Se você nunca viveu esta cena, parabéns: é um privilegiado. Caso contrário, deve lembrar-se bem dos passos. O chefe o chama em uma sala pequena e, com um papel em cima da mesa, comunica: está despedido. Como você voltou para casa no dia em que foi demitido? Medo, dúvidas, decepção. O chão se abre sob os pés, pois não há nada mais sagrado na vida do que o trabalho, do que obter dignamente o sustento da sua família. Primeira coluna e você falando de desemprego? Não. Falo de futebol.
Imagine que essa terrível sensação é quase rotineira para uma classe inteira de profissionais. São pessoas que acalentam um sonho muitas vezes de infância; buscam formação e experiência para chegar ao Santo Graal: trabalhar em um grande clube e ser campeão. Esses são os treinadores, homens e mulheres como eu e você. Sonhadores, batalhadores, na maioria das vezes muito competentes. Os maus resultados, as dificuldades de gestão, salários atrasados, logísticas mal pensadas, decisões polêmicas de um árbitro... e tudo acabado.
Uma sequência mais dura de jogos e nós, da imprensa, torcedores, conselheiros e outros começamos um profundo processo de linchamento lento e gradual. “Fulano é isso! É aquilo! Treina mal! Não tem esquema! O time não tem padrão. Perdeu o vestiário”. Imagine, se você fosse o alvo destas críticas, dia após dia, no Rádio e na Televisão? Qual seria a sua reação? Qual seria a sua sensação? Nós, comentaristas, produzimos isso. Você, torcedor, produz isso.
Com esses argumentos, muitas vezes insensatos, injustos, subjetivos e desumanos, acontece o bilhete azul. O clube que escolheu há poucos meses sua cabeça pensante, a poucas horas da estreia no maior campeonato do país, abre mão de seu líder. Sonho desfeito, trabalho interrompido. Pior que isso: o prejuízo à entidade da qual você fazia parte. Assim foi com Zé Ricardo, no Botafogo, Maurício Barbieri, no Goiás, com Alberto Valentim, no Vasco da Gama, Lisca, no Ceará.
O prezado leitor pode argumentar: “Eles ganham muito dinheiro. Estão preparados para isso”. E eu rebato: este texto não tem intenção de elevar razões econômicas. Fala de brio, do envolvimento de uma pessoa e de uma família com o dia a dia de uma agremiação. A rotina que envolve paixão e dedicação de horas, dias. São viagens, noites mal dormidas, saúde descuidada, em prol da construção de uma história vencedora com um grupo de jogadores, colegas de comissão, roupeiros... enfim, do ecossistema de um clube.
Quando um treinador vai embora, todo o sistema quebra. E vem outro, que precisará de tempo para construir o seu universo, com seus valores. Outro sonhador, que pensa não apenas nos cifrões, mas naquilo que pode deixar para a história da maior alegria da nação: o maiúsculo Futebol. Como criar encantamento com o jogo? Como vencer e convencer novos garotinhos a vestir a camisa daquele clube? Não é só Futebol.
Começa o Brasileirão, o réveillon futebolístico! Vinte clubes, mais de 600 guerreiros em campo. Vinte treinadores iniciaram nesse fim de semana a caminhada. Quantos terminarão? Só o tempo irá dizer. Deixo-lhe esta reflexão: E se um desses técnicos fosse você?
Estreia
Aqui escrevo o meu primeiro texto para o Terceiro Tempo. Marca que embalou sonhos de um adolescente que um dia determinou que seria narrador esportivo e trabalharia com seus ídolos. Milton Neves é um dos profissionais que inspiram gerações e que, com a sua história, comprova que é possível realizar, construir uma marca e deixar um legado.
Assim, quero agradeço a um dos maiores gênios da história do rádio, por ceder um pouco do seu iluminado espaço a esse narrador esportivo. O mesmo se estende a sua competente e atenciosa equipe. Aqui trarei uma espécie de diário, com o nosso olhar das coisas do esporte.
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