Confira a história do CSE

Confira a história do CSE

Por Leandro Paulo Bernardo*

Em 1921, com o pseudônimo de J.Calisto, Graciliano Ramos escrevia as primeiras crônicas dele para o jornal ‘O Índio’, em Palmeira dos Índios, em Alagoas. Tendo uma coluna, “Traços ao esmo”, certa vez descreveu a tentativa de introduzir o futebol no Brasil.

“O futebol não pega, tenham a certeza. Não vale o argumento de que ele tem ganho terreno nas capitais de importância. Não confundamos. As grandes cidades estão no litoral; isto aqui é diferente, é sertão”.

Seis anos depois, Graciliano tornou-se o prefeito de Palmeira dos Índios, cidade conhecida como “Princesa do Sertão”. Mas a profecia não teve força na cidade, especialmente a partir do dia 21 de junho de 1947, quando ocorreu a fundação oficial de um clube que já estava se organizando havia dois anos: o Centro Social Esportivo, o CSE. Alguns historiadores da cidade, entretanto, afirmam que o clube foi registrado na Federação Alagoana de Futebol no dia 19 de abril de 1947.

As cores escolhidas foram as mesmas do Fluminense (para homenagear um dos fundadores, que era torcedor do Tricolor carioca) e o mascote foi o Índio Xucuru em referência aos povos indígenas que habitaram a região de Palmeira dos Índios.

O clube já havia recebido até uma doação do terreno para construir um estádio, que nos primeiros anos se chamava Edson Amaro – um bancário mineiro que doou o terreno. Em 1976, foi rebatizado com o nome atual: Juca Sampaio.

Durante 19 anos, o clube jogou amistosos pelo interior do Nordeste. Entre 1949 e 1952, ficou invicto nos amistosos. Em 1952, o clube contratou a primeira grande estrela, Oseas, ex-atacante e herói do último Campeonato Pernambucano conquistado pelo América de Recife (clube adorado por João Cabral de Melo Neto). Com Oseas brilhando com a camisa sete, o tricolor conquistou o primeiro troféu oficial, a Taça Emerentino Costa, ao derrotar o Ypiranga da cidade de Pão de Acúcar.

Durante a década de 1950, José Soares (um ex-oficial da Marinha que atuava no teatro amador e era o palhaço do circo da cidade) ocupou o cargo de segundo tesoureiro do clube. Anos depois, ele iniciou uma longa carreira no cinema e na televisão, já com o nome artístico de Jofre Soares. Como coincidência seu primeiro papel no cinema foi justamente na adaptação de “Vidas Secas”, livro de Graciliano Ramos.

A estreia na primeira divisão do Campeonato Alagoano ocorreu apenas em 1966, ficando inclusive na terceira colocação. Nos primeiros anos, alimentou uma rivalidade regional com o ASA e o Capelense. Em 1977, venceu o primeiro turno do Campeonato Alagoano e decidiu o título com o CRB, vencedor do segundo e terceiro turnos. Perdeu o título, mas começava ali a tentativa de ser a quarta força do estado.

Em 1986, o clube entrou para a história do futebol brasileiro (se alguém souber de algo parecido, prove-me). O clube inaugurou o sistema de iluminação no dia 27 de julho. No primeiro jogo noturno, perdeu para o Treze por 2 a 1. Na semana seguinte, a busca pela primeira vitória a noite seria contra o Atlético de Alagoinhas, no dia 2 de agosto.

Com um público eufórico de 1.200 pagantes, a partida começou perto da meia-noite – recorde absoluto de partida mais tardia ocorrida no país. O fato ocorreu devido a um erro do motorista do ônibus do clube baiano, que passou direto por Palmeira dos Índios e quase chegou no extremo oeste de Alagoas.

O presidente do clube naquele ano, Amilton Didier, garantiu aquele jogo com a simples filosofia: “Temos tempo, temos refletores, teremos jogo”. O CSE venceu por dois a zero, com o término da partida por volta das 2h da madrugada.

Em 1987, o CSE venceu o primeiro turno contra o rival ASA em Arapiraca após penalidades. Decidiu novamente o Campeonato Alagoano contra o CRB e mais uma vez ficou com o vice.

Em 1988 teve pela única vez o artilheiro do Campeonato Alagoano: o lateral Ivanildo Capela, com 18 gols.

Oscilou muito nos anos seguintes e passou por uma grave crise financeira. Foi rebaixado pela primeira vez em 1996, amargando a lanterna, após duas vitórias, seis empates, 14 derrotas e saldo negativo de 29 gols.

No dia 7 de maio de 1997, o CSE mudou de nome: de Centro Social Esportivo para Clube Sociedade Esportiva. A medida foi tomada pelos dirigentes para livrar a agremiação das dívidas com o INSS e outros credores. O estádio Juca Sampaio foi doado à Prefeitura de Palmeira dos Índios para não ser confiscado.

O CSE voltou à divisão especial apenas em 2003, depois de conquistar a única competição oficial: a segunda divisão estadual. Mas como o número sete parece ser místico na vida do CSE, após uma má campanha no estadual de 2007, o tricolor palmeirense foi rebaixado novamente.

Retornou para a primeira divisão alagoana em 2009, sempre com campanhas fracas. Inclusive, nas edições de 2016 e 2017, escapou do rebaixamento na última rodada do “quadrangular da morte”.

Em 2012, fez a contratação mais chamativa da história, o atacante Túlio Maravilha. Com 42 anos e na busca pelo milésimo gol, o atacante vestiu a mística camisa sete. No contrato com o CSE constava que quando faltassem sete gols para chegar ao de número mil, o atacante estaria liberado do time alagoano.

Na primeira partida balançou as redes cinco vezes na goleada por 8 a 0 sobre a seleção de Quebrangulo (cidade natal de Graciliano Ramos). Túlio estreou em competições oficiais no dia a 15 de janeiro. marcando um gol na vitória do CSE por 2 a 0 contra o Coruripe, naquele dia quase quatro mil pagantes estiveram no Juca Sampaio – maior público dos últimos 30 anos.

No segundo jogo dele pelo CSE, marcou um gol na derrota por 2 a 1 para o CSA no estádio Rei Pelé. Nessa partida ocorreu outro fato inusitado. O presidente do CSE, Antônio Oliveira (torcedor declarado do Botafogo e que o contratou), também é radialista e narrou essa partida, inclusive o gol do Túlio.

Túlio encerrou a passagem pelo CSE marcando dez gols (três deles em jogos oficiais e sete em amistosos). Ficaram faltando 15 para o milésimo. A média de público do CSE foi o dobro da média dos últimos dez anos. Em 2013, o presidente Antônio Oliveira aposentou a camisa sete como homenagem ao atacante, que estava prestes a marcar o milésimo gol.

O clube continua batalhando, sem títulos e destaque no cenário nacional, embora seja uma referência no handebol nordestino. Como o numeral sete persegue o clube, talvez a profecia de Graciliano Ramos acabe em 2027 – quando completará 100 anos da sua vitória na eleição municipal. O futebol, porém, deu certo naquele sertão alagoano… só falta um título.

* Leandro Paulo Bernardo – Cirurgião-Dentista, apaixonado por futebol, literatura e música desde os quatro anos, e com o coração dividido entre o Santa Cruz e a Portuguesa

 

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