Talvez o próprio Novak Djokovic estivesse começando a acreditar que a idade era só um detalhe que afligia os seres humanos normais, algo que ele não é. Sofrer uma grave lesão no menisco do joelho direito em Roland Garros, passar por cirurgia e um mês e meio depois ganhar a medalha de ouro na Olimpíada de Paris/2024, aos 37 anos e 74 dias, comprovou que ele veio do mesmo planeta de Pelé, Maria Esther Bueno e outros gênios do esporte. Mas 2025 está mostrando que até para ele o tempo passa.
Quem sabe a dedicação rigorosa aos treinos, seu incomparável poder mental e a alimentação planejada – à base de vegetais, sem glúten e livre de açúcar e processados – tenham dado ao seu corpo atlético de 1,88m e 77 quilos a ilusória sensação da eterna juventude. Ao fazer 38 anos, em 22 de maio, ele respondeu, sorrindo, que ainda não pensava em se aposentar, pois sentia que podia vencer qualquer tenista da nova geração.
Bem, a temporada está mostrando que Djoko pode mesmo vencer a quase todos e sua ambição de chegar ao histórico 25º título de simples em Grand Slams continua possível, porém um pouco mais distante. Além do passar do tempo, que diminui reflexos, cansa os músculos e reduz o fôlego e a confiança, há dois motivos que tornam o sonho menos provável: o espanhol Carlos Alcaraz e, principalmente, o italiano Jannik Sinner, dupla que já vem sendo chamada de Big Two.
O descontraído e elástico Alcaraz (5 de maio de 2003), de 22 anos, 1,83m e 74 quilos, já conquistou cinco títulos de Grand Slam, marca que Djokovic só alcançou a três meses e 23 dias de completar 25 anos. Além disso o espanhol chegou a liderar o ranking mundial aos 19 anos, quatro meses e seis dias, um recorde no tênis masculino. Alcaraz perde no confronto direto com o sérvio (3 a 5), mas é o segundo no ranking mundial, quatro posições à frente de Djokovic, a quem derrotou nas finais de Wimbledon de 2023 e 2024.
O maior obstáculo aos sonhos do sérvio de novos e retumbantes recordes, entretanto, é mesmo o esguio e atlético italiano Jannik Sinner (16 de agosto de 2001), de 23 anos, 1,91m, 77 quilos, que com técnica e maturidade surpreendentes já conquistou quatro títulos de Grand Slam e lidera o ranking mundial há um ano e um mês. Sinner também é o único jogador em atividade que após dez confrontos mantém um saldo positivo contra Djokovic (6 a 4).
Para seus fãs, Djokovic é o “Goat”, sigla em Inglês que significa “Greatest of all time" (o maior de todos os tempos), mas pela expressão sofrida com que enfrentou e perdeu em três sets para Sinner na final de Wimbledon, semana passada, confirma-se que também no tênis as hierarquias não são imutáveis e o novo sempre vem. Assim como superou Roger Federer e Rafael Nadal, ao menos em números, Djokovic luta para não se tornar coadjuvante de Sinner e Alcaraz, o que parece impossível
De qualquer forma, caso opere outro milagre e vença mais um Slam, o sérvio não só se tornará o único tenista a obter 25 títulos em simples, desempatando, só nesta categoria, a disputa com Margaret Smith Court – australiana que entre 1960 e 1975 ganhou 64 títulos de Slams, sendo 24 de simples, 19 de duplas e 21 de duplas mistas – Djokovic também se tornará o jogador mais velho, ou menos jovem, a vencer um major. Hoje essa marca é de outro australiano, Ken Rosewall, que em 1972 conquistou o seu quarto Australian Open com 37 anos e dois meses.