegavam a bola e rumavam à linha de fundo para o cruzamento. Bons dribladores, mas Vaguinho, além de melhor neste quesito, também marcava muitos gols. Corinthians melhor neste comparativo.

Geraldão x Rui Rei

Não apenas pela campanha espetacular na temporada de 1977, marcando gols decisivos, mas também pela continuidade de sua carreira (foi goleador vestindo a camisa do Sport Club Internacional depois), Geraldão "Manteiga" formou dupla formidável antes de chegar ao Parque São Jorge com Sócrates no Botafogo de Ribeirão Preto, reeditando a parceria no Corinthians a partir de 1978. Sim, Geraldão foi melhor que Rui Rei, sem dúvida.

Romeu Cambalhota x Tuta

Assim como Vaguinho, Romeu chegou ao Corinthians depois de ter brilhado no Atlético Mineiro, e notabilizou-se não apenas pelas efusivas comemorações com saltos mortais, — daí o apelido —, mas também pela velocidade, dribles e muitos gols marcados. Seu concorrente, Tuta, irmão do lateral corintiano Zé Maria, não tinha os mesmos dotes do mineiro. Triunfo do Alvinegro nesta.

E O RESULTADO?

Tirando os empates entre Zé Eduardo e Polozzi, e Russo e Vanderlei, o "placar" final ficou: Corinthians 7 x 2 Ponte Preta.

Uma goleada, contrariando aqueles que se referem à Ponte como um time superior ao Corinthians naquele ano.

O Alvinegro, no "mano a mano" era, de fato, bem melhor que a Ponte Preta.

E OS TREINADORES...

Além do mais, se levarmos em consideração os treinadores, também há ampla vantagem do Corinthians, entre os saudosos Oswaldo Brandão (1916-1989) e Zé Duarte (1935-2004). Brandão, não apenas figura como um dos mais importantes da história do Alvinegro, mas também do Palmeiras.

De qualquer forma, vale ressaltar que Zé Duarte teve um papel importante não apenas na formação daquela Ponte Preta, como também mais tarde, quando treinou a Seleção Brasileira Feminina de Futebol, quando esta terminou como a terceira colocada no Mundial de 1999 e ainda chegou às semi-finais dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996.

BÔNUS...

Ainda poderia fazer uma comparação entre os presidentes dos clubes: Vicente Matheus, do Corinthians, e Lauro Moraes, da Ponte Preta.

Aqui, com todo respeito ao mandatário pontepretano, a trajetória de Matheus foi amplamente superior.

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